AS NOVAS CONGREGAÇÕES
O CONGREGACIONALISMO
Na Escócia, no fim do século 18, dois irmãos de uma família rica e bem relacionada, Robert e James Alexander Haldane, da igreja nacional da Escócia (Presbiteriana), se converteram e passaram a estudar diligentemente as Escrituras. James casou-se e começou a ter culto doméstico em casa, onde ensinava a família. Percebeu que isto era agradável e edificante para si próprio e foi assim que o Senhor o preparou para falar em público.
Embora sem ordenação de ministro, começou a pregar o Evangelho, com outros, em pequenas congregações quando o ministro não podia comparecer. Eles próprios escreviam folhetos para distribuição. Eventualmente tomavam emprestados edifícios de igrejas para ter as suas reuniões.
Reagindo, o Sínodo da Igreja da Escócia proibiu a pregação por pessoas não licenciadas por ela, e este foi acompanhado por outros sínodos. James Haldane e seus companheiros não deram ouvidos e defenderam o dever de todo o cristão de prevenir os pecadores para fugir da ira vindoura e apontar a Jesus como o caminho, a verdade e a vida. Eles enfatizavam a justificação pela fé na morte e ressurreição de Cristo, sem as obras.
Eles se separaram da igreja da Escócia, porque não podiam mais se unir com pessoas que manifestavam que nunca se haviam convertido, e só se reuniam com os que evidenciavam ser filhos de Deus. Formaram uma igreja em Edimburgo, que começou com 300 membros e cresceu depressa. Um dos seus primeiros atos foi reconhecer James Haldane como seu pastor. Robert Haldane providenciava grandes lugares de reunião, que chamavam de “tabernáculos”, não só em Edimburgo, mas em outros lugares onde as igrejas se reuniam.
Começaram a obedecer ao exemplo e ensinamento das Escrituras, celebrando a Ceia do Senhor todos os domingos, cessaram de passar “coleta” durante as reuniões de ordem geral, mas os membros contribuíam com o que podiam. Isto foi sendo introduzido aos poucos, na medida em que compreendiam melhor a vontade do Senhor conforme as Escrituras, assim como, se não houver intervenção humana o Espírito Santo irá prover uma variedade de ministros e ministérios, o que eles tiveram a grande alegria de verificar que acontecia.
Eventualmente James se convenceu que o batismo infantil não tinha base bíblica, e outros com ele. Nem todos concordaram, e assim houve uma separação amigável em que algumas congregações mantiveram o batismo infantil, outras batizavam por imersão os que se convertiam, enquanto outras praticavam as duas coisas; alguns membros saíram, voltando para a igreja da Escócia e outras denominações.
Surgiram assim as igrejas congregacionais, que enfatizam o direito e responsabilidade de cada congregação organizada corretamente de governar a si mesma, sem ter que se submeter ao julgamento de uma autoridade humana superior, assim eliminando bispos e presbitérios. Nelas existe uma forte convicção sobre a soberania de Deus e o sacerdócio de todos os crentes. Cada igreja individual é autônoma e independente. Algumas adotaram o liberalismo teológico e social, e participam do movimento ecumênico.
No início eram chamadas apenas de igrejas independentes, e ainda o são onde se fala a língua galesa. Ultimamente elas têm se espalhado pelo mundo para formar igrejas unidas com outras denominações. Na Inglaterra elas se juntaram com as presbiterianas para formar “igrejas livres”.
A PURIFICAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS
Em várias partes do mundo continuavam a existir e a surgir novas congregações de crentes que procuravam se ater apenas às Escrituras. No início do século 19 um irlandês do norte chamado Alexander Campbell, ministro da igreja presbiteriana, emigrou para a Filadélfia, nos Estados Unidos, onde se surpreendeu ao ver que havia separações nas igrejas presbiterianas ao ponto que umas não tinham qualquer comunhão com as outras. Ele foi censurado por ter recebido na Ceia do Senhor presbiterianos que não pertenciam ao círculo em que estava.
Por defender a sua posição com base nas Escrituras, ele foi tratado com hostilidade ao ponto de levá-lo a se afastar daquela igreja. Mas continuou o seu ministério à parte, e pessoas de várias denominações se reuniram à sua congregação, descontentes com a hostilidade que havia entre as várias igrejas. Ele pregava que a união era somente possível mediante uma volta aos ensinos da Bíblia, e que uma compreensão entre o que era fé e opinião levaria a uma tolerância que muito faria para eliminar as divisões.
Campbell fez que compreendessem que as lutas e dissensões dentro das igrejas vêm como resultado de teorias e sistemas religiosos fora das Escrituras, e para haver comunhão era necessário “falar quando as Escrituras falam; manter silêncio quando as Escrituras silenciam”.
Em conseqüência, aquela congregação formou uma Associação Cristã de Washington, e fez uma declaração de objetivos onde expressaram que, assim como ninguém pode ser julgado em lugar do seu irmão ou julgar em lugar do seu irmão, cada um deve julgar por si mesmo e dar contas de si mesmo a Deus. Cada um está sujeito à Palavra de Deus, mas não a alguma interpretação humana dela. Não era a intenção deles formar uma igreja, mas apenas conscientizar os membros da sua particular igreja desses princípios, para que houvesse uma reconciliação entre elas.
AS IGREJAS INDEPENDENTES
Mas foram recebidos com hostilidade por suas igrejas, e resolveram então reunir-se como igreja obedecendo estritamente o que o Novo Testamento ensinava, e nada mais. A igreja se formou em 1811 sem denominação qualquer, com trinta membros, dos quais nomearam um presbítero e alguns diáconos. Descobriram que a igreja primitiva tinha pluralidade de presbíteros, extinguiram a distinção entre “clero” e “leigos”, passaram a ter a Ceia do Senhor todos os domingos e a batizar só os crentes, por imersão (o próprio Alexander Campbell, sua esposa, seus pais e sua irmã foram batizados em 1812), e a igreja foi abençoada, crescendo e evangelizando e assim formando outras assembléias. O mesmo ocorreu na Rússia, onde foram um exemplo do que ocorria por todo o mundo, até apelidados de “nazarenos” e eram muito perseguidos pela igreja Ortodoxa lá reinante.
Surgiu espontaneamente na Inglaterra em 1827 um movimento paralelo semelhante. Um dos pioneiros foi um dentista em Plymouth chamado Antony Groves, um evangelista dedicado, formando-se uma igreja de porte naquela localidade. Os membros se chamavam de “irmãos” entre si, e espalharam o Evangelho por outras localidades. Como não queriam adotar uma denominação, vieram a ser conhecidos como “irmãos de Plymouth”, tanto eles, como os membros de muitas outras igrejas independentes como aquela.
O Evangelho em sua simplicidade passou a ser pregado dentro de salões (geralmente chamados “Salões do Evangelho”) e ao ar livre, formando-se igrejas baseadas apenas e inteiramente no ensino bíblico, sem clericalismo ou rituais, mas obedecendo às ordenanças do batismo (por imersão) e Ceia do Senhor. As igrejas se multiplicaram, mantendo sua independência entre si, e enviaram missionários para todo o mundo para pregar o Evangelho de Cristo, sem tomarem para si qualquer denominação.
OS DARBISTAS, TAMBÉM CHAMADOS DE “IRMÃOS EXCLUSIVISTAS”
Na Irlanda um ministro anglicano, de grande erudição, chamado John Nelson Darby participou da formação de uma destas igrejas. Ele fez uma tradução da Bíblia a partir dos textos originais ainda hoje considerada excelente, e desenvolveu um grande ministério de evangelização e ensino.
Mas Darby não abandonou o batismo infantil, prática da igreja anglicana, e manteve um ponto de vista sobre o governo da igreja semelhante ao episcopal, ou mesmo o catolicismo, em que as igrejas locais devem se submeter a uma direção centralizadora (no caso, ele próprio). Teve outras teorias sobre a igreja primitiva que o separavam do entendimento comum da maioria das igrejas neo-testamentárias.
Eventualmente ele cortou a comunhão com as igrejas que não admitiam as suas idéias, e tornou-se o titular das igrejas que o seguiam, introduzindo nelas uma disciplina severa e proibindo a comunhão com qualquer outra igreja, denominacional ou independente.
Suas igrejas portanto ficaram sendo conhecidas como igrejas dos “irmãos exclusivos” ou darbistas. Vemos como Darby partiu em direção oposta à de Campbell: este reuniu membros de várias igrejas ao voltar-se para o ensino do Novo Testamento, enquanto Darby dividiu igrejas com seu ensino e tirania. Esse exclusivismo resultou também em mais divisões internas dessas igrejas que o acompanhavam, nas ilhas britânicas e nos EUA.