Isaías 42:18-23
O Senhor manda que os surdos ouçam e que os cegos vejam.
Esta é a Sua ordem ao Seu povo, Israel, aqui chamado de “servo dedicado, consagrado ao Senhor”, que se fez cego embora tivesse olhos, o “mensageiro enviado pelo Senhor” que se fez surdo, embora tivesse ouvidos.
Esse Seu povo não andava pelos Seus caminhos, nem obedecia à Sua lei. Mesmo quando submetido ao castigo de Deus, ele não percebia nem se compenetrava de que vinha de Deus. Não se lembrava das muitas coisas que via, nem dava ouvidos às mensagens de Deus.
Em Sua justiça, o Senhor engrandeceu a lei tornando-a gloriosa. Mas o povo não Lhe deu atenção, não obedeceu ao concerto que Deus fizera com ele, e agora era um “povo roubado e saqueado; todos estão enlaçados em cavernas, e escondidos nas casas dos cárceres; são postos por presa, e ninguém há que os livre; por despojo, e ninguém diz: Restitui” (versículo 22).
A glória da lei se revelou mais tarde no caráter e na vida do Senhor Jesus. Sobre Ele o Salmo 40 informa em seu versículo 8: “Deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus meu; sim, a tua lei está dentro do meu coração". Sua obediência perfeita é sucintamente descrita em Filipenses 2:8... "Cristo Jesus... humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz”, ou seja, foi obediente desde o início do dia da Sua encarnação até o clímax da Sua obediência na Cruz.
O Filho de Deus foi assim o único ser humano, habilitado por causa da Sua inocência, a levar sobre Si o pecado dos que se arrependem e confiam n’Ele, recebendo-O como seu Senhor e Salvador. Sua obra na cruz foi “um ato de justiça” (Romanos 5:18), em contraste com a ofensa do primeiro homem, Adão.
A lei colocou todos os homens sob condenação, mas a morte de Cristo traz "justificação e vida" (Romanos 5:18). Assim, o Senhor demonstrou Sua justiça inabalável ao fornecer a base sobre a qual a justificação é concedida ao pecador mediante a fé. A lei foi feita honrosa, ou seja, gloriosa, assim que foi "estabelecida" (Romanos 3:31) e pode ser cumprida, não como um meio de adquirir vida, mas por aqueles que já têm vida. Esta é a essência do Evangelho proclamado pelos que são enviados por Cristo.
Os últimos versículos deste capítulo apelam aos leitores para dar atenção ao chamado do Senhor, nele contido, para que ouçam, vejam e se compenetrem da origem do Seu juízo. Havia, como sempre houve, um remanescente pequeno dos que temiam o nome do Senhor, esperavam a consolação de Israel, e estavam dispostos a obedecer à voz de Deus.
Hoje existem crentes, salvos pela sua fé no Senhor Jesus, cujos ouvidos estão abertos para ouvir a voz de Deus e vão "dar ouvidos, atender e ouvir doravante” (versículo 23). As Escrituras constantemente apontam para o povo de Deus eventos futuros, determinados pelos planos infalíveis de Deus. Esses textos são geralmente chamados profecia, e não poucos os consideram demasiadamente profundos para a sua consideração e com pouco efeito prático sobre o cotidiano e o trabalho do crente.
Na realidade, a verdade é o oposto. A igreja que se reunia em Tessalônica era ainda muito nova quando o apóstolo Paulo, em seu trabalho pioneiro, os instruiu sobre a vinda do “dia do Senhor” que seria precedido pelo “homem do pecado” e outros assuntos do futuro (2 Tessalonicenses 2). Essa instrução não apenas orientava os seus pensamentos, mas era uma barreira contra as influências do mundo. Mais ainda hoje, quando se aproximam os "tempos vindouros", é importante ouvirmos o que Deus nos informa em Sua palavra a respeito do futuro e nosso destino eterno, para compreendermos o que se passa agora e nos prepararmos para o que está para vir.
A característica mais triste do estado do povo de Israel nos tempos do profeta Isaías, quando sofriam as consequências do seu grave pecado contra o Senhor, foi que não se compenetravam da origem das calamidades que lhes vinham. O próprio Senhor havia entregue “Jacó por despojo, e Israel aos roubadores” (versículo 24).
A nação de Israel foi preservada até nossos dias porque o Senhor não a abandonou definitivamente, mas até hoje continua derramando a indignação da Sua ira sobre ela. O Senhor promete que, finalmente, um dia “derramarei o espírito de graça e de súplicas; e olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão como quem pranteia por seu filho único; e chorarão amargamente por ele, como se chora pelo primogênito” (Zacarias 12:10). Esse remanescente reconhecerá o seu pecado, e prantearão por terem rejeitado e traspassado (ou crucificado), o Senhor encarnado em Jesus Cristo.
Estas palavras foram escritas para que não deixemos de discernir os propósitos graciosos, a sabedoria, o amor, que estão por trás da mão punidora do Senhor. Curvemo-nos em uma submissão que compreende o motivo e significado do Seu comportamento conosco, cônscios de que o que o Senhor faz é para o nosso bem, para que sejamos participantes da Sua santidade. Este é o ápice da bem-aventurança e compreende os meios de poder no nosso serviço! Assim, os Seus caminhos nos farão produzir “um fruto pacífico de justiça” (ler Hebreus 12:4-11).