Transcrito por James D. Crawford
Editado pela Echoes of Service
Traduzido por R. David Jones
Esta é uma boa pergunta, uma vez que os “irmãos”, embora não tenham nenhuma organização central ou sistema de controle, ou, na verdade, qualquer hierarquia de gestão, têm-se propagado por todo o mundo durante os últimos 160 anos, e fizeram um impacto evangélico bastante fora de proporção com os seus números.
Enquanto se pode dizer que houve grupos de cristãos ao longo dos séculos desde os tempos do Novo Testamento que se reuniram em conformidade com os princípios revelados no Novo Testamento (como tem sido bem documentado por Broadbent, Carron e outros), houve, no entanto, um notável despertar no início do século XIX para a comunhão que os cristãos podiam desfrutar juntos nas Escrituras, uma fraternidade que tinha sido em grande parte perdida sob a restrição do formalismo desenvolvido a essa altura pela igreja estabelecida.
Em vários lugares da Grã-Bretanha e da Europa, e independentemente uns dos outros, pequenos grupos de cristãos começaram a se reunir para estudo das Escrituras, fora de quaisquer limitações eclesiásticas ou restrições denominacionais à sua veemente investigação do ensinamento divino, e logo descobriram que os sistemas e práticas da igreja existente, formando a maior parte da sua prática e experiência religiosa, não podiam ser sustentados pela evidência do Novo Testamento. Muitas das pessoas nesses grupos, por conseguinte, se retiraram das suas conexões anteriores e começaram a realizar reuniões entre si para estudo da Bíblia e, como resultado iniciaram a reunião para a Ceia do Senhor semanal, seguindo o exemplo da igreja primitiva, como visto no livro dos Atos dos Apóstolos e em 1ª Coríntios.
Este movimento espontâneo, em seguida, atraiu outras pessoas que estavam também pesquisando as Escrituras e, por fim, a existência destes grupos logo se tornou amplamente conhecida em todo o Reino Unido, Irlanda e no continente europeu. Pelo fato de que um dos primeiros desses encontros se localizou em Plymouth na Inglaterra, os cristãos dali se tornaram conhecidos como “irmãos de Plymouth”. Os membros desses grupos, no entanto, tinham evitado adotar qualquer nome sectário, usando apenas o termo bíblico tão usado para grupos semelhantes no livro dos Atos, descobrindo que outros os designavam como “Irmãos”, e mais tarde Irmãos Abertos para os distinguirem de um partido que tinha se separado, que mais tarde se tornou conhecido como Irmãos Exclusivos.
Assim como os grupos dos cristãos do Novo Testamento, os “irmãos” se tornaram muito ativos. Na verdade, iam por toda parte, anunciando o Evangelho (Atos 8:4), e também pode se dizer que eles transtornaram o mundo (Atos 17:6). Por exemplo, bem do outro lado do mundo, na Nova Zelândia, é evidente que o contemporâneo surto de emigração para esse novo país em desenvolvimento ensejou a ida de evangelistas para lá também. Outros “irmãos”, notáveis por seu dom como pregadores e expositores das Escrituras, vez por outra visitaram essa colônia (como então era) durante o século XIX, de modo que se estabeleceu um testemunho muito ativo também entre os antípodas (da Inglaterra).
Paralelamente a este impulso positivo em proclamar o Evangelho, desenvolveu-se uma notável compreensão do conteúdo profético das Escrituras, que em si mesma atraiu muitos dos sistemas eclesiásticos. Esse desdobramento das Escrituras realmente refletiu uma das principais características do assim chamado "movimento dos Irmãos”, a presença entre eles de um número significativo de homens que estavam completamente familiarizados com as suas Bíblias e bem capazes de expor a Palavra de Deus. Aqui reside outra característica deste movimento, a aceitação da Bíblia como a Palavra inspirada de Deus, a única e última autoridade para toda doutrina e prática.
A doutrina adotada pelos “irmãos” nunca foi formulada como uma declaração de fé, mas é claramente entendida como envolvendo o estado universal de pecador do homem caído, incapaz de fazer ele próprio qualquer sacrifício expiador, sendo a sua redenção assegurada apenas mediante a morte de Jesus Cristo, o Filho de Deus, e obtida essencialmente por uma fé pessoal na Sua morte sacrificial, como estabelecido na primeira metade da Epístola de Paulo aos Romanos. Uma fé firme na ressurreição corporal e na ascensão de Cristo, e do Seu retorno pessoal, primeiramente para o arrebatamento da Sua Igreja e depois para reinar na terra, também é mantida.
O batismo por imersão é observado, limitado aos que confessam ter fé pessoal em Cristo; por isso, o batismo infantil é rejeitado. A observância semanal da Ceia do Senhor, como a parte central do culto de adoração é mantida, e aqui uma pluralidade de participantes é o padrão, decorrente das evidências bíblicas do sacerdócio de todos os crentes, mediante o qual todos os irmãos em qualquer igreja local podem exercer a função sacerdotal de oferecer adoração, estando isso também em conformidade com os princípios vistos em 1 Coríntios 14:26, 29-31. Um irmão pode anunciar um hino, com outro liderando em uma oração de agradecimento e adoração, ou em uma leitura da Sagrada Escritura e uma exposição adequada à adoração. Nessas reuniões de lembrança um tema determinado frequentemente surge que em si próprio destaca o espírito de adoração. Não há uma ordem em particular regulamentada ou predeterminada para tais contribuições nesta reunião, e, no entanto, o sentido geral de reverência e responsividade devocional é muitas vezes evidente, estando todos sujeitos à liderança do próprio Espírito Santo.
Foi já mencionada a atividade vigorosa na pregação do Evangelho, e isto não foi menos evidente no início da colonização da Nova Zelândia, pois irmãos dedicados se submeteram a itinerários longos e árduos em que eram essencialmente pioneiros, a cavalo, a pé ou usando carroças (ou carruagens) puxadas por cavalos, para penetrar todas as partes do país onde os colonos se encontravam, à medida que a terra se abria para a agricultura, sendo que parte do seu território era bastante inóspito segundo os padrões mais conhecidos por eles em sua pátria, a Grã-Bretanha. Mas seus trabalhos foram recompensados na medida em que muitos se converteram ao Senhor, não só entre os colonizadores europeus, mas também entre os nativos maoris, tendo alguns irmãos aprendido o idioma nativo para melhor alcançar estes indígenas.
O resultado desses esforços foi tal que um grande número de assembleias foram estabelecidas em todo país, tendo a grande maioria continuado até os dias atuais, sendo que atualmente existem cerca de 250 delas em uma população total de pouco mais 3 milhões de habitantes. Não se sabe exatamente o número de adeptos na Nova Zelândia, uma vez que os irmãos nem sempre se declaram como tal nos recenseamentos e, além disso, não dispõem de alguma autoridade organizada ou central de controle, da qual se poderia obter tais estatísticas, mas uma estimativa a grosso modo poderia chegar a uma porcentagem de cerca de 1% da população, cerca de 30 mil.
Uma característica dos “irmãos” tem sido sua forte ênfase no evangelismo. Este se estendeu rapidamente para além das suas fronteiras nacionais, pois muitos irmãos e irmãs deixaram a sua terra nativa para levar a mensagem para outras terras. Um trabalho muito frutífero foi desenvolvido na África Central, enquanto muitos também serviram na Índia, na China e no continente sul-americano.
Com o tempo o mesmo ardor missionário tornou-se evidente na Nova Zelândia, e um grande número saiu deste país, de forma especial para a Índia, a China e a África, embora sejam raras as áreas do mundo onde os neozelandeses não tenham servido de alguma forma ou outra. Os números têm sido altos em relação ao conjunto total da população. Se perguntarmos o que motivou tantos a irem para o exterior com o Evangelho, muitas vezes para áreas linguísticas difíceis ou de culturas tão fundamentalmente diferentes, é mais provável receber a resposta que atenderam a um definido impulso do coração e um apelo do Senhor para tal serviço missionário.
Aqui encontramos novamente uma distinta característica dos “irmãos”: sem qualquer autoridade centralizada, ou supervisão de um conselho ou sociedade, eles podem sair por conta própria de uma assembleia local, com a recomendação dessa assembleia, para o trabalho que se sentem chamados a assumir, muitas vezes sem ter qualquer apoio financeiro garantido ou regular, e depois continuar a trabalhar num campo estrangeiro por muitos anos.
Finalmente, uma estudante no último ano da sua faculdade de medicina participou de uma equipe, sob os auspícios de um grupo de assistência, para desenvolver um programa de curto prazo em uma determinada área. O interesse dos seus companheiros logo foi despertado quando notaram que ela era convidada todas as noites para sair, enquanto eles apenas se assentavam em torno da sua base com pouco ou nada para fazer. Após indagações eles todos sentiram que também deviam se juntar aos irmãos, porque ela havia encontrado irmãos ali (Atos 28:14). E para aqueles irmãos que não são missionários que viajaram muito, até mesmo em países estrangeiros de línguas desconhecidas, a fraternidade e o amor fraterno e a comunhão que experimentaram são ainda outra característica dos “irmãos”.