Recentemente houve grande publicidade, curiosidade e até esperança ou receio por causa de previsões do “fim do mundo” feitas por uma pessoa que se diz crente e estudante das Escrituras. Ele insiste no disparate de procurar calcular a data da volta de Cristo com base nas profecias bíblicas interpretadas pelos acontecimentos recentes e atuais, e proclamar o resultado das suas pesquisas como se fosse o que a Bíblia diz. Como suas previsões não se têm cumprido, ele e seus seguidores estão sendo agora ridicularizados, com prejuízo também do ensino bíblico, pois o povo em geral não sabe distinguir os falsos ensinadores.
Ele não foi o primeiro a fazer previsões desta ordem. Já em 1555 a.D o boticário prognosticador francês Michel de Nostredame, latinizado como “Nostradamus”, publicou seus escritos crípticos, e estes foram ligados pelos seus admiradores a dezenas de acontecimentos históricos, embora sua linguagem seja habilmente absconsa em sua totalidade. Um texto dele se tornou famoso por suas sugestões apocalípticas: “No ano 1999 e sete meses, descerá do céu o grande rei do terror” e isto não aconteceu, para alívio de muita gente...
Um pregador batista chamado Miller, nos EUA calculou pelos seus estudos bíblicos que o mundo terminaria em 1843 com a vinda de Jesus Cristo. Convenceu muita gente, mas recusou fixar uma data definida, dizendo apenas que seria entre 21 de março de 1843 e a mesma data em 1844. Não ocorrendo o previsto, ele mudou a data para 22 de outubro de 1844. Esta data passou a ser conhecida como o dia do Grande Desapontamento. Miller morreu em 1849, ainda convencido que o dia de julgamento estava prestes a chegar. Foi um dos fundadores da seita dos adventistas.
Houve muitos outros, que não temos espaço para relatar aqui. Para nós não é surpresa o surgimento dessas profecias, interpretações errôneas e “outros evangelhos”, pois são previstos nas Escrituras, e é interessante ver que a maioria dos textos concernentes à segunda vinda do Senhor Jesus também estão acompanhados por prevenções sobre falsas profecias, por exemplo:
• “Nesse tempo... hão de surgir muitos falsos profetas, e enganarão a muitos” (Mateus 24:11).
• “Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo ali! não acrediteis. Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão sinais e prodígios para enganar, se possível, até os escolhidos. Ficai vós, pois, de sobreaviso; eis que de antemão vos tenho dito tudo” (Marcos 13:21-23).
• “Mas houve também entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá falsos mestres, os quais introduzirão encobertamente heresias destruidoras... e muitos seguirão as suas dissoluções, e por causa deles será blasfemado o caminho da verdade; também, movidos pela ganância, e com palavras fingidas, eles farão de vós negócio; a condenação dos quais já de largo tempo não tarda e a sua destruição não dormita” (2 Pedro 2:1-3).
É especialmente errôneo procurar marcar datas no calendário para os acontecimentos previstos, pois, como disse o próprio Senhor Jesus aos Seus discípulos: "A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria autoridade" (Atos 1:7). Qualquer "dedução", por mais verossímil que pareça ser, frente a algum versículo das profecias bíblicas, é mero "palpite" ou pior, "adivinhação" como a Bíblia ensina em Jeremias 14:14 "E disse-me o Senhor: Os profetas profetizam mentiras em meu nome; não os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei. Visão falsa, adivinhação, vaidade e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam".
Embora esses que dizem ser intérpretes das Escrituras afirmem que não estão introduzindo novas profecias porque se baseiam no texto sagrado, o fato é que estão dando a elas uma interpretação toda nova que só eles compreendem. A Bíblia nos ensina: “...nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (2 Pedro 1:20,21).
A Bíblia também nos ensina como testar se alguém é profeta de Deus: “Mas o profeta que tiver a presunção de falar em meu nome alguma palavra que eu não tenha mandado falar, ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá. E, se disseres no teu coração: Como conheceremos qual seja a palavra que o Senhor falou? Quando o profeta falar em nome do Senhor e tal palavra não se cumprir, nem suceder assim, esta é a palavra que o Senhor não falou; com presunção a falou o profeta; não o temerás.” (Deuteronômio 18:20-22). Deus não pode errar. Se uma profecia (ou interpretação de uma profecia) for dada por Deus, ela se cumprirá. Se não, o profeta (ou o intérprete) é falso. Ele é anátema, maldito (Gálatas 1:9), pois está ensinando um Evangelho que não é o que nos foi dado “...os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo” (2 Coríntios 11:13).
Contudo, Deus não nos deixou ignorantes a respeito do “fim dos tempos” havendo várias profecias na Bíblia e indicações que é uma realidade dentro da Sua soberana programação. A maioria das profecias do Velho Testamento têm muitos detalhes, especialmente no que concerne ao povo de Israel. No Velho Testamento, destacam-se, pelo seu volume, as profecias de Isaías, Jeremias e Daniel. Através de Daniel (uns 2.500 anos atrás) somos avisados da sequência e duração de alguns eventos, a maioria dos quais já aconteceram, mas os últimos ainda estão no futuro para nós. O Novo Testamento também os tem, especialmente no livro da Revelação de Jesus Cristo, que é nossa suprema autoridade.
Nosso Deus, soberano, sabe tudo o que há de vir. Pela Sua graça, Ele nos dá a conhecer pela Sua Palavra aquilo que nos convém e o faz de maneira clara para que o possamos compreender quando o Espírito Santo abre as nossas mentes. A palavra “segredo”, que também é traduzida como “mistério”, aparece 6 vezes (caldeu râz) no livro de Daniel, e em grego 21 vezes (mustêrion) no Novo Testamento, sendo uma vez pronunciada pelo Senhor Jesus em Marcos 4:11, duas vezes no Apocalipse, e o restante em epístolas do apóstolo Paulo aos romanos, coríntios, efésios, colossenses e a Timóteo. Sempre se refere à revelação por Deus ao Seu povo, na hora apropriada, de coisas que só são do Seu conhecimento.
Em Daniel 12, por exemplo, quando perguntou “quanto tempo haverá até o fim destas maravilhas..., Senhor meu, qual será o fim destas coisas?” a resposta foi: “Vai-te, Daniel, porque estas palavras estão cerradas e seladas até o tempo do fim”. A futura existência da igreja de Cristo, em um período de cerca de dois milênios, pelo menos, não lhe foi revelada, sendo um “mistério” divulgado pelo Senhor Jesus por parábolas (Marcos 4:11) e esclarecido por Paulo em suas epístolas (Romanos 11:25, 16:25, 1 Coríntios 2:7, Efésios 1:9, 3:3,4,9, 5:32, 6:19, Colossenses 1:26,27, 2:2, 4:3, 1 Timóteo 3:9). Em vão vamos procurar encontrar profecias a respeito da igreja no Velho Testamento, pois era um “mistério” ainda não revelado, embora possamos encontrar certos paralelos, como a escolha da noiva de Isaque, figuras daquilo que somente Deus sabia que iria ocorrer.
Outros dois grandes mistérios que nunca antes foram revelados também foram transmitidos à igreja através do apóstolo Paulo: o arrebatamento da igreja (1 Coríntios 15:51, 1 Tessalonicenses 4:13-17) pelo Senhor Jesus Cristo, e a detenção da ação do “iníquo” (2 Tessalonicenses 2:7). Lamentavelmente muitos crentes não têm dado a importância devida a estas revelações e continuam com uma ideia muito vaga a respeito deles, e, portanto, do último período de sete anos da profecia de Daniel (Daniel 9:26) descrito em detalhes no livro do Apocalipse.
Em vista disso, não sabem explicar como encaixar o período da igreja nas profecias do Velho Testamento (impossível, pois não fora revelado ainda), o arrebatamento da igreja previsto pelo Senhor Jesus (João 14:3), a grande tribulação, também prevista por Ele (p.ex. Mateus 24:21-29, Marcos 13:19-24) e quase todo o Apocalipse que nos fala do Dia do Senhor, que Ele nos esclareceu através de João, bem como o “milênio” que é descrito com detalhes nas profecias do Velho Testamento, e também é mencionado no Apocalipse.
Isto é muito lamentável, pois o que Deus nos revela em Sua Palavra não é mais mistério, e sim realidade. Não deve ser considerado como simples fábulas, ditos ainda misteriosos que as mentes mais esclarecidas poderiam transformar em aplicações espirituais aos tempos em que vivemos. É o que fazem os falsos ensinadores, que devem ser rechaçados das igrejas.
O “fim do mundo”, ou melhor, a sua substituição por um novo mundo, céu e terra, certamente está previsto nas Escrituras, mas, segundo nos é explicado no Apocalipse, isto só se dará depois do arrebatamento da igreja, da grande tribulação, e do reino milenar de Cristo (Isaías 65:17, 66:22, 2 Pedro 3:13, Apocalipse 21:1).
Só Deus sabe o futuro, e já nos revelou tudo o que nos compete saber em Sua Palavra (Apocalipse 22:18-19). A Sua Palavra é firme e confiável, e deve ser a luz que nos guia os passos. O que sabemos do futuro, nos foi dado saber por Ele para a nossa instrução e fortalecimento da nossa fé. Os que estiverem aqui durante o período da tribulação e se converterem, terão a consolação de saber que Deus está em controle, e que será de curta duração. Saberão também que, se forem mortos por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que derem, receberão a bênção de Deus (Apocalipse 6:9-11, 14:13).
Nós, porém, que somos da igreja de Cristo, temos “pátria nos céus, donde também aguardamos um Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o corpo da nossa humilhação, para ser conforme ao corpo da sua glória, segundo o seu eficaz poder de até sujeitar a si todas as coisas” (Filipenses 3:20,21), e seremos levados por Ele ao lugar preparado para nós na casa do Pai (João 14:2,3).