A Caminho do Apocalipse - 13 (2)

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3

Capítulo 13 (2)

Antes ainda de entrarmos nos comentários acerca dessas duas nefandas personagens – as duas bestas em Apocalipse 13 – convém avaliarmos algumas distorções que são feitas no entorno delas as quais têm levado muitos a um entendimento equivocado e isso tem promovido grande descrédito ao conteúdo deste notável Livro, transformando-o em uma mera obra de ficção, ou mito, como alguns gostam de afirmar. É incrível como vários escritores, por sinal bastante famosos, geram uma enormidade de ideias fantasiosas acerca deste capítulo que não se coadunam em nada com as revelações contidas nas Sagradas Escrituras.

Como sabemos, e nesta série de crônicas estou a reiterar com a necessária insistência, o arrebatamento da igreja de Deus, ou seja, daqueles que realmente são autênticos cristãos independentemente do contexto denominacional ou segmento que pertençam, ocorrerá antes do período da grande tribulação e, portanto, antecederá à manifestação dessas duas bestas que tradicionalmentesão identificadas como o anticristo e o seu profeta. Todavia, comete-se um grande equívoco ao asseverarem que a revelação dessas duas criaturas se dará sem permeio logo após a esse acontecimento. Não há nenhum indício acerca desse imediatismo nas Escrituras. Sem dúvida, ambas surgirão após o arrebatamento, mas não há nenhuma evidência quanto ao tempo exato a decorrer para essa aparição.

Para confirmar essa minha afirmação, respaldo-me em 2 Tessalonicenses 2:1-12, quando Paulo esclarecia aos cristãos daquela localidade acerca do mal-entendido que havia a respeito da vinda do Senhor Jesus para buscá-los (v. 1), com o “dia do Senhor” que eles pensavam já estar vivenciando, por certo em virtude da grande perseguição que estavam a sofrer (v. 2). Era preciso corrigir esse equívoco. O “dia do Senhor”, não o “arrebatamento”, se dará com o surgimento da apostasia e a revelação do homem da iniquidade, o filho da perdição (v. 3). Paulo deixa claríssimo que esse iníquo será “revelado somente em ocasião própria” (v. 6), não fixando, portanto, que o seu surgimento será deimediato ao “rapto” da igreja de Deus, como alguns têm afirmado.

Esse pensamento imediatista tem propiciado, talvez propositalmente, um sem número de edições de livros, filmes e artigos a esse respeito, fazendo com que as pessoas fiquem atentas à chegada do provável “anticristo” ao mundo, a fim de saberem da proximidade do arrebatamento da igreja. Isso tem sido completamente infrutífero, uma enorme perda de tempo, pois o arrebatamento da igreja independe totalmente do surgimento desse trágico personagem, ou se ele já está pronto para assumir a liderança deste mundo rebelde a Deus.

Nunca é demais repetir que as duas bestas que surgirão são seres humanos comuns, não são deuses. Por certo, naturalmente dotadas de grande capacidade intelectual em suas áreas de atuação, “qualidades” essas que serão aproveitadas pelo seu gestor – o diabo –, mas certamente isso levará um considerável tempo até elas serem investidas em suas respectivas funções. A primeira terá que assumir o comando das nações e para isso deverá demonstrar imensa capacidade de liderança e trazer soluções eficazes para os graves problemas que cada vez mais se exacerbam neste mundo globalizado em termos políticos e, principalmente, econômicos. A segunda terá a dificílima tarefa de convencer Israel que é o Messias prometido e aglutinar em torno de si todas as religiões existentes à época, como não será coisa nada fácil ela irá operar grandes sinais segundo a eficácia de Satanás (2 Tessalonicenses 2:9). Essas coisas não acontecerão do dia para noite. Convém salientar que das duas bestas que virão, somente a segunda operará grandes sinais miraculosos e que certamente levarão muitos ao engano.

Portanto, esteja absolutamente convicto, prezado leitor, que o arrebatamento dos convertidos a Deus continua sendo iminente e poderá ocorrer a qualquer momento, no tempo estabelecido por Deus, cujo dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, somente Ele. Assim sendo, não está predeterminado na Palavra de Deus que será no dia seguinte ao arrebatamento que essas duas bestas se manifestarão, ou então, que o arrebatamento não ocorrerá até que as duas bestas estejam capacitadas. Isso é ficção, não é revelação.

Conforme já vimos, Jesus Cristo deixou expressamente revelado que Ele voltará para levar consigo aqueles que são Seus (João 14:1-3). Dentro dessa premissa, divinamente inspirado, Paulo deixou revelado como isso se dará: "Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos [morreremos], mas transformados seremos todos, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta...” (1 Coríntios 15:51-52); "Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus [no céu], descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor" (1 Tessalonicenses 4:16-17, leia também Filipenses 3:20-21).

Observe, caro leitor, atentamente para a expressão “momento”. No original grego(atomos) ela tem o significado de “um átimo de tempo”, ou seja, algo tão rápido como a mais curta fração de tempo possível. Portanto, esse acontecimento não será perceptível aos olhos humanos como se têm propalado, o “rapto” será tão instantâneo que as pessoas nem se darão conta disso, a não ser a posterior ausência daqueles que foram arrebatados. O seu ruído será semelhante a um piscar de olhos, por conseguinte inaudível aos ouvidos humanos. É esta a interpretação que deve ser dada a esse extraordinário acontecimento.

É impressionante o imaginário que se dá acerca desse evento. Cria-se uma enorme fantasia que o mundo contemplará a subida daqueles que serão arrebatados como se fosse uma imensa procissão para o encontro com o Senhor Jesus nos ares, entre nuvens. O pior, que todos estariam desnudos, pois as suas roupas e objetos pessoais aqui ficariam por ocasião dessa ocorrência. Pura ficção, a Palavra de Deus não dá nenhum indício acerca das circunstâncias dos pertences pessoais dos arrebatados. Como diz Paulo na introdução a esse assunto, este fenômeno é um mistério e não nos cabe especular sobre isso.

A esse respeito, escreve Ronaldo E. Watterson: “A nossa transformação, por ocasião do arrebatamento, será tão “repentina” que ninguém a verá. Acontecerá “num momento”, num abrir e fechar de olhos. Os cristãos naquele dia deixarão a Terra e, num piscar de olhos, estarão com o Senhor. A rapidez incrível deste arrebatamento fará com que ninguém o possa ver. Mesmo se o momento exato fosse avisado, seria rápido demais para o olho humano ver. E acontecerá sem aviso!”.

Recentemente assisti a um documentário apocalíptico cujos autores apresentavam uma situação catastrófica pós-arrebatamento puramente fictícia, pois as Escrituras se calam a esse respeito. Aviões caindo, veículos em desenfreadas colisões, trens descarrilando, navios afundando, o caos generalizado, saques a supermercados, atos de violência de toda sorte etc. Todavia, não há nenhuma evidência bíblica acerca disso. Não devemos dar asas à imaginação a fim de não transformar a revelação divina em um engodo. Os acontecimentos imediatos ao arrebatamento são de conhecimento exclusivo de Deus, isto nos basta.

Provavelmente, meu caro leitor, você poderá estar a indagar: “O arrebatamento de uma enorme quantidade de pessoas certamente causará um grande impacto na humanidade incrédula”. Apesar da sua lógica, há que se fazer uma avaliação que quantidade será essa diante da perspectiva de um mundo que, segundo dados estatísticos atuais, está a ultrapassar sete bilhões de seres humanos.

Segundo esses mesmos dados, desses sete bilhões, somente dois bilhões são tidos como “cristãos”. Desses dois bilhões, mais de um bilhão de pessoas se declaram católicas romanas, o outro bilhão é identificado como de outros segmentos, dentre estes os tidos como “evangélicos”. Conforme vimos nesta série, mais propriamente no Capítulo 3, os cristãos autênticos ao final desta dispensação formarão um remanescente fiel, portanto a imensa maioria será de cristãos nominais que fazem parte de um movimento religioso meramente institucionalizado, onde, como em nossos dias, o Evangelho é apresentado sob um aspecto atraente e emocional, ou como complemento a uma obra social. Vivemos dias em que a “mistura” tornou-se uma lamentável realidade no cristianismo, em vez da mensagem do Evangelho de “Cristo para o mundo”, o inverso tem sido verdadeiro, qual seja, “o mundo para Cristo”. Reflita sobre esta sutil diferença!

Portanto, qual será a quantidade de arrebatados? Não podemos cometer a imprudência de quantificá-los, pois não nos cabe julgar a fé de ninguém. Todavia, partindo-se do princípio que haverá somente um remanescente, ao se comparar com os sete bilhões de habitantes, em termos percentuais deverá ser algo depois da vírgula que não irá ocasionar um tremendo caos conforme estão a propalar. Por certo haverá inúmeras justificativas por parte dos órgãos oficiais acerca desse repentino sumiço e as pessoas deverão ficar satisfeitas com as explicações, até mesmo científicas, que serão dadas. Aqueles que têm a certeza que estarão entre os arrebatados, essas especulações não são motivos de preocupações pessoais, a não ser a da separação dos entes queridos que aqui ficarão por não crerem nas revelações das Escrituras.

Entre o intervalo do arrebatamento e a manifestação das duas bestas, o que irá acontecer com os arrebatados? Conforme nos escreve R. David Jones, “logo após o arrebatamento estarão sentados diante do Seu tribunal”, onde prestarão contas de suas obras e receberão os seus galardões que serão lançados diante do Trono de Deus, e ali estarão a adorar ao que vive pelos séculos dos séculos, dizendo: “Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória e a honra e o poder; porque tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existiram e foram criadas” (Apocalipse 4:10-11). Conforme sugeri anteriormente, que você, meu caro leitor, lá esteja fazendo parte desse notável grupo. Permita Deus que assim seja!

 

autor: José Carlos Jacintho de Campos.