A Caminho do Apocalipse - 14

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3

Capítulo 14

Com este capítulo fecha-se o terceiro grande parêntese deste Livro que contém três capítulos. No 12° vimos o diabo enfurecido contra o Senhor Jesus e a Sua nação de origem – Israel; no 13° o surgimento das duas terríveis “bestas” que causarão grande flagelo àqueles que não as seguirem, e agora, neste capítulo, se desenrolam sete cenas que nos revelam os caminhos de Deus contra a malignidade da trindade satânica que vimos nos dois capítulos anteriores.

PRIMEIRA CENA (vs. 1 a 5) – Diz João: “Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião” (v. 1). Deve ter sido um enorme regozijo para João ao contemplar essa magnífica visão do Senhor Jesus, após ter contemplado a monstruosa tríade diabólica. O Senhor está em pé sobre o monte Sião, aqui na Terra, em Jerusalém, onde outrora foi o poder central do reino de Israel (2 Samuel 5:7). Esta cena é uma prévia da que veremos no momento em que o Senhor Jesus estabelecerá o Seu reino milenar. Este é o verdadeiro Cordeiro, e não aquela abominável criatura que vimos no capítulo anterior que se faz passar pelo Messias.

Com Ele estão os mesmos 144.000 israelitas que vimos no capítulo 7:1-8. Incólumes, apesar de terem passado por uma aterrorizante tribulação. O diabo e suas duas bestas não conseguirão tocar em um único fio de seus cabelos, pois em suas frontes estarão gravados os nomes do Senhor Jesus e o do Seu Pai (v. 1). Enorme equívoco fazem aqueles que afirmam que estes judeus convertidos representam a Igreja de Deus, pois, como já vimos ao longo desta série de crônicas, a igreja será arrebatada antes desse período.

A seguir João ouve uma poderosa voz vinda do Céu (v. 2) que confirma que esta cena está a ocorrer na Terra. A Terra e o Céu estão em comunicação audível. Somente os 144.000 conseguirão aprender esse novo cântico aqui na Terra (v. 3), que será entoado no Céu por aqueles, segundo sugestão de J. Allen, que se converterão no período da tribulação, por certo frutos do testemunho desses 144.000 ao longo dos sete anos de tribulação face à proteção divina que impedirá os furiosos ataques do diabo ao longo desse período. Diz, ainda, J. Allen: “João está ouvindo o grupo que ele verá em pé sobre o mar de vidro no capitulo 15:1-4... Um grupo está no Céu, deu a sua vida pelo Cordeiro, o outro grupo, na Terra, sofreu e foi preservado para o Cordeiro. Ambos se unem num cântico”.

Segundo William MacDonald, esses 144.000 são chamados por Pentecost “como as primícias para Deus e para o Cordeiro, ou seja, trata-se da primeira colheita do período de tribulação que entrará no milênio para encher a terra milenar”. Eles se guardarão de toda e qualquer imoralidade e idolatria. Não aceitarão as mentiras das duas “bestas” e se mostrarão irrepreensíveis quanto ao testemunho acerca do Senhor Jesus (vs. 4-5).

SEGUNDA CENA (vs. 6-7) – Eis que surge o primeiro anjo dos seis contidos neste capítulo. Os três primeiros surgirão antes da aparição do Senhor, e os outros três subsequentemente. Este anjo traz consigo o Evangelho eterno a ser pregado durante o período da tribulação para toda a humanidade (v. 6). Esteja certo, meu caro leitor, se juntarmos todos os comentários sobre o que seria esse Evangelho formaríamos uma imensa pilha em virtude de tantas controvérsias. Sabemos que o Evangelho, a boa-nova de Deus, é único, que revela a coisa mais importante para este mundo incrédulo: a Salvação por meio da fé no Senhor Jesus Cristo. O Evangelho, em si, é eterno, por sempre apresentar o Criador querendo abençoar a Sua criatura.

No entanto, como diz William Mac Donald, o Evangelho pode apresentar ênfases distintas em diferentes dispensações. Durante a grande tribulação o Evangelho buscará afastar as pessoas da adoração à “besta” a fim de resgatá-las para o reino de Deus (v. 7). Certamente esse Evangelho eterno tem tudo a ver com aquele mencionado pelo Senhor Jesus: "E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim" (Mateus 24:14)..

Lembre-se, caro leitor, o conteúdo de Mateus 24 e 25 é iminentemente profético e diz respeito ao período da tribulação e a vinda do Senhor Jesus para estabelecer o Seu reino milenar. Atualmente a ênfase dada é a anunciação da graça de Deus através do sacrifício do Senhor Jesus na cruz, por isso é chamado de o Evangelho da Graça, ao passo que na tribulação o foco será a vinda do Seu reino, por isso o Senhor Jesus mencionou como o Evangelho do Reino. O Evangelho é absolutamente o mesmo em todas as eras porque ele é eterno, apenas o realce será evidenciado. Hoje é o da Graça, em breve o do Reino.

TERCEIRA CENA (v. 8) – Segue-se outro anjo, o segundo desta série, trazendo a mensagem:

“Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição”. Nos capítulos 17 a 18 analisaremos os detalhes acerca do significado e feitos dessa grande meretriz que será introduzida pelas “bestas”, mas que sucumbirá para alegria e triunfo nos céus. Esses capítulos apresentam a Babilônia religiosa (17) e a comercial (18). A religiosa certamente será constituída pelo judaísmo e a cristandade apóstata, formada tanto por católicos e evangélicos, cujas raízes já foram lançadas desde o século passado através do movimento ecumênico, por sinal conspícuo, ou seja, atraente para grande parte da cristandade.

QUARTA CENA (vs. 9-11) – A mensagem que será trazida pelo terceiro anjo será sobremodo terrível. Aqueles que se permitirem “embriagar” com a fúria do vinho da prostituição religiosa babilônica se prostrarão em adoração à imagem da “besta” e carregarão em seus corpos a sua marca identificadora vista no capítulo anterior. Por conta disso, eles estarão sob a ira de Deus e experimentarão o vinho da Sua cólera que será derramado sobre suas cabeças conforme veremos nos capítulos 15 e 16, que descrevem sobre as sete taças cheias das últimas pragas a serem lançadas sobre a Terra.

Realmente há uma horrível expectação! Essas pessoas serão atormentadas pelo fogo e enxofre, seus tormentos serão intermináveis – pelos séculos dos séculos – não haverá descanso diuturnamente. A palavra “atormentado” no original –“bazaniso” – é muito mais terrível do que “adunao” que é usada para descrever os tormentos do “rico” em Lucas 16:24. A expressão aqui usada dá a ideia de uma dor sem fim e nenhum alívio. Diz J. Allen: “Ela é equivalente à expressão “fogo que nunca se apagará” usada por Cristo (Mateus 3:12; Lucas 3:17)”. Em nenhum momento é dito que os incrédulos serão aniquilados após a morte, seus sofrimentos serão perpétuos.

Valho-me em Deus, meu caro leitor, que desde agora me livra de passar pela grande tribulação e dessa ira vindoura (1 Tessalonicenses 1:10; 5:9). Não por alguma obra que eu tenha feito, mas por aquilo que o Senhor Jesus fez para todos nós. Espero que esta seja a sua idêntica certeza e confiança.

QUINTA CENA (vs. 12-13) – Após essas angustiantes revelações João escreve:“Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (v 12). Aqueles que naquele período perseverarem até o fim serão salvos, conforme Mateus 24:13. Entendamos aqui como a salvação física para entrar no reino milenar do Senhor Jesus. Já houve quem exclamasse diante desta cena: “Seria melhor sofrer a morte física sob o domínio da “besta” do que compartilhar com ele a morte eterna”. Acerca disso disse Jesus: “Não temais os que podem matar o corpo e não podem matar a alma; temeis antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma” (Mateus 10:28).

Em seguida vemos uma mensagem divina vinda diretamente do Céu, sem a intermediação de um anjo: “Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham” (v. 13). Esta é a segunda bem-aventurança que lemos neste Livro. Os cristãos convertidos ao longo da tribulação não serão privados das bênçãos dos céus e do reino milenar. Mais uma vez confirma-se que tudo aquilo que é feito para o Senhor Jesus será recompensado. Estes morrerão por causa da violenta perseguição da “besta”. Aqueles que os condenarão o farão por julgarem que eles serão merecedores da morte por causa da fé que trazem, mas no Céu, para onde irão as suas almas, serão considerados “bem-aventurados”. Os adoradores da “besta” jamais descansarão dos seus tormentos, por sua vez estes descansarão das suas fadigas para todo o sempre.

SEXTA CENA (vs. 14-16) – Esta e a próxima cena são bastante controversas. Vemos em ambas duas figuras de linguagem: a ceifa (colheita de cereais) e a vindima (colheita de uvas). Muito se tem debatido se a “ceifa” que vemos citada neste trecho (vs. 14-16) se refere à bênção para os justos ou o juízo para os ímpios.

William Kelly transmite sua interpretação a respeito: “Em resumo, temos nestas duas cenas – a ceifa (vs. 14-16) e a vindima (vs. 17-20) – as duas grandes formas do juízo final; sendo a ceifa o julgamento em que o justo será separado do malfeitor, e a vindima o tombar da cólera sobre uma religião apóstata”. Por outro lado, William MacDonald não fecha questão a esse respeito. Ele entende que a primeira ceifa “pode” retratar a reunião dos cristãos convertidos na tribulação para entrarem no milênio, correspondendo aos “filhos do reino” nas parábolas do reino contidas em Mateus 13, mas é possível que seja uma “ceifa” para julgamento.

Portanto, a interpretação dada por R. David Jones afasta as possíveis dúvidas: "A colheita é frequentemente usada como o símbolo do fim de um período de tempo, quando o povo é reunido para ser julgado, como na parábola do joio e do trigo (Mateus 13.24-30). Temos aqui a proclamação da ordem dada por Deus a Cristo para que Ele pessoalmente ponha um fim aos "tempos dos gentios", saindo para julgar as nações. Ele obedece imediatamente. Tendo sido o Semeador da boa semente (Mateus 13.37) é apropriado que Ele seja o Ceifeiro também, com os Seus anjos (Mateus 13.39)”.

Ao contemplarmos esta sexta cena, vemos João tendo a visão do Senhor Jesus vindo entre as nuvens para ceifar a terra, e a terra será ceifada. A ordem transmitida do Trono de Deus é incisiva: “chegou a hora de ceifar... a seara da terra já secou”.  O tempo para a colheita estará determinado, a Terra terá que ser limpa de tudo de ruim que foi semeado pelo diabo, antes que seja estabelecido o reino milenar do Senhor Jesus.

Esta ceifa nos remete à separação contida na parábola do joio em Mateus 13:30..."Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro". Para um melhor entendimento não deixe de ler a explicação dada pelo Senhor Jesus acerca dessa parábola em Mateus 13:35-43. O “trigo” representa os que entrarão no Seu reino milenar, o “joio” aqueles que parecem ser de Cristo, mas não são, irão para tormentos eternos (Apocalipse 20:15).

SÉTIMA CENA (vs. 17-20) – Por sua vez, a colheita das uvas nos fala de um terrível juízo. A videira é o símbolo de Israel nas Escrituras (Isaías 5:1-7; Jeremias 2:21, 6:9). É chegada a hora de Israel, a colheita não pode ser adiada. Israel se tornou em "uvas bravas" na medida em que recebeu “o falso profeta” como o seu Messias. Não fazem parte da videira verdadeira que é o Senhor Jesus (João 15:5-6). Como vemos na parábola dos lavradores maus o Dono da vinha os exterminará (Marcos 12:9). Nesta cena vemos a chegada deste momento.

O resultado dessa colheita lemos nos versículos 19 e 20. O anjo colherá os "frutos" dessa falsa videira e os lançará no grande lagar do furor da ira de Deus, que simboliza um tanque em que serão esmagados. Este é o lagar que veremos em Apocalipse 19.15. Diz R. David Jones acerca disso: "Mediante a profecia de Isaías 63 temos uma descrição da participação nela do Senhor Jesus. Esse lagar abrangerá toda a terra de Israel, indo ao sul até Edom e Bozra (Jordânia). Tão grande será o morticínio que o sangue subirá a uma altura de 1,2 m nos vales, por 320 km. Será a ocasião quando a terra se embriagará de sangue (Isaías 34.7-8)". A revelação é clara, o julgamento será radical. Todo e qualquer vestígio de hostilidade contra Deus será sumariamente exterminado.

Este parêntese se encerra revelando esse trágico acontecimento. Para seu conforto, prezado leitor, atente para o que diz Paulo em 1 Tessalonicenses 1:10. Aqueles que verdadeiramente creem em Deus aguardam a vinda do Seu Filho, a Quem Ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra da ira vindoura. Que esta seja a sua certeza. Permita Deus que assim seja!

autor: José Carlos Jacintho de Campos.