A Caminho do Apocalipse - 13 (1)

“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” 
Apocalipse 1:3

Capítulo 13 (1)

Continuando em nossa caminhada pelo penúltimo grande parêntese contido em Apocalipse, chegamos ao capítulo 13 e nos deparamos com o surgimento de duas terríveis personagens: as duas “bestas” que são convocadas pelo diabo numa derradeira tentativa de procrastinar a sua derrota que certamente virá, mas que em sua ultrajante soberba ele acha que ainda conseguirá derrotar a Deus. A esta altura o diabo sabe que pouco tempo lhe resta e tentará uma cartada decisiva.

É impressionante a quantidade de especulações geradas em torno dessas duas criaturas, através de livros, documentários e filmes, que levam as pessoas ao completo descrédito pelas absurdas fantasias que são criadas. Com isso a coisa está a ficar do jeito que o diabo gosta, ou seja, as pessoas acabam acreditando que tudo isso não passa de uma lenda, de um mito religioso como tantos outros.

Por outro lado, existem aqueles que fazem parte da cristandade e asseveram ser este capítulo um dos mais importantes do Apocalipse. Sem dúvida, um imenso exagero, como poderá um capítulo que descreve acerca das três figuras mais execráveis – o diabo e as suas duas bestas – ter tamanha relevância? Por conta disso, prezado leitor, terei que desdobrar este capítulo em partes para que consigamos entender e esclarecer o enorme embaraço existente nesta passagem.

Antes de começarmos esta primeira parte, convém relembrarmos o contexto deste parêntese iniciado no capítulo anterior. Nele vimos que simbolicamente a “mulher” representa a nação de Israel, e o “dragão” a Satanás que persegue ferozmente a “mulher” a fim de devorar o seu “filho” – o Senhor Jesus –, quando nascesse; sabemos que ele não conseguiu esse intento. Em seguida vimos a grande peleja no céu que acontecerá quando Miguel e os seus anjos subjugarão o diabo e o atirarão para a Terra juntamente com os seus anjos malignos. Com essa queda, o diabo perceberá que o seu tempo está a se findar e nesse mesmo trecho vemo-lo em fúria a perseguir a Israel, mas Deus frustrará a sua maligna intenção.

O capítulo 12 se encerra da seguinte forma: “Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus; e se pôs em pé sobre a areia do mar”. Note que nesse texto não há nenhum comentário acerca da forma, consequências e desdobramentos dessa perseguição ao remanescente fiel, portanto não se deve considerar o capítulo 13 como uma mudança de tópico do capitulo anterior tendo em vista que essa divisão não existe nos textos originais.

Nunca é demais lembrar que a criação de capítulos e versículos veio para facilitar a leitura e a interpretação dos textos bíblicos, mas por vezes atrapalha se as pessoas não levarem em consideração que essa divisão nem sempre se trata de um novo parágrafo, “cuja função seria a de mostrar que as frases aí contidas mantêm maior relação entre si do que com o restante do texto com um novo tema” (Houaiss). Por não entenderem assim, tantos cometem equívocos inaceitáveis.

Ao acatarmos, portanto, a continuidade absoluta do texto, vemos que para a perseguição diabólica àqueles que darão o testemunho de Jesus, o diabo convocará dois terríveis coadjuvantes: a besta que emerge do mar e a outra que emerge da terra (Apocalipse 13:1 e 11). De imediato, é importante que fique claríssimo em nossas mentes que essas duas figuras são seres humanos como nós, de carne e osso, não se tratando de anjos demoníacos materializados ou incorporados, ou então seres de outro planeta como alguns fantasiosamente sugerem. São daqui mesmo e receberão a autoridade do diabo para suas tenebrosas atuações.

Você pode estar a pensar a esta altura: “Se o diabo sabe de tudo isso por ter conhecimento das Escrituras por que então devemos entender que ele não mudará a estratégia aqui revelada?”. De certa forma é pertinente esse pensamento, todavia o diabo não é onisciente, ele não é Deus, ele não sabe de tudo e nem tudo foi permitido a João revelar: “Guarda em segredo as coisas que os setes trovões falaram, e não as escrevas” (Apocalipse 10:4). Todavia, em sua altivez, mesmo sabendo dessas profecias, ele continua achando que é superior ao Todo-Poderoso e tentará demonstrar isso distorcendo as revelações das Escrituras, como o vemos tentando convencer ao próprio Senhor Jesus a segui-lo (Lucas 4:1-13).

Apesar de João não nominar nenhuma dessas duas bestas como o “anticristo”, tornou-se uma tradição entre os cristãos de que o “anticristo” seria a primeira besta e daí passou-se a esse costumeiro entendimento. O mesmo ocorreu com a comemoração do Natal, que de fato é apenas uma tradição cristã, pois as Escrituras silenciam quanto ao dia do nascimento do Senhor Jesus. Aceita-se, portanto, essa tradição, tendo em vista que houve um dia do Seu nascimento, assim como chegará o dia em que será manifestado o homem da iniquidade.

Todavia, chegando-se a este capítulo convém avaliar o significado desse vernáculo. Os únicos registros dessa expressão – anticristo – são de exclusivo uso desse mesmo apóstolo em suas duas primeiras epístolas. Nenhum outro escritor sacro usa esse termo. Diz João: "como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido... Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho... e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo...” (1 João 2:18 e 22; 4:3). "Porque muitos enganadores têm saído pelo mundo fora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo" (2 João v. 7). A exegese aqui tem que levar em conta o contexto dessas epístolas, que são de advertência sobre a apostasia que já estava a vir através de falsos mestres que predicavam uma doutrina equivocada sobre a Pessoa de Jesus Cristo. Nelas, João não dá nenhum indício do surgimento de um grande líder político, como será a primeira besta.

Em nosso idioma não houve tradução para “anticristo”, mas uma transliteração dessa palavra do original grego. Em sua lexicografia, Houaiss também o define como “falso Cristo” ou “falso profeta”. Ao examinarmos mais detidamente a preposição grega “anti” usada nas Escrituras, vemos que ela aparece 22 vezes no Novo Testamento. Em todas essas passagens o sentido da tradução é “em lugar de” e não “contra” alguma coisa (Mateus 2:22, 5:38, duas vezes, 17:27, 20:28; Marcos 10:45; Lucas 1:20, 11:11, 12:3, 19:44; João 1:16; Atos 12:23; Romanos 12:17; 1 Coríntios 11:15, Efésio 5:31; 1 Tessalonicenses 5:15; 2 Tessalonicenses 2:10; Hebreus 12:2, 12:16; Tiago 4:15; e 1 Pedro 3:9, duas vezes).

Em 1944, W. C. Taylor, em sua introdução ao estudo do Novo Testamento grego, define essa preposição, no caso genitivo, como “em lugar de”. Ao analisarmos os textos acima indicados veremos que esse é o sentido bíblico, por exemplo:“Arquelau reinava “em lugar de” (anti) seu pai Herodes” (Mateus 2:22). Portanto, Arquelau não reinava “contra” o seu pai, mas “em lugar” dele. Por certo é este o sentido que João tinha em mente quando usou a expressão “anticristo”. Quando olhamos para as duas bestas do Apocalipse que estão para surgir, vemos que a primeira, o grande líder político, tem a mesma semelhança do diabo (compare Apocalipse 13:1 com 12:3). Quanto à segunda besta, João a identifica como parecendo um “cordeiro”, ou seja, essa besta virá “em lugar de” Cristo, terá uma semelhança com Cristo, mas falará como um dragão, ou seja, o diabo (Apocalipse 13:11).

Ao longo de todo Apocalipse, para essas duas figuras humanas, João usou a expressão para a primeira delas simplesmente como a “besta”, ao passo que para a segunda ele a nominou como sendo o “falso profeta” (Apocalipse 16:13, 19:20 e 20:10). Em nosso idioma o prefixo “anti” tem o significado usual de “contra”, logo, se aplicarmos esse sentido, ambas as bestas são “anticristos”.

Se você, caro leitor, me perguntasse se deveríamos estar preocupados com o controverso, eu lhe responderia que não, pois os cristãos autênticos já terão sido arrebatados pelo Senhor Jesus antes do surgimento dessas duas criaturas repulsivas. Todavia, aqueles que acreditam que os cristãos que estiverem vivos à época passarão pela grande tribulação, gastam inutilmente o seu tempo procurando identificar indícios se o “anticristo” já se encontra entre nós, talvez para saberem quem vão enfrentar.

Por outro lado, há aqueles que o fazem na tentativa de encontrarem sinais que revelam o imediato “arrebatamento” da Igreja. Mas isso não é pertinente, pois, segundo o próprio Senhor Jesus, ao responder àqueles que ansiavam em saber quando se daria o tempo da restauração do reino a Israel, ele foi enfático: “Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai reservou para a sua exclusiva autoridade” (Atos 1:7).

A literatura existente a esse respeito é imensa, em nossos dias há escritores famosos, tidos como cristãos, que compartilham da crença de uma famosa pitonisa americana que teria recebido uma revelação, por certo do inferno, que o “anticristo” já estaria entre nós, teria nascido no Oriente Médio no dia 5/2/1962, e está aguardando o seu chamado para assumir o poder mundial das nações.Autores que se baseiam em uma bruxa não podem ser levados a sério, não é mesmo? Isso só serve para aumentar o saldo de suas contas bancárias, com a venda de seus livros sobre esses prognósticos especulativos.

Nas crônicas a seguir, sobre este mesmo capítulo 13, analisaremos mais detalhadamente esses dois personagens, mas esteja absolutamente certo, prezado leitor, que não devemos aguardar a manifestação dessas duas bestas, pois os redimidos pelo Senhor Jesus aguardam a Sua vinda para arrebatar os que são Seus, não à vinda do “anticristo”. Tenha o mesmo sentimento que havia em Paulo: "Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos quantosamam a sua vinda" (2 Timóteo 4:8). Portanto, não abra mão desse galardão. Permita Deus que assim seja!

autor: José Carlos Jacintho de Campos.