A palavra de Deus não volta vazia: “Porque, assim como a chuva e a neve descem dos céus, e para lá não tornam, sem que primeiro reguem a terra e a fecundem e a façam brotar, para dar semente ao semeador e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei” (Isaías 55:10-11)
Há alguns anos o irmão Theodor Hahlen e eu estávamos realizando uma série de reuniões evangelísticas com uma tenda em Loanda, no Paraná. Lembro-me que saindo para distribuir convites naquela manhã, ao bater numa casa percebi que o rádio estava sintonizado na Rádio Aparecida e senti um enorme desejo de visitar aquela família. Contei ao irmão Theodor e convidei-o a uma visita e ele aceitou.
Logo ao batermos palmas, saiu à porta um velho alto, lhe falamos do nosso propósito e ele nos convidou a entrar. Entramos, sentamos e conversamos longamente diversos assuntos preparando o terreno antes de lermos a Bíblia. Lembro-me que o nome daquele homem era Mateus. Sua esposa demonstrando muito medo continuou onde estava na cozinha e pelo corredor percebi que estava muito preocupada.
Já havia passado um bom tempo e tínhamos conversado de tudo, então resolvi pedir permissão ao Sr. Mateus para lermos a Bíblia, e ele sem hesitar disse: “Pode sim, só que eu já vou avisar que sou católico apostólico romano e não mudo de religião”. Não tem problema, respondi e convidei o irmão Theodor para a leitura.
Quando o irmão abriu a Bíblia o homem furioso tornou a falar: “Se quiser ler pode ler, só que já avisei que não mudo de religião”. Isso se repetiu por várias vezes, até que lhe perguntei: “Sr. Mateus, desde que entramos aqui em sua casa, por acaso temos por uma só vez pedido para o senhor mudar de religião?”. O homem emudeceu e todos ficamos um bom tempo em silêncio. Então resolvi perguntar-lhe: “E daí Sr. Mateus qual é sua resposta?”. De repente o homem se levantou cuspiu na parede por duas vezes e saiu para os quartos como se fosse buscar uma arma para nos expulsar, nisto nos entreolhamos, fechamos nossas Bíblias e ficamos de prontidão para corrermos, porém, depois de um bom tempo, o homem voltou e se sentou. Ele tremia muito, então percebemos que devíamos nos retirar.
Como não podia ser diferente, aquele acontecimento nos deixou intrigados tendo em vista que fizemos a visita no propósito de explicar o Evangelho. De lá saímos sem ao menos ler a Bíblia e nem falamos do Amor de Deus e da Salvação. Semanas depois do trabalho com a tenda, como de costume fazíamos visitas aos sábados e em um desses dias encontrei na rua o Sr. Mateus. Ele parou, me olhou aparentando estar assustado, eu logo o cumprimentei e em seguida propus-lhe nova visita, dizendo: “Sr. Mateus qualquer dia destes vou novamente à sua casa, está certo?”. Ele me respondeu: “Pode ir o dia que quiser”.
No sábado seguinte fui até sua casa. Ele era (como a maioria dos mineiros), um homem bom de conversa. Enquanto conversávamos assuntos fora da Bíblia disse a ele: “Sr. Mateus, gostaria da sua permissão para ler a Bíblia”; ele me respondeu: “Pode sim, só que eu já lhe avisei que sou católico apostólico romano e não mudo de religião”. A partir desse dia não dei confiança para suas palavras, li e expliquei o Evangelho, sendo muitas vezes interrompido por ele, num tom forte de voz, com a mesma frase: “Eu já disse que não mudo de religião”.
Por um bom tempo continuei visitando este casal, quase todos os sábados. Sua esposa foi chegando bem devagar e com o tempo, quando eu chegava para a visita, ela passou a ser a primeira pessoa que se sentava na sala para ouvir o Evangelho.
Depois de muitas visitas, sempre ouvindo a mesma coisa do Sr. Mateus, ele adoeceu. Em minha última visita, já moribundo em seu quarto, pois seu estado de saúde se agravara ao ponto dele já não mais poder se levantar ou sentar, eu anunciei que ia ler a Bíblia e ele, em tom de ira, gritou e repetiu: “Eu já estou cansado de lhe falar que não mudo de religião, vocês ficam insistindo em ler”. Desta vez ele estava muito mais irado.
Sua esposa, ao seu lado, o repreendeu e disse: “Mateus, você está doente, o homem vem aqui para fazer visita e trazer uma palavra de Deus para nós e você o trata com essa braveza?”, Sem nenhum temor ele respondeu: “Eu não quero, não quero, eu não mudo de religião, já falei, eu não quero”. Naquela manhã, naquele quarto sombrio, li a Bíblia e orei com o casal sendo esta a última oportunidade que Deus concedeu ao Sr. Mateus e ele a desprezou. Na semana seguinte ele foi para a eternidade, rejeitando a Salvação e o Amor de Deus revelado em Jesus Cristo, Seu Filho.
Contudo, há um resultado positivo nesta história. Após a morte de Sr. Mateus, sua esposa foi residir no Mato Grosso do Sul com um filho. Fui informado por uma neta deles que ela se converteu ao Senhor Jesus e estava muito feliz.
Analisando este fato podemos tirar algumas lições:
- O POVO DE ISRAEL NO VELHO TESTAMENTO – Quantas foram as vezes que Deus deu oportunidade para aquela nação se arrepender do mau caminho e mudar de vida, porém aquela nação não quis, preferindo seguir o seu próprio caminho que era o da idolatria.
- O POVO JUDEU NO NOVO TESTAMENTO – Naquele tempo, esse povo teve a oportunidade de ter entre eles a pessoa do Senhor Jesus, presenciar Seus milagres cumprindo com as profecias, contudo não quiseram, desprezaram e rejeitaram o Senhor Jesus, que veio para a casa perdida de Israel.
- O POVO EM GERAL NOS DIAS DE HOJE – Em nossos dias o Evangelho da graça é pregado insistentemente, mas o pecador permanece rejeitando a graça salvadora de Deus por continuar vivendo debaixo das tradições religiosas. Outros se entregam aos prazeres da carne e ao luxo como se fossem viver aqui eternamente, porém, caso não se arrependam, quando se aperceberem do seu triste e lamentável fim, será tarde demais.
Confesso que ainda hoje, depois de tantos anos, sinto profunda tristeza quando me lembro do Sr. Mateus, mas, ao mesmo tempo, sinto uma paz divina ao me lembrar de sua esposa pelo testemunho de sua neta: “Minha avó se converteu ao Senhor Jesus e está muito feliz”.
Meus irmãos, companheiros no Serviço do Senhor, que esse testemunho sirva para animá-los na Obra do nosso Mestre, visto que a Sua Palavra não volta vazia sem dar o seu fruto, quer seja no exemplo do Sr. Mateus, que apesar de ouvir muitas vezes O rejeitou, ou no de sua esposa que O aceitou e se converteu. Glórias sejam dadas a Deus e ao Seu Bendito Filho Jesus Cristo. Amém!