“Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo”
Apocalipse 1:3
Capítulo 12
Abre-se o penúltimo grande parêntese contido em Apocalipse, por sinal bastante longo, que se inicia neste 12° capítulo e vai até o 14°. Como vimos ao final do capítulo anterior, a sétima trombeta foi soada, todavia as terríveis consequências, que advirão com os sete flagelos a serem lançados sobre a Terra, serão reveladas somente no capítulo 16.
Ao iniciar este capítulo João relata a visão que teve de um “grande sinal no céu” (v. 1) que, por ser um “sinal”, trata-se de algo simbólico. Cabe-nos, portanto, ir à busca da interpretação do seu significado através das Escrituras em vez de ficarmos a especular o que aquilo representa.
Em sua visão, o consagrado apóstolo descreve acerca de uma mulher radiante que estava grávida (vs. 1 e 2). Surge a inevitável indagação: Quem seria essa mulher? É impressionante a quantidade de interpretações dadas acerca desta figura, que de fato são meras divagações, pois não têm respaldo nas revelações contidas na Palavra de Deus.
Alguns chegam à extravagância de afirmar que se trata de Maria grávida de Jesus, todavia não é preciso muito esforço para entender que se trata de algo completamente fora do contexto descrito neste capítulo. Por outro lado, aqueles que insistem em colocar a Igreja no período da grande tribulação chegam ao absurdo de interpretar que esta “mãe” representaria a Igreja, porém vemos que a mulher em questão está a gerar aquEle que há de reger todas as nações, qual seja o Messias prometido, o Senhor Jesus, portanto o inverso é absolutamente verdadeiro, pois não foi a Igreja que O gerou, mas foi por Ele gerada (Mateus 16:18).
Se não bastasse isso, a Igreja jamais foi interpretada nas Escrituras como “mãe”, mas como a “noiva”. Escreve a esse respeito W. Kelly: “Há aqui vários pontos que requerem uma explicação. Em primeiro lugar, que geralmente prevalece, é que a mulher representa a Igreja. Mas uma simples nota basta para derrubar esta falsa noção: A Igreja nunca é apresentada nas Escrituras como sendo uma mãe, e muito menos ainda poderia ela ser a mãe de Cristo, que, evidentemente, é o Filho Varão (v. 5). Sob a figura de uma mulher, a Igreja é a noiva de Cristo; enquanto Israel, como nação, pode, na realidade, ser considerada simbolicamente como tendo dado à luz a Cristo... “um menino nos nasceu (aos judeus) um filho se nos deu (aos judeus)” (Isaías 9:6-7). Portanto, a mulher representa Israel segundo o pensamento de Deus”.
Portanto, meu caro leitor, a resposta a essa pergunta é que essa “mulher” representa Israel. A figura dessa mulher (v. 1) é semelhante àquela do sonho de José (Gênesis 37:9-10), onde o Sol é interpretado como sendo Jacó, seu pai, a Lua como sendo Raquel, sua mãe, e as onze estrelas os seus irmãos, que com ele, José, formariam as doze tribos que dariam origem a Israel como nação. Não são poucas as passagens bíblicas em que Israel é representado por uma “mulher”, dentre elas Isaías 54:5 e Jeremias 3:20.
Surge, porém, outra questão. Se a mulher é Israel (v. 1) e o seu filho varão o Senhor Jesus (v. 5), como então ela poderá sentir as dores do parto em meio à grande tribulação se Ele já era nascido? Deixemos essa interpretação, como convém, a cargo das Escrituras. Como diz J. Allen, Isaías antecipou esta situação anormal de nascimento quando escreveu: Antes que estivesse de parto deu à luz; antes que lhe viessem as dores deu à luz um filho... pois Sião, antes que lhe viessem as dores, deu à luz a seus filhos” (Isaías 66:7-8). Leia também Miqueias 4:10. Assim o verdadeiro sofrimento da nação de Israel não aconteceu no tempo do nascimento do Senhor Jesus, mas está por vir no período da tribulação. Cristo descreveu a primeira parte da tribulação como o“princípio das dores” (Mateus 24:8), onde a palavra “dores” é geralmente usada para “trabalho de parto” e pode ser traduzida como “dores de parto” como lemos em 1 Tessalonicenses 5:3.
A seguir João vê outro “sinal no céu”: “e eis um dragão, grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças sete diademas” (v. 3). Aqui não há nenhuma dificuldade em interpretar quem é este dragão, os versículos 7 a 9 o identificam como sendo “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo”. Quanto aos significados da sua aparência veremos as explicações desses símbolos mais à frente, no capítulo 17. O que importa agora é sabermos que o personagem deste “sinal” é o diabo.
Em sua tentativa de enfrentamento a Deus ele arrasta consigo um terço das hostes celestiais rebeldes que serão precipitadas sobre a Terra (v. 4). Para que não haja dúvidas, lembremo-nos do simbolismo de “estrelas” contido no versículo 20 do capítulo 1, onde o próprio Senhor Jesus as interpreta como “anjos”, só que aqui são os anjos caídos, seguidores de Lúcifer, que por sua vez significa a “estrela da manhã” descrita em Isaías 14:12.
O intuito do maligno sempre foi o da destruição total de tudo que foi criado por Deus, e ele continua nessa busca apesar de saber, desde o princípio (Gênesis 3:14-15), que os seus dias estão contados segundo o tempo de Deus. Mas ele é sobremodo arrogante e continuará até ao cabo dos seus dias acreditando que conseguirá vencer o Todo-Poderoso. Vemo-lo aqui, no versículo 4, em sua louca tentativa de impedir o nascimento do Senhor Jesus e sabemos que para isso ele usou homens cruéis como Herodes (Mateus 2:3-18), mas tudo foi infrutífero, pois Deus protegeu o Seu Filho Amado para que cumprisse sobre Si a obra redentora estabelecida pelo Pai, em prol de toda a humanidade, e em seguida foi arrebatado ao céu (v. 5), onde aguarda o momento de vir para arrebatar aqueles que são Seus e, após os sete anos da grande tribulação, voltará para estabelecer o Seu reino milenar.
O ódio destruidor de Satanás se exacerbará. Aquilo que ele supunha ser o fracasso de Deus com a morte do Seu Filho crucificado, de fato foi a estupenda vitória da Redenção para todo aquele que nEle crê. Mais uma vez ele foi derrotado, mas ele é persistente e procurará sob todas as formas varrer Israel da face da Terra. O seu tempo está a se esgotar. Ele sabe, a priori, que é lá que o Senhor Jesus Cristo voltará para restaurar todos a coisas, quando os Seus pés tocarão o Monte das Oliveiras, que está defronte a Jerusalém (Zacarias 14:4). Por isso ele induzirá todas as nações para que destruam completamente Israel, mas o próprio Senhor Jesus impedirá tamanha insanidade, conforme veremos no capítulo 19.
Apesar de todos os esforços, como se têm visto ao longo da história, Deus jamais permitirá que Israel desapareça da face da Terra e O vemos assim fazendo neste capítulo. Os versículos 6 e 14 revelam que Ele abrigará e sustentará Israel em um lugar seguro por Ele preparado durante os três anos e meio finais da grande tribulação. Para Deus não há impossíveis, lembremo-nos de Elias (1 Reis 17), que por três anos e meio (Tiago 5:17) o Senhor o sustentou ainda que através dos corvos e de uma viúva pobre.
Por certo esse “Israel” que será perseguido e fugirá sobre as “asas da grande águia” (vs. 13 e 14), representa os judeus que se manterão crendo na promessa da vinda do Messias e certamente se recusarão a cultuar a “besta” e a receber a sua marca como veremos no próximo capítulo. Eles não se curvarão perante a imagem da “besta” assim como ocorrera nos dias de Elias (1 Reis 18:13; 19:18). Você poderá argumentar em que me baseio para afirmar isso. Observe que há um segundo grupo de israelitas no versículo 17. Em sua fúria por não ter conseguido o extermínio do primeiro grupo (vs. 15 e 16), Satanás se voltará contra o restante dos judeus, aqueles que já tinham reconhecido o Senhor Jesus como o Messias prometido e por isso “guardam os mandamentos de Deus e trazem o testemunho de Jesus” (v. 17).
Quanto às “asas da grande águia” (v. 14) é uma expressão conhecida e tem o significado do extraordinário livramento que Deus promove a favor do Seu povo: “Tendes visto o que fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águias, e vos cheguei para mim” (Êxodo 19:4). Portanto, não há o porquê de se especular tanto sobre isso, assim como fazem sobre a “água como um rio”que será jorrada da boca de Satanás contra Israel e que será engolida pela terra (vs. 15-16). Dou-me por satisfeito com a simples, objetiva e clara interpretação de W. MacDonald: “Na tentativa de impedir a fuga de Israel, a serpente provoca uma grande inundação a fim de arrastar o povo na correnteza, mas um terremoto abre a terra, engole a água e frustra o plano do diabo”.
Você poderá questionar: O diabo teria poder para provocar uma inundação? Basta olharmos para os magos do faraó fazendo, por duas vezes, grandes sinais em confronto com Moisés e Arão (Êxodo 7 e 8), consoante a eficácia de Satanás (2 Tessalonicenses 2:9). No próximo capítulo o veremos capacitando suas duas “bestas” para efetuarem coisas sobrenaturais como descer fogo do céu, a estátua falar, dentre outras coisas.
Neste terceiro grande parêntese João introduz um intervalo, um pequeno parêntese (vs. 7 a 12), para descrever uma peleja que ocorrerá no céu, região própria da atual morada do diabo. Este interlúdio é indispensável para entendermos a ira do diabo contra Israel (v. 13). O “arcanjo” Miguel, o único citado como tal nas Escrituras (Judas 9), e seus anjos travam uma intensa batalha no céu contra o diabo e as suas hostes (v. 7). A derrota de Satanás será implacável. Não haverá mais lugar para ele no céu. O sedutor deste mundo será atirado para a Terra e com ele todo o seu maligno séquito (vs. 8 e 9).
Para que não haja dúvidas a respeito de que “céu” o maligno será expulso, convém relembrar que as Escrituras descrevem três céus. O primeiro, o céu atmosférico que nos rodeia, que é a região de Satanás, “o príncipe da potestade do ar” que reina na atmosfera (Efésios 2:2); o segundo céu é o astronômico, o lugar dos corpos celestes (Jó 38:31-33); e o terceiro céu, é o lugar da presença do Deus Todo-Poderoso, a região da glória divina (2 Coríntios 12:1-4), para onde estão a ir os salvos pela obra redentora do Senhor Jesus (Lucas 23:43).
Nesse mesmo momento João ouve um grande alarido de júbilo vindo do céu, da morada de Deus (vs. 10 a 12). Por certo vindo daqueles que foram martirizados na primeira metade da tribulação conforme vimos na abertura do quinto selo (Apocalipse 6:9-11). O regozijo deles é magnífico: “Por isso festejai, ó céus, e vós que neles habitais”. Entretanto, há um paradoxo! “Ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera”. Não haverá alternativa para Satanás a não ser a de tornar este mundo ainda mais tenebroso, por saber “que pouco tempo lhe resta” (v.12).
Ao encerramento deste capítulo vemo-lo em pé sobre a praia (v. 18). Dali ele convocará seus dois coadjuvantes que farão grande estrago àqueles que não prestarem adoração ao seu mentor – o diabo – que lhes deu autoridade para praticarem toda sorte de crueldade, conforme veremos no capítulo seguinte. Que aqueles que estão a ler esta série de crônicas sejam despertados quanto à fundamental importância da atual dispensação – a da Igreja –, pois assim evitarão a si e a outras pessoas de tão horripilante situação, tendo em vista que aqueles que atualmente creem no Senhor Jesus serão arrebatados antes do início desse período de grande tribulação. Permita Deus que assim seja!