“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos”
Apocalipse 20:2
Índice
O Dragão
“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos”
Apocalipse 20:2
Este curto versículo toma quatro palavras encontradas na Bíblia e as une para descrever um só ser que um anjo poderosíssimo colocará fora de ação durante o milênio.
É também notável porque, fora a Serpente, um animal conhecido no mundo inteiro, o resto é negado pelo mundo cego incluindo muitos que se dizem cristãos. Dragão... Diabo... Satanás... Mas Deus em Sua santa Palavra confirma a existência destes seres, sendo o Diabo e Satanás um só.
As primeiras duas palavras (dragão e serpente) se referem a uma espécie de animal, e as duas seguintes a um ser espiritual (Diabo e Satanás). Logo, então, nos perguntamos: de que forma pode esse animal servir para ilustrar um espírito?
Vamos analisar a primeira palavra: “dragão”. Esse bicho realmente existe, ou existiu, ou é apenas lendário ou mitológico?
Inegavelmente as lendas sobre dragões vêm desde a antiguidade e são encontradas ao redor do mundo, desde a Ásia até às Américas, e em toda a terra entre os polos. Representações imaginárias dele aparecem mesmo em algumas bandeiras nacionais. Parece muito improvável que apenas uma figura de linguagem abstrata pudesse ter sido inventada por tantos povos diferentes. Mais importante ainda, é inconcebível que uma figura abstrata resultante da imaginação dos povos viesse a ser usada na Palavra de Deus como se fosse uma realidade física histórica.
No Novo Testamento encontramos a palavra grega drakon, que entrou no idioma português como “dragão”. Só é encontrada no livro do Apocalipse em seus capítulos 12, 13, 16 e 20, onde o nome do animal enigmático representado por essa palavra é aplicado a Satanás.
Mas no original hebraico, do qual temos várias traduções e de onde também procede a versão grega conhecida como Septuaginta, encontramos duas palavras-chaves quase iguais para denominar esse bicho assustador: tan e tanin. Ambas foram traduzidas como drakon no grego e palavras derivadas ou equivalentes em outros idiomas. Mais recentemente, nas traduções para o vernáculo, em certos idiomas essas duas palavras foram substituídas por outras mais específicas, de animais conhecidos que teriam as qualidades cabíveis no texto, segundo o entendimento do tradutor.
Por exemplo, entendeu-se que a palavra que se lê tan (plural tanim) no hebraico podia ser aplicável a certos animais terrestres como:
- Um animal desconhecido que habitava em lugares desertos (Jó 30:29; Salmo 44:19; Isaías 12:22, 34:13, 43:20; Jeremias 10:22; Miqueias 1:8; Malaquias 1:3). Por ter semelhança com o chacal em suas habitações, os tradutores mais modernos da Bíblia têm escolhido esse animal ao invés de “dragões”.
- Uma serpente venenosa (Deuteronômio 32:33).
- Uma serpente do deserto (Salmo 91:13; Isaías 34:13; Jeremias 9:11; 51:37; Malaquias 1:3).
Permanecendo como dragão, foi usada como símbolo de Faraó (Isaías 51:9, Ezequiel 29:3) e Satanás (Apocalipse 20:2).
A palavra hebraica que se lê tanin (plural taninim) tem sido entendida como aplicável a alguns animais aquáticos como:
- Um grande monstro aquático (Gênesis 1:21, Jeremias 51:34).
- Um crocodilo (Ezequiel 29:3-4, Isaías 51:9).
- Uma serpente (Êxodo 7:9, Isaias 27:1).
- Uma baleia (Jó 7:12, Ezequiel 32:2).
É usada simbolicamente no Salmo 74:13 e Ezequiel 29:3.
Considerando todas essas comparações, chegamos a uma descrição bastante compreensível do animal que a Bíblia chama de “dragão”: Enorme como uma baleia, o dragão era um monstro marinho que vivia na água e também na terra como um crocodilo; era encontrado em lugares desertos como o chacal, e era venenoso como uma serpente.
Existe atualmente um animal denominado dragão-de-komodo, ou crocodilo-da-terra (Varanus komodoensis), habitante das ilhas de Komodo, Rinca, Gili Motang e Flores, na Indonésia, e só foram descobertos por cientistas em 1910. Devido à sua forma e escamas foi classificado como pertencente à família de lagartos-monitores Varanidae. É a maior espécie de lagarto conhecida atualmente, robusto e com aparência de dinossauro, pode medir até 3 m de comprimento e pesar até 100 kg. Sua dieta se baseia em porcos selvagens (javalis), cabras, veados, búfalos, cavalos, macacos, dragões-de-komodo menores, insetos, e até seres humanos. É venenoso e tem a língua bifurcada como a serpente, come carniça como o urubu e pode viver até os cinquenta anos.
Não tem as proporções enormes do dragão da Bíblia, nem vive na água, mas em lamaçais. No entanto torna viável a sugestão que o monstro bíblico realmente existiu e era conhecido na antiguidade, ficando não só no relato bíblico, mas também na memória das várias populações na forma de lendas. O dragão-de-komodo parece ser o remanescente enfraquecido dele.
Além disso, os cientistas estão atualmente aprendendo cada vez mais com a descoberta de fósseis por todo o mundo. Esses fósseis foram denominados “dinossauros” em 1841, um neologismo do cientista britânico Sir Richard Owen, mas, antes disso, essas grandes criaturas reptilianas eram chamadas de “dragões”. Entre eles se encontram o plesiosauro (réptil gigante marinho) e o pteranodon (réptil voador – veja Isaías 10:29, 30:6) etc., que preenchem boa parte da descrição do dragão bíblico, mais do que o dragão-de-komodo.
Estes animais foram, em sua grande maioria, destruídos por ocasião do dilúvio nos tempos de Noé (2.348 a.C.) mas um casal de cada espécie foi salvo na arca, de quem descendem os répteis e lagartos existentes hoje. Também os animais marinhos teriam sobrevivido, dos quais a baleia é um exemplo.
A Bíblia descreve algumas criaturas fascinantes que já têm sido classificados como dragões, por exemplo:
- O leviatã, "o poderoso", a criatura do mar impenetravelmente escamada que respirava fogo (Jó 41).O leviatã foi mencionado por Davi no Salmo 104:26, dizendo que fora formado para folgar no mar e vivia em seus dias. Não era uma baleia, tendo outras características como membros, pescoço e escamas. Já Isaías 27:1 o descreve como uma serpente fugitiva e tortuosa.
- O beemote, descrito como um vegetariano que movia a sua cauda como o cedro e cujos ossos eram como feixes de bronze (Jó 40:15-24). As características do beemote, juntamente com outras características nesta passagem, nos lembram dos poderosos dinossauros saurópodes, como o braquiossauro. Não era um hipopótamo, como traduz uma das recentes versões de Almeida (só a cauda insignificante do hipopótamo já desmente essa tradução, que a NVI não comete o erro de copiar).
Enfim, sem nos aprofundar mais nas línguas originais, concluímos que os dragões da Bíblia são um grupo de criaturas semelhantes a serpentes em muita coisa, algumas vivendo na terra e outras na água, tanto doce como salgada. São frequentemente chamadas de dragões, serpentes, monstros e mesmo leviatã pelos tradutores! Vale considerar a inclusão do que agora chamamos dinossauros, embora seus sistemas de classificação não sejam perfeitos. As características dos dragões que encontramos na Bíblia parecem caber muito bem em alguns tipos de dinossauros, haja vista as do beemote.
Não é, portanto, a concepção de um animal inexistente e apenas mitológico. É alarmante o desaparecimento rápido de qualquer menção a dragões em traduções que surgiram após as disseminações de ideias evolucionistas. É uma boa lição para evitarmos aceitar traduções em que as ideias humanistas se sobrepõem à transcrição literal da Bíblia, especialmente as teorias sobre evolução.
A Bíblia deve ser usada para explicar nosso mundo em seus próprios termos, pois foi inspirada por Quem foi seu Criador, e portanto a conhece em seus mínimos detalhes, o que é imensamente mais do que o conhecimento humano, que muda ao verificar os fatos reais que vai descobrindo.
A Antiga Serpente
“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos”
Apocalipse 20:2
A “antiga serpente”, o segundo animal deste versículo, aparece pela primeira vez na Bíblia em Gênesis 3:1... “Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim?”
A serpente, víbora, áspide, basilisco ou cobra que conhecemos hoje é mencionada quarenta e nove vezes na Bíblia, inclusive alegoricamente. É ainda comum em todo o mundo, em um surpreendente número de variedades, e é usada como objeto de adoração ou simples símbolo, figura na mitologia através dos tempos, nas lendas e nas estórias. São poucos os que nunca viram ou ouviram falar sobre uma serpente. Figura na grande maioria dos vocabulários falados e escritos.
Em hebraico a serpente é chamada “naás”, “nashak”, “tsefa”, “tsifone” e em grego é “ophis”, “herpeton”. Mais de quarenta espécies são encontradas na Síria e Arábia. Isaías fala de uma “serpente voadora” ("saraf uf”) (Isaías 14:29, 30:6). Simbolicamente um inimigo mortal, sutil e malicioso é chamado de serpente (Lucas 10:19).
A “antiga serpente” tomou uma posição que a destacou de todos os animais que Deus havia criado: “era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito” (Gênesis 3:1). Assim ela influiu decisivamente sobre a natureza e destino dos seres humanos, e, com eles, toda a criação. Tudo era muito bom antes dessa serpente intervir, mas depois veio a maldição de Deus sobre ela e a sua descendência, junto com toda a criação.
A Bíblia não descreve como era a “antiga serpente” quando se apresentou a Eva. É provável que fosse semelhante a um grande lagarto, pois é chamada dragão não só em Apocalipse 20:2, mas também em Isaías 27:1, e um dos castigos que recebeu de Deus foi andar sobre o seu ventre e comer pó todos os dias da sua vida. Em vista dos magníficos desenhos em cores existentes sobre o corpo da maioria das serpentes encontradas hoje, suas descendentes, não é improvável que a “antiga serpente” fosse também um animal vistoso, coberto com escamas coloridas formando lindos desenhos.
Bela e cativante, essa “antiga serpente” não teve dificuldade em se comunicar com Eva no jardim do Éden, e de convencer Eva da mentira que lhe disse. Um animal falante? Salvo o papagaio, que sabe repetir o que ouve, mas sem saber do que se trata, nenhum outro animal que conhecemos atualmente pode se comunicar conosco assim. Não obstante, naquela ocasião a “antiga serpente” falou e Eva entendeu. Ao ser castigada e transformada no animal que hoje conhecemos, ela perdeu essa habilidade e ao que saibamos o único som que ela e seus descendentes produzem desde então não passa de um sibilo e, no caso da cascavel, um chocalho na extremidade da sua cauda.
Depois do acontecimento relatado no capítulo 3 de Gênesis a palavra “serpente” e as outras aplicáveis ao mesmo animal aparecem várias vezes, algumas em conexão com suas mordidas, seu veneno e sua língua bifurcada, ilustrando o cumprimento do destino que Deus deu ao relacionamento entre ela e a mulher: “Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3:15). A primeira vez que aparece novamente é em Gênesis 49:17... “Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os calcanhares do cavalo, de modo que caia o seu cavaleiro para trás”: nesta profecia de Jacó a serpente é usada como símbolo dos que indiretamente praticam ações maléficas para prejudicar alguém. Foi a tribo de Dã que introduziu a idolatria que eventualmente destruiu a nação de Israel.
Deus algumas vezes fez uso de serpentes: transformou a vara de Arão em uma serpente para impressionar o faraó do Egito com um milagre (Êxodo 7:10); mandou entre o povo serpentes abrasadoras, que o mordiam e morreu muita gente em Israel (Números 21:6), depois mandou Moisés fazer uma serpente de bronze e levantá-la numa haste para que quem fosse mordido pudesse olhar para ela e fosse curado (Números 21:8).
O Senhor Jesus mencionou serpentes várias vezes: recomendou aos discípulos que fossem prudentes como as serpentes (Mateus 10:16), chamou os escribas e fariseus do Seu tempo de “serpentes, raça de víboras” por causa da sua hipocrisia e iniquidade (Mateus 23:29-33). Talvez mais famosamente Ele usou a figura da serpente de bronze feita por Moisés e levantada numa haste como exemplo de como Ele seria também levantado para que todo aquele que nEle crê tenha a vida eterna (João 3:14).
Essas observações sobre esse animal nos levam à conclusão que, embora seja nocivo por causa da sua natureza agressiva, seus ataques inesperados e seu veneno mortal, resultantes da maldição pronunciada sobre ele no Éden, ele não personifica o Diabo ou Satanás.
Também a “antiga serpente”, uma espécie de “dragão”, foi apenas um instrumento usado por aquele inimigo de Deus para enganar Eva fazendo com que ela, e seu marido depois dela, desobedecessem à ordem que Deus lhes havia dado. Que Satanás foi o tentador e usou a antiga serpente apenas como seu instrumento é evidente:
- Embora a serpente fosse “o mais astuto dos animais do campo”, capaz até de falar, ela não tinha as elevadas faculdades intelectuais requeridas para ser o tentador. De toda a criação na terra, só o homem foi feito à imagem de Deus e assim dotado de intelecto, bem como espírito.
- No Novo Testamento somos informados, ou é assumido de várias maneiras, que o responsável direto pela sedução dos nossos primeiros antepassados foi o próprio Satanás (João 8:44; Romanos 16:20; 2 Coríntios 11:3, 11:14; Apocalipse 12:9, 20:2).
A “antiga serpente” era “o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito”. Era apenas um animal do campo, mas o mais astucioso de todos e fez a obra do adversário tentando prejudicar a obra-prima da criação. (A palavra “adversário” é a tradução correta para o português do original hebraico “satã”. Esta continua figurando nas traduções da Bíblia para o português como no original ou modificado ligeiramente para “satanás”, para indicar o maior adversário de Deus, que é um anjo rebelde).
Eva inutilmente procurou justificar-se pela sua desobediência ao mandado de Deus, dizendo: “A serpente enganou-me, e eu comi.” (Gênesis 3:13). Contudo Deus não eximiu a “antiga serpente” totalmente de culpa. O castigo que a “antiga serpente” recebeu de Deus foi a humilhação de se arrastar pelo chão, de ser maldita dentre todos os animais domésticos e selvagens, e de sua descendência ser inimiga da descendência da mulher.
O relato bíblico sobre a “antiga serpente” não é apenas uma parábola, ou ficção alegórica como querem alguns. A Bíblia nos diz nas palavras de Paulo, em 2 Coríntios 11:3... “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo”. Se o relato não fosse um fato, não serviria como exemplo.
Toda mentira e engano, é fazer a obra do Adversário, que é “o pai da mentira” como nos ensina o Senhor Jesus (João 8:44). A Bíblia nos diz: “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor” e “quanto a... todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte”. (Provérbios 12:22 e Apocalipse 21:8).
A experiência que Eva teve com a malignidade da “antiga serpente” nos serve de alerta contra as “serpentes humanas”, que também se apresentam formosas e persuasivas e nos desviam dos caminhos de Deus para desobedecer a Sua vontade. Será um desastre para nós se forem corrompidos os nossos entendimentos por uma delas para nos apartarmos da simplicidade e da pureza que há em Cristo.
Estejamos sempre apegados à verdade, a Palavra de Deus, para escapar à possibilidade de sermos utilizados pelo Adversário para divulgar suas mentiras, teorias sem fundamento na realidade e falsas interpretações do que a Bíblia diz. Estas são tão abundantes atualmente e concorrem para que os incrédulos não alcancem a salvação das suas almas mediante o único Caminho que Deus nos abriu: a fé na obra redentora do nosso Salvador e Senhor Jesus Cristo.
O Diabo ou Satanás
“Ele prendeu o dragão, a antiga serpente, que é o Diabo e Satanás, e o amarrou por mil anos”
Apocalipse 20:2
Os nomes Diabo e Satanás são usados na Bíblia para um único ser, e derivam de duas palavras:
- Diabo, do grego “diabolos” que se traduz em “difamador” e “caluniador”. Essa palavra aparece 34 vezes no Novo Testamento.
- Satanás do hebraico “satan” (transcrito para o grego como “satanas”) que se traduz em “adversário”, “oponente” e “inimigo do bem”. Aparece em 49 versículos da Bíblia, dos quais 34 no Novo Testamento.
Na sequência bíblica a palavra “Satanás” aparece pela primeira vez no primeiro livro de Crônicas (21:1), onde se refere a um agente espiritual inimigo de Israel que provocou o rei Davi a recensear o seu povo, levando-o a cometer este grande pecado contra Deus e trazendo pestilência sobre o povo.
No entanto, Satanás já é citado no livro de Jó, de origem mais antiga, quatorze vezes nos seus dois primeiros capítulos, tratando-se ali claramente de um único ser que se apresentou junto com os anjos (“filhos de Deus”) diante de Deus, e o propósito dele era difamar o justo Jó: era, portanto, um “difamador”, cabendo-lhe também o nome de Diabo que lhe é dado em grego no Novo Testamento.
O nome Satanás aparece, referindo-se a esse ser, em 49 versículos da Bíblia, dos quais 34 se encontram no Novo Testamento (o mesmo número em que aparece Diabo). Não existe margem, portanto, para qualquer crente verdadeiro negar a sua existência real. Embora não tenhamos muitas informações na Bíblia além das que dizem respeito ao seu terrível relacionamento com o ser humano, temos muitas sobre estas. Tentaremos, a seguir, dar um resumo muito limitado daquilo que nos diz a Palavra de Deus.
Assim como todos os outros seres espirituais, tronos, domínios, principados e poderes no céu e na terra (Colossenses 1:15-16), Satanás foi criado por Deus, mediante a segunda pessoa da Trindade (que se encarnou como Jesus Cristo). Em Ezequiel 28:1 a 10 temos uma profecia contra o “príncipe de Tiro” que se dizia ser um deus, por causa do seu conhecimento e sabedoria. Como paralelo, a profecia faz referência ao “rei de Tiro”, não um homem, mas um espírito que inspirou aquele príncipe. Pela descrição, percebemos que se trata de Satanás:
- Originalmente foi criado “selo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura”. Na Bíblia, ele nunca é assemelhado à criatura feia desenhada e esculpida por artistas.
- Esteve no Éden (que pode ser traduzido como “deleite”), o jardim de Deus (não o jardim criado mais tarde para Adão e Eva na terra) possivelmente o âmbito onde se encontrava o trono de Deus.
- Cobria-se de toda pedra preciosa, e ostentava o seu resplendor andando para cima e para baixo nas pedras ardentes “sobre o monte de Deus”.
- Nele se faziam os instrumentos de música, preparados no dia em que fora criado. Em suas visões apocalípticas João viu instrumentos musicais no céu, além de trombetas (Apocalipse 15:2).
- Deus o ungiu “querubim da guarda do trono de Deus, no monte santo de Deus”. Essa era a mais alta posição que podia ser ocupada por uma de Suas criaturas, tendo mais poder e autoridade do que qualquer outra delas.
Era então perfeito e sem pecado algum quando foi criado, dotado de grande sabedoria e beleza (lembremos, de passagem, que os seres espirituais não são sexuados nem se reproduzem - Mateus 22:30, Marcos 12:25). Ele era o Querubim Guardião, também chamado Estrela da Manhã (Isaías 14:12) “carregando luz” (Lúcifer).
Mas Satanás era ambicioso, e apesar da sua sabedoria tornou-se também presunçoso, desejando fazer-se igual ao seu Criador, um alvo totalmente inatingível. A certa altura, “orgulhoso por causa da sua beleza e com sua sabedoria corrompida por causa do seu resplendor” (Ezequiel 28:17 NVI), Satanás declarou “subirei ao céu... exaltarei o meu trono... no monte da congregação me assentarei... subirei acima das alturas das nuvens... e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:12-14).
Com esse propósito, liderou uma revolta contra a autoridade de Deus em que foi seguido por um terço de todos os anjos (Apocalipse 12:3-4). Desta forma a Estrela da Manhã (Isaías 14:12) tornou-se em Satanás, “o Adversário” ou “o Acusador”. O juízo de Deus não tardou a vir sobre ele (Ezequiel 28:16 NVI): perdeu sua primeira morada, que era a posição elevada como o guardião do trono de Deus: "Por isso eu o lancei, humilhado, para longe do monte de Deus". Depois perdeu a sua segunda morada, o privilégio que tinha em decorrência daquela posição: "e o expulsei, o querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes".
Satanás é agora o mais proeminente, e poderoso dos anjos revoltosos, conhecidos como demônios, e é o arqui-inimigo de Deus e do homem (Jó 1-2; Mateus 13:25, 38-39; 1 Pedro 5:8; 1 João 4:4; Apocalipse 12:1-17). Ainda que Deus originalmente o tenha criado na justiça, Satanás pecou por orgulho (Ezequiel 28:15-17; 1 Timóteo 3:6). Por conseguinte, o pecado entrou no universo pela primeira vez (Gênesis 3:1-5; João 8:44; 1 João 3:8) e Deus expulsou Satanás de sua posição original no céu (Ezequiel 28:16).
Ele retém sua grande inteligência (Ezequiel 28:12,17; 2 Coríntios 2:11) e poder (Efésios 6:10-12; Judas 9) e é amplamente representado por seus demônios (Efésios 6:12; Apocalipse 12:7-9). Satanás governa o mundo e pode influenciar os crentes, mas apenas dentro da vontade permissiva de Deus (Jó 1-2, especialmente 2:6; Lucas 4:6; João 12:31; Atos 26:18; 1 Coríntios 10:13; 1 João 5:19). Cristo julgou Satanás na cruz (João 12:31; Hebreus 2:14; 1 João 3:8; Colossenses 2:15), mas a execução final desse julgamento ocorrerá quando ele for lançado no lago de fogo, onde permanecerá para sempre (Apocalipse 20:10).
No meio do período da tribulação Satanás será precipitado sobre a terra (Apocalipse 12:9), mas pouco depois será amarrado e lançado no “abismo”, depois da segunda vinda de Cristo (Apocalipse 20:1-3). Terminado o milênio ele será solto brevemente na terra e depois lançado no lago de fogo e enxofre, onde será atormentado, dia e noite, com a besta e o falso profeta, pelos séculos dos séculos (Apocalipse 20:7-10).
Finalmente, podemos agora explicar como Satanás é ilustrado pela antiga serpente:
Há passagens da Escritura onde temos de reconhecer a chamada “lei da dupla referência”. Isto é, duas coisas ou pessoas são abordadas numa só passagem, sendo necessária alguma perspicácia para distingui-las. Em Gênesis 3:15 temos a primeira ocorrência dessa lei: uma era a serpente, um ser material visível, a outra era Satanás, um ser espiritual invisível, que conspirava pela queda do homem inspirando a serpente a enganar Eva.
A semente da serpente são os seus descendentes naturais, e, no âmbito espiritual, a semente de Satanás são os homens ímpios (João 8:44; 1 João 3:8-10). A semente da mulher são os descendentes dela e, no âmbito espiritual, uma semente em especial vinda de Cristo que produz o “novo nascimento”. Existe inimizade natural entre as serpentes naturais e o homem, e no âmbito espiritual entre o ímpio e o homem “nascido de novo” (João 15:18; Gálatas 4:29; 1 João 3:12).
Mas o significado vai ainda mais longe: esta é a primeira profecia da vinda de Cristo como o Redentor que derrotaria Satanás. Jesus Cristo é a semente da mulher, gerada pelo Espírito Santo e não proveniente do homem como fora Eva (Gálatas 3:16; 4:4). A Escritura foi preenchida plenamente quando Cristo derrotou Satanás na cruz (Colossenses 2:14-17).
Assim, no âmbito espiritual a maldição contra Satanás foi a de que ele seria derrotado por Cristo, ou pisado pela Semente da mulher, e que assim o seu domínio sobre a criação de Adão seria destruído. Cristo dilacerou a cabeça da serpente no Calvário, mas a ação final de Cristo em prender Satanás e libertar a Terra de toda a rebelião é ainda futura. No segundo advento de Cristo Satanás será derrotado e lançado no abismo durante 1.000 anos. Em seguida, tendo sido liberado para enganar as nações por pouco tempo, o Difamador e Inimigo do Bem, que é o Dragão e a Antiga Serpente, será finalmente lançado no lago de fogo para sempre, com todos os rebeldes humanos e espirituais em toda a história (Apocalipse 19:11 a 20:15; 1 Coríntios 15:24-28).