Oliveira: cultivada e brava

 

A oliveira é uma árvore nativa das áreas costeiras orientais do mar Mediterrâneo, cujo fruto é a azeitona, rica em azeite, e usada desde a antiguidade como alimento e medicação. Essa árvore é mencionada na Bíblia dezenas de vezes: uma folha da oliveira foi trazida por uma pomba a Noé ao término do dilúvio, o azeite de oliveira era usado no candeeiro do tabernáculo, sua madeira foi usada no templo pelo rei Salomão. Davi subiu pela encosta do monte das Oliveiras, chorando, quando fugia do seu filho Absalão etc. O Senhor Jesus costumava ir frequentemente ao monte das Oliveiras quando estava em Jerusalém, e ali pisará em sua volta para estabelecer o Seu reino milenar. Duas oliveiras são mencionadas no livro do Apocalipse para representar dois profetas que testemunharão de Cristo em Jerusalém por três anos e meio.

Em Romanos 11:16-36 o apóstolo Paulo usa dois tipos de oliveira em uma ilustração: 

1) A cultivada, que produz azeitonas, tem vida longa, conhecendo-se algumas árvores que já viveram por séculos, algumas por milênios. É altamente valorizada por causa do seu fruto, bem como sua madeira. Em sua ilustração, a situação de privilégio de Abraão e da sua descendência diante de Deus é representada pela oliveira cultivada, que nos fala da “bondade” de Deus. Os israelitas nasciam e cresciam na árvore cultivada, mas a nação foi cortada e lançada fora quando rejeitou Jesus Cristo, o Messias prometido, com a exceção de um remanescente que se converte. Mas os que foram cortados ainda podem ser enxertados nessa árvore ao se converterem a Cristo.

2) A oliveira-brava, também chamada “zambujeiro”, é uma planta inútil porque não produz frutos comestíveis, e é um arbusto do qual nem a madeira é aproveitável. A oliveira-brava representa a “severidade” de Deus frente à incredulidade do mundo (Romanos 11:22-23). Os gentios, sem ter o privilégio dos israelitas, são galhos da oliveira-brava. No entanto, ao se salvarem mediante a fé em Cristo, são como que enxertados na árvore cultivada e assim participam da “bondade” de Deus ilustrada pela raiz e seiva da árvore.

Um dia, quando entrar a “plenitude dos gentios”, esse endurecimento de Deus que veio em parte sobre Israel por causa da sua rejeição cessará, e todo o Israel será salvo: ou seja, no dia da plenitude dos gentios, a igreja de Cristo, completa, será arrebatada (João 14:3, 1 Tessalonicenses 4:17), os israelitas reconhecerão o Senhor Jesus como Messias e se converterão (Romanos 11:25,26).

No início do capítulo 11 de Romanos, Paulo pergunta se Deus rejeitou o Seu povo (Israel), e imediatamente responde enfaticamente: “de modo nenhum”. Abraão foi ricamente abençoado por Deus por causa da sua fidelidade, incluindo a sua descendência através de Isaque e Jacó, sendo este cognominado Israel, que significa “tens lutado com Deus e com os homens e tens prevalecido” (Gênesis 32:28). Se Deus tivesse rejeitado Israel, nenhum israelita poderia ser salvo. No entanto, muitos israelitas estão sendo salvos pela sua fé em Cristo, assim como o próprio apóstolo Paulo, cujas credenciais como um israelita eram impecáveis. A rejeição do Messias por Israel não foi de todo o povo, e Deus não rejeitou ou abandonou o Seu povo.

O fato que Paulo se refere a Israel como o povo de Deus na atualidade mostra que ainda é o povo escolhido de Deus – é o povo que “antes conheceu”, isto é, em Sua presciência. Como exemplo, parecia a Elias que só ele ficara dos profetas do Senhor e sua vida estava em perigo iminente. Mas Deus o informou que tinha reservado para si mesmo sete mil homens que se recusavam firmemente a seguir a nação que adorava Baal (1 Reis 19:10-18). Sempre houve um “remanescente” fiel a Deus, embora fosse às vezes pequeno, ao contrário dos gentios onde prevalece a apostasia.

A eleição da graça é o padrão segundo o qual o “remanescente” existe. Não segundo a lei de Moisés (capítulo 10:4), mas na base da graça. Esse remanescente existiu no passado, existe no presente, e continuará a existir no futuro. Esse é o “Israel de Deus” em Gálatas 6:16. A graça e as obras se excluem mutuamente, pois o que é alcançado pelas obras não o é pela graça. Felizmente a eleição, ou escolha de Deus, é pela graça e não pelas obras, senão ninguém alcançaria as condições necessárias para ser escolhido.

O “remanescente” alcançou a justificação pela graça, mas a nação de Israel como um todo não a obteve porque confiou nas suas próprias obras, e como consequência foi endurecida. É importante notar que a distinção não é entre Israel e a igreja de Cristo, ou entre israelitas e gentios, mas entre israelitas crentes e israelitas incrédulos. A existência de israelitas crentes, salvos pela sua fé, é evidência que Deus não rejeitou o Seu povo por completo. O endurecimento dos israelitas incrédulos já fora previsto no Velho Testamento (Deuteronômio 29:4, Salmo 69:22,23 e Isaías 29:10). Deus os deixaria num estado de insensibilidade às realidades espirituais. No Salmo 69:22-23 Davi descreveu o Salvador rejeitado pedindo a Deus para “tornar a sua mesa diante deles em laço, e sejam-lhes as suas ofertas pacíficas uma armadilha”. A mesa aqui representa a totalidade dos privilégios e bênçãos que fluem através de Cristo.

O que deveria ter sido uma bênção foi transformado em uma maldição, uma espécie de profundo sono, estupor (Isaías 29:10, 6:9), apatia, sem visão e com as costas encurvadas (como escravos levando grandes cargas sobre os ombros). Tendo recusado a reconhecer o Senhor Jesus como Messias e Salvador, não mais podiam vê-Lo. Fazendo-se surdos à Sua voz, foram acometidos de surdez espiritual. Este terrível juízo continua até hoje.

Logo vem a segunda pergunta:“Porventura tropeçaram de modo que (ou a fim de que) caíssem?” (Romanos 11:11). E novamente temos a resposta: “De maneira nenhuma”. A pergunta se refere à maioria do povo que tropeçou, e “caíssem”, é a tradução de um verbo em grego que significa “uma queda completa e irrevogável”. É inconcebível que Deus tenha falhado em Sua fidelidade. Tropeçaram, mas não caíram irrevogavelmente. Se Deus planejou o seu tropeço, foi para que lhes viesse salvação através dos gentios: a salvação dos gentios iria provocar ciúmes nos israelitas (Deuteronômio 32:21, Romanos 10:19), causando estes a crer também no Messias por ciúme daquilo que o gentio tem. Assim Deus salva os gentios, estes por sua vez anunciam o Evangelho ao israelita incrédulo, e este acaba crendo em Cristo vendo as bênçãos do Evangelho nas vidas dos gentios.

Hoje entre o povo de Israel os crentes estão reduzidos a um remanescente, mas no futuro haverá uma salvação nacional e nisso consiste a sua “plenitude” (versículo 12). O tropeço dos israelitas com a diminuição de Israel significou riqueza para o mundo e enriquecimento dos gentios (a sua salvação). Sendo assim, quanto maior benefício ainda resultará da restauração de Israel diante de Deus! Quando Israel se voltar para o Senhor durante a grande tribulação, vai se tornar o canal de benção para as nações e grandes multidões serão salvas entre os gentios (Apocalipse 7:9-14).

Paulo exalta o seu ministério aos gentios, que lhe fora designado pelo Senhor Jesus (Atos 9:15), para ver se de algum modo podia provocar os israelitas e salvar alguns deles. O versículo 15 tem o mesmo sentido que o versículo 12, vendo a posição de privilégio do mundo quando Deus colocou nele o testemunho do Seu povo, Israel, a reconciliação do mundo com Deus depois da rejeição do Messias por Israel, e a regeneração, ou mesmo ressurreição do mundo na admissão do Messias por Israel no reino milenar de Cristo. Mas os gentios não devem desprezar os israelitas que perderam a sua posição de privilégio, pois assim como Deus rejeitou os israelitas incrédulos e estendeu a Sua graça aos gentios pela sua fé, Ele rejeitará os gentios incrédulos se não permanecerem em Deus. Deus ainda aceitará novamente os israelitas, como nação, quando deixarem a sua incredulidade.

Devido à sua raiz em Israel, será mais natural para a nação dos israelitas ajustar-se ao reino de Deus quando crer do que para os gentios, que vêm de fora. O Corpo de Cristo jamais poderá ser separado de Cristo, que é a Cabeça, nem um crente pode ser separado do amor de Deus. Mas os gentios em geral poderão perder a posição privilegiada de que agora gozam, segundo Romanos 11:22.

Paulo revela um fato que antes fora encoberto (um segredo, mistério): a maioria do povo de Israel continuará em sua incredulidade até que haja entrado a plenitude dos gentios (a igreja de Cristo estará completa e os vivos, arrebatados, estarão em Sua presença), mas pouco depois disso todo o Israel será salvo na volta do Senhor, conforme profetizado em Isaías 59:20-21. Por “todo o Israel” deve se entender todos os israelitas vivos naquela época.

É impossível alcançarmos com a nossa mente humana a sabedoria, a justiça, o conhecimento de Deus, e Seus caminhos. Ninguém pode lhe dar conselhos, dEle e por meio dEle, e para Ele, são todas as cousas. A Ele, pois, seja dada a glória eternamente.

 

autor: R David Jones.