Em matéria de vestuário encontramos muitas referências na Bíblia, logo no início: depois de terem desobedecido ao primeiro e único mandamento mencionado na Bíblia que Deus lhes havia dado, Adão e Eva perceberam a sua nudez e “coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais." (Gênesis 3:6-7). Mas "o Senhor Deus fez túnicas de peles para Adão e sua mulher, e os vestiu" (v. 21).
Daí tiramos a preciosa lição que, sendo agora pecadores, nossos primeiros antepassados tinham que se cobrir na presença de Deus, com um vestuário fornecido por Deus, resultante da morte de inocentes. Era figura evidente da salvação fornecida por Deus ao pecador mediante o sacrifício da vida inocente do Seu Filho, no Calvário, sem a qual ele não pode chegar à Sua santa presença.
Depois de expulsos do Jardim do Éden, não puderam mais se apresentar fisicamente na presença de Deus, mas ficou o simbolismo da realidade espiritual. As demais referências no que diz ao vestuário se aplicam em quase sua totalidade ao sacerdócio dentro do povo de Israel, todo ele altamente simbólico de realidades espirituais, que nos traz lições preciosas também.
Não vamos tratar desse aspecto neste artigo, que se destina apenas a atender a perguntas que temos recebido com relação ao vestuário feminino, especialmente nas reuniões da igreja, onde não é incomum haver opiniões fortes e às vezes quase que irreconciliáveis. A razão é que a Palavra de Deus simplesmente não dá instruções sobre o estilo, a cor, o comprimento e largura, a espécie de tecido, e qualquer outro detalhe sobre como as mulheres servas de Cristo devem se vestir dentro ou fora do edifício da igreja à qual se congregam.
Na falta de instruções específicas, os irmãos supervisores procuram assegurar que sejam obedecidos os princípios de ordem geral aplicáveis a esse assunto pelos santos, em função dos costumes da sua comunidade. Quando daí estabelecem regras, por serem subjetivas e facilmente sujeitas a simples preferências pessoais, elas podem encontrar resistência, gerando as discórdias e insubmissões.
Em Deuteronômio 22, encontramos dois mandamentos sobre o vestuário no povo de Israel. O primeiro se encontra no versículo 5: "Não haverá traje de homem na mulher, e não vestirá o homem vestido de mulher, porque qualquer que faz isto é abominação ao Senhor teu Deus." O transvestismo é abominação diante de Deus. Não se concebe que uma coisa abominável, execrável, repulsiva para o povo de Israel torne-se aceitável na Sua igreja.
A Palavra de Deus não define, sabiamente, do que consiste o "traje de homem" ou o "vestido de mulher". Não se trata, em princípio, de uma proibição da mulher usar calças compridas reconhecidamente próprias para seu uso, ou do homem usar saias próprias dos homens do seu povo ou de alguma cerimônia militar etc., de uma maneira geral. As calças compridas masculinas só apareceram, já na era cristã, no hemisfério norte ocidental; eram, e ainda são, usadas tradicionalmente pelas mulheres no oriente.
Em qualquer comunidade, e a qualquer tempo, os homens de distinguem das mulheres por sua maneira de vestir. É abominável diante de Deus o homem se disfarçar de mulher, ou a mulher se disfarçar de homem, com seu vestuário, procurando assim se fazer como sendo do gênero oposto. Isso é o transvestismo.
O segundo mandamento está no versículo 11: "Não te vestirás de estofo misturado, de lã e linho juntamente". A razão não é dada, mas é bem sabido que, depois de umedecido o tecido, a lã vai encolher enquanto que o linho vai continuar como está, assim arruinando o traje. É bem diferente do mandamento que acabamos de ver, pois não é declarado ser "abominação ao Senhor teu Deus", mas combina bem com os dois mandamentos que o precedem: "não semearás a tua vinha de duas espécies de semente" e "não lavrarás com boi e jumento juntamente".
As duas espécies de semente sugerem aditamento ao ensino puro da Palavra de Deus. Os dois animais diferentes descrevem o jugo desigual em serviço. Os dois fios diferentes no tecido nos falam da mistura da justiça e da injustiça na vida prática do crente.
Examinando agora o Novo Testamento, encontramos o desejo de Paulo e a recomendação de Pedro no tocante à maneira em que as mulheres, que fazem profissão de servir a Deus, devem se apresentar. É de se notar que, ao contrário do que costuma acontecer em não poucas igrejas, esses dois apóstolos não estão definindo regras detalhadas, mas apenas informando os princípios gerais que devem orientar as irmãs em seu trajar. Elas farão bem em adotá-los.
Vejamos no que consistem, conforme aprendemos em 1 Timóteo 2:9-10 “Quero, do mesmo modo, que as mulheres se ataviem com traje decoroso, com modéstia e sobriedade, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos custosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras”, e 1 Pedro 3:3 a 5: “O vosso adorno (kosmos, cosméticos) não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de joias de ouro, ou o luxo dos vestidos, mas seja o do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, o que é de grande valor para Deus; porque assim se adornavam antigamente também as santas mulheres que esperavam em Deus.”
Note-se que, em ambos os casos, os dois apóstolos transferem o seu foco daquilo que é material para o que é moral e espiritual, ou seja, do assunto de traje e do adorno das mulheres, quando em oração (Paulo), mas também de modo geral (Pedro), para as boas obras e o incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo. Nem traje, nem ornamentos, estão sendo proibidos, mas o uso de roupa espalhafatosa e cara e joias relativamente vistosas e preciosas, deve ser evitado em público.
Considerando os dois em conjunto, encontramos as seguintes orientações:
1. Convém trajar-se decorosamente, e isso envolve:
- Decência: o primeiro e principal motivo da vestimenta é cobrir a nudez do corpo. A mulher do mundo tende a descobrir-se cada vez mais para assim tornar-se fisicamente mais atraente aos homens, mas a mulher cristã deve evitar roupa sugestiva, provocadora de concupiscência (que pode acontecer mesmo sem precisar descobrir-se muito). A pressão social pode ser grande, mas ela deve “nadar contra a maré”, como todo cristão, e vestir-se de uma maneira que convém ao Evangelho (1 Coríntios 6:12, 10:23).
- Dignidade e honradez: não há virtude em desleixo, sujeira e desalinho na apresentação do crente ao mundo, muito menos no recinto onde se congrega a igreja. Sempre que for possível deve primar pelo uso de um vestuário em bom estado, bem cuidado e correto para o lugar onde se encontra.
2. Convém ataviar-se com:
- Modéstia: a modéstia consiste na ausência de vaidade quanto ao próprio valor, despretensão. Entre outras coisas, a modéstia requer que a mulher evite se destacar, a fim de não atrair atenção para si mesma pela maneira de vestir, seja pelo luxo, seja pela sua displicência.
- Sobriedade: o luxo na compra de roupas caras ou excessivas é condenável. Em seu lugar, o dinheiro deve ser usado em boas obras. Mesmo que tenha boas condições financeiras, é preciso considerar as necessidades mais básicas de nossos irmãos, próximos ou mais distantes.
3. Convém restringir os enfeites, evitando os mais pretensiosos ou dispendiosos:
- “não com tranças dos cabelos” (os dois apóstolos mencionam isso). Por certo tinham em vista os penteados vistosos, caros, cobertos de redes de ouro e pérolas muito usados em seu tempo. Transpondo para nossos dias, seria o exagerado dispêndio com cabeleireiras e penteados caros para satisfazer a vaidade e motivado por exibicionismo.
- “ou com ouro, ou pérolas, ou joias de ouro, ou vestidos luxuosos e custosos”. Encontramos uma descrição detalhada deste tipo de vaidade na antiguidade em Isaías 3:16 a 20. A exibição de enfeites caros, por esnobismo, não convém a uma mulher cristã.
Em contrapartida, ao invés de distrair-se com esse tipo de vestuário, em que o mundo tanto se ocupa, e que pode causar inveja nas outras, incentivando-as a seguir o seu exemplo, as mulheres cristãs devem adornar-se “do íntimo do coração, no incorruptível traje de um espírito manso e tranquilo, o que é de grande valor para Deus”, e ocupar-se no exercício das boas obras, que são um tema importante nas Escrituras e suplementam tão bem a sã doutrina, pois consistem na sua prática.