Deus tem um propósito especial ao chamar os salvos para uma maneira santa de viver. É o de construir o Seu templo, que é uma casa espiritual da qual cada crente faz parte, exercendo nela um sacerdócio santo.
Historicamente, desde muito antes da vinda de Moisés, o titular de cada família era o seu sacerdote, intercedendo e oferecendo sacrifícios a Deus por si e pelos seus membros (Gênesis 8:20; 26:25; 31:54). Quando o povo de Israel foi libertado do Egito, Deus lhes disse que seriam para Ele um "reino de sacerdotes" (Êxodo 19:6), se houvesse perfeita obediência. Mas o povo desobedeceu à lei, e Deus limitou o direito ao sacerdócio à família de Arão, nomeando a tribo de Levi para ministrar aos sacerdotes, constituindo-se assim um sacerdócio típico (Êxodo 28:1).
O rei Salomão construiu um templo de pedras em Jerusalém para ser a casa de Deus e o centro da adoração. Ele substituiu o templo portátil, o tabernáculo, que era uma tenda feita por Moisés séculos antes seguindo especificações que lhe foram dadas minuciosamente pelo Senhor. Salomão admitiu que era apenas um símbolo (1 Reis 8.27). Posteriormente o templo de Salomão foi destruído por Nebuzaradã, chefe da guarda e servidor do rei da Babilônia, mas reconstruído por Zorobabel setenta anos depois. Sofreu sérios danos com a invasão dos gregos, mas foi reparado e tornado mais suntuoso pelo árabe Herodes, o Grande, para agradar os judeus. Durante séculos os sacerdotes de Israel, descendentes de Arão, serviram em um ou outro templo, obedecendo ao ritual determinado na lei de Moisés.
Mas tanto o templo, como os rituais e sacrifícios que os sacerdotes faziam, eram apenas sombra da verdade. Seus sacrifícios nunca poderiam tirar pecados (Hebreus 10.4). Jesus Cristo ofereceu, como Sumo Sacerdote, o único sacrifício aceitável e perfeito que foi o Seu próprio sangue. Após a Sua ascensão, Deus estabeleceu o Seu templo espiritual e santo (1 Coríntios 3.17), imensamente superior ao antigo, onde mora o Seu Espírito, e um sacerdócio também espiritual e santo para Lhe oferecer uma adoração que lhe é aceitável (João 4.23).
O templo é a igreja de Cristo, e todos os crentes salvos pela fé em Cristo são os sacerdotes, constituindo assim um "reino de sacerdotes" (1 Pedro 2.9; Apocalipse 1:6): o que Israel não conseguiu pelas obras da lei, Cristo conseguiu mediante a fé dos que Lhe pertencem. O sacerdócio é, portanto, um direito de nascença dos que nascem de novo pelo Espírito, assim como cada descendente de Arão nascia para o sacerdócio do Velho Testamento.
O principal privilégio de um sacerdote é acesso a Deus. Segundo a lei somente o principal sacerdote podia entrar no lugar chamado Santíssimo, ou Santo dos Santos, e isto só uma vez por ano (Hebreus 9:7). Quando Cristo morreu, o véu que separava esse recinto do resto do templo, tipo do corpo humano de Cristo (Hebreus 10:20), foi rasgado sem mãos humanas de cima para baixo. Este ato tipifica o fato que os sacerdotes deste novo templo espiritual têm acesso permanente à presença de Deus (representada anteriormente pelo lugar Santíssimo) da mesma forma que Cristo, o nosso Sumo Sacerdote, tem (Hebreus 10:19-22). Os sacerdotes em espírito, mas Ele em forma corporal (Hebreus 4:14-16; 9:24; 10:19-22).
No exercício do seu sacerdócio conforme o Novo Testamento, além de intercessões (Colossenses 4:12; 1 Timóteo 2:1) o crente oferece sacrifícios da seguinte natureza:
- Seu corpo físico, para ser usado por Deus segundo a Sua vontade (Romanos 12:1; Filipenses 2:17; 2 Timóteo 4:6; 1 João 3:16; Tiago 1:27);
- Adoração e louvor a Deus "o fruto de lábios que confessam o Seu nome", para serem oferecidos continuamente (Hebreus 13:15; Êxodo 25:22 ... "ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório");
- Seus recursos materiais (Romanos 12:13; Gálatas 6:6,10; Hebreus 13:2,16; 3 João 1:5-8; Tito 3:14).
Assim como os sacerdotes da antiguidade precisavam estar fisicamente limpos para exercer a sua função, simbolizando a sua santificação, os sacerdotes da nova aliança devem se santificar de verdade, lavando-se com a água pura da Palavra de Deus.
Existem dois pareceres, totalmente errados, concernentes à santificação. Um é que a natureza humana é tal que para poder viver para o Senhor é suficiente uma nova direção, um propósito firme e alguma mudança em seus hábitos. O segundo é que, ao nascer de novo e receber algo sobrenatural como o Espírito Santo, é suficiente ficar passivamente aguardando enquanto Deus transforma a sua vida fazendo tudo o que é preciso. Os que são deste segundo parecer tornam-se muito "piedosos", mas nunca parecem crescer para se tornarem verdadeiramente crentes atuantes, caritativos e íntegros.
Mediante o novo nascimento, pela semente incorruptível que é a Palavra de Deus, temos realmente uma natureza nova, e vivemos naquela natureza nova pelo poder do Espírito Santo. Somos introduzidos a um relacionamento carinhoso com Alguém que, sem nunca termos visto, amamos. Mas nosso amor por Ele nos dá a vontade de agradá-Lo, e O agradamos quando crescemos em santidade, o que requer um esforço considerável da nossa parte.
Sem dúvida, o grande objetivo da salvação que nos é proporcionada pelo Senhor Jesus é não somente tirar-nos da condenação ao castigo eterno, mas também nos separar do mundo onde vivemos aqui. Somos salvos para viver no céu, mas também para testemunhar aqui do nosso Salvador.
A obra de Cristo na cruz resolveu de uma vez por todas o problema da separação que havia, por causa do pecado, entre Deus e nós os que cremos. Mas quanto ao nosso crescimento em santidade, como filhos de Deus, não podemos esperar que Deus faça tudo por nós. Ele deixou algumas coisas para fazermos nós próprios.
Antes de mais nada, é absolutamente necessário que toda a malícia, engano, hipocrisia, inveja, toda a calúnia e coisas semelhantes sejam retiradas pelo crente da sua vida a fim de começar a viver em santidade. Isto depende da nossa vontade, e pode ser feito mediante o exercício da disciplina pessoal. Mas requer muita vigilância para que não voltem, sorrateiramente.
Em segundo lugar, como o leite puro para o recém-nascido, assim é o alimento espiritual contido na Palavra de Deus. Foi preparado por Deus para nossa nutrição, sem os aditivos contaminantes acrescentados por heresias e "igrejas" apóstatas. Quando é lida, submetida à meditação e aplicada no dia-a-dia, o crente realmente irá crescer até à maturidade, adquirindo um caráter santo.
Finalmente, nosso relacionamento com Cristo, o Sumo Sacerdote, nos obriga a um relacionamento estreito com os demais sacerdotes que também servem na Sua igreja: os nossos irmãos na fé. Devemos amá-los como Cristo nos amou: o desprendimento d’Ele foi tal que morreu por nós enquanto ainda éramos pecadores. Esta talvez seja a coisa mais difícil que temos que aprender a fazer nós mesmos. É o grande mandamento que o Senhor Jesus nos deixou: "Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros" (João 15:17).