João 4:27-42
Os discípulos ficaram atônitos ao ver Jesus falando com uma mulher em público. Havia um preceito rabínico: “Nenhum homem fale com uma mulher na rua, nem com a sua própria esposa”. Os discípulos consideravam Jesus um rabino e julgavam que estava agindo de forma indigna da sua posição. João se lembrou através dos anos o assombro deles e também a reverência que tinham por Jesus e a indisposição em questioná-Lo sobre isso. Aparentemente a mulher partiu imediatamente quando os discípulos vieram, deixando para trás a vasilha de água em sua precipitação para contar na cidade as boas notícias sobre o possível Messias, e decerto intencionando voltar.
Ela entrou na cidade de Sicar onde vivia e convidou os homens de lá para irem ver “um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo?”. Talvez sua consciência culpada a levou a exagerar um pouco. É possível que ela já estivesse convencida da Sua identidade, mas não o declarou para evitar oposição, e com intuição feminina apenas despertou a sua curiosidade para que eles mesmos fossem até Ele para ouvi-Lo pessoalmente.
Os homens saíram imediatamente e foram ter com Jesus.
No intervalo, os discípulos rogavam que Ele comesse, dizendo: “Rabi, come”, mas Ele aproveitou para dar-lhes uma lição espiritual, e disse que tinha alimento para comer que eles não conheciam. Com isso ficaram curiosos para saber se alguém já Lhe havia trazido comida. Mas era uma metáfora e Ele explicou.
A consciência Messiânica do Senhor se mostrou clara e firme na Sua resposta, como sempre foi, até mesmo na Sua infância (Lucas 2:49). Ele sabia que o Pai O enviara “para completar a Sua obra”. Em Sua oração intercessora (João 17:4) disse que tinha completado esta tarefa que o Pai Lhe deu fazer. Ao morrer na cruz gritou “está consumado” (João 19:30, veja também 3:16). Sua comida era a nutrição espiritual, que envolvia levar a cabo o programa do Pai.
Nossa comida espiritual também envolve mais do que o simples estudo da Bíblia, oração e comparecimento às reuniões da igreja. A nossa nutrição espiritual também consiste em fazer a vontade de Deus e ajudar a completar a Sua obra de salvação. Somos nutridos não só pelo que absorvemos, mas também por aquilo que distribuímos para Deus. O Senhor tinha estado fazendo isso quando voltava a mulher para Deus e agora estava esperando pela chegada dos homens de Sicar - Ele sabia que estavam a caminho.
Faltavam ainda quatro meses para chegar o tempo da colheita do mês de abril. Não haveria ainda sinal de grão maduro nos campos, mas os samaritanos que se aproximavam e já podiam ser vistos pelos discípulos eram “os campos brancos para a ceifa”.
O ceifeiro espiritual pode fazer sua colheita sem esperar quatro meses: Jesus estava fazendo uma colheita naquela hora pela conversão daquela mulher. Às vezes nós nos desculpamos de testemunhar dizendo que nossa família ou amigos não estão ainda prontos para crer. Nossa colheita está à espera para ser ceifada. Não deixe que Ele nos encontre fazendo desculpas. Vamos olhar em volta e veremos pessoas dispostas a ouvir a Palavra de Deus.
A colheita espiritual consiste em proclamar o Evangelho de Cristo para o espiritualmente faminto e sedento (v. 14). Amós (9:13) falou do tempo quando o lavrador alcançará o ceifeiro e isso aconteceu nesta ocasião, tendo ambos a alegria do tempo da colheita (Isaías 9:3). Jesus, o Semeador, e os discípulos como os ceifeiros estavam aqui se alegrando simultaneamente.
O trabalhador é digno do seu salário (Lucas 10:7; 2 Timóteo 2:6) e os salários dos trabalhadores envolvidos na cultura espiritual recebem a recompensa no gozo de servir ao Senhor e de ver as conversões que se seguem. Na Sua parábola do semeador, o Senhor Jesus esclareceu que o semeador é quem semeia a Palavra. Os ceifeiros é que colhem o fruto, mas a colheita também envolve trabalho buscando os que amadurecem para a conversão. Tanto o semeador quanto o ceifeiro servem o Senhor e se regozijam com as almas convertidas que entram no reino dos céus.
O ditado “um é o que semeia, e outro o que ceifa”, se cumpria naquela ocasião porque os homens samaritanos já haviam sido preparados pelo testemunho da mulher e o conhecimento que tinham da vinda do Messias anunciada pelos profetas. Os judeus também haviam sido preparados pelos profetas, João Batista e o próprio Senhor Jesus. Os gentios tinham e ainda têm que ser preparados com sementeira prévia. Hoje se faz mediante a distribuição de Bíblias e literatura cristã, e programas fiéis ao ensino bíblico no rádio, televisão e internet, além do trabalho evangelístico pessoal.
Na maioria das vezes os semeadores não vêm o resultado dos seus esforços perdendo assim a alegria de colher (Jó 31:8), e só têm a semeadura em lágrimas (Salmo 126:5). Às vezes a pessoa colhe onde não semeou (Deuteronômio 6: 11; Josué 24:13). Colher é a prerrogativa do Mestre (Mateus 25:26), mas Jesus aqui deixou os discípulos compartilharem da Sua alegria. A alegria da salvação sempre envolve participação (Atos 8:5-7). Os discípulos não tinham feito qualquer semeadura em Sicar, só Jesus e a mulher, mas eles participaram do resultado abençoado do seu trabalho.
A mulher teve parte nesta colheita porque apresentou seu testemunho claramente e com discrição, contando o suficiente para trazer os seus vizinhos à fé em Cristo. Talvez somos tímidos e covardes ao ponto de não nos dispormos a dar logo o nosso testemunho de Cristo ao nosso vizinho. A mulher samaritana compartilhou a experiência que teve imediatamente com os outros. Como resultado, apesar da sua reputação, muitos creram n'Ele pelo que ela lhes disse, e os samaritanos saíram para conhecer o Homem que ela disse que poderia ser o Messias.
Talvez haja pecados em nosso passado dos quais estamos envergonhados. Mas Cristo nos muda e como as pessoas veem estas mudanças, elas ficam curiosas. Use estas oportunidades para as apresentar a Ele.
Os samaritanos queriam aprender mais de Jesus Cristo. Então Ele cortesmente lhes concedeu dois dias durante os quais muitos mais vieram a ter fé n’Ele por causa da Sua pregação, uma experiência das mais inesperadas em vista do mau relacionamento entre os judeus e os samaritanos (v. 9). A ceifa se desenvolveu gloriosamente, pois muitos mais creram por causa da palavra d’Ele.
O Senhor tinha dito à mulher que a salvação vem dos judeus (v. 22). Ele explicou claramente aos samaritanos durante estes dois dias que Ele era o Messias, como tinha dito à mulher (v. 26), que era Salvador de samaritanos assim como dos judeus. O Seu ensino foi suficiente para que aqueles homens compreendessem que Ele era o Salvador do mundo.