Certa feita tive uma conversa com um destacado pregador e ensinador de uma das igrejas mais conceituadas em Londres, o Metropolitan Tabernacle, fundado pelo conhecido evangelista C.H.Spurgeon. Sabendo que eu pertencia a uma igreja independente neo-testamentária, “dos irmãos” com dizem aqui, ele admitiu que elas agem corretamente segundo o ensino apostólico, mas que o problema delas é o “púlpito aberto”. Segundo o conceito dele, só quem é devidamente credenciado deve pregar e ensinar. Infelizmente não tivemos tempo de conferir nossos conceitos sobre quais seriam tais credenciais.
Atualmente as igrejas que se dizem cristãs procuram se aproximar debaixo da bandeira ecumênica, e está se tornando “de bom tom” para os ministros de diferentes regras de fé serem convidados para tomar o púlpito. É geralmente pouco mais do que um ato de cortesia para demonstrar a união entre irmãos em Cristo, acima das pequenas divergências que possam haver em doutrina. Podem haver outros motivos, mas não vamos dissertar sobre eles.
Cada igreja local tem os seus supervisores e eles são os responsáveis pela ordem e disciplina na igreja, o que inclui determinar quem está apto para dirigir a Palavra à igreja em suas reuniões.
Concordo com aquele ensinador que o “púlpito aberto” não é aconselhável. O “púlpito aberto” consiste em simplesmente não nomear previamente um pregador ou ministrante da Palavra, permitindo que qualquer um que se sinta movido pelo Espírito Santo suba ao púlpito nas reuniões especiais para pregação do Evangelho ou ministério da Palavra.
Ao examinarmos os ensinos encontrados na primeira carta de Paulo aos coríntios, percebemos que a liberdade que existia naquela igreja primitiva, para que todos falassem nas reuniões, resultou em uma situação caótica tal que o apóstolo teve que recomendar severas medidas restritivas. Creio que todos concordarão que não foi falta de fé na direção do Espírito Santo por parte do apóstolo: devemos certamente fazer tudo movidos pelo Espírito Santo, mas com facilidade confundimos o que é provindo dEle com o que é apenas um impulso natural seguindo o nosso próprio desejo.
Ao final das suas instruções concernentes à conduta correta durante as reuniões da igreja, o apóstolo admoesta: “… tudo, porém, seja feito com decência e ordem” (1 Coríntios 14:40). O mesmo apóstolo declarou que, embora ausente quanto ao corpo, contudo, em espírito, estava com a igreja dos colossenses, alegrando-se e verificando a sua boa ordem e a firmeza da sua fé em Cristo (Colossenses 2:5). A boa ordem e a fé vão lado a lado.
No início da igreja eram os apóstolos que, todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo (Atos 5:42). Também Paulo ensinava publicamente e de casa em casa (Atos 20:20). Diríamos hoje que eram eles que no início ocupavam o púlpito.
Com a formação de novas congregações de crentes independentes, separadas geograficamente, era necessário que a pregação e o ensino fossem feitos por outros. Mas a Palavra não lhes vinha espontaneamente, eles tinham que ser preparados primeiro, especialmente naqueles primórdios quando o Novo Testamento ainda não existia, e os novos discípulos dispunham apenas do Velho Testamento - muitos talvez nem isso - e da Palavra que lhes era ministrada pelos apóstolos.
O preparo dos novos pregadores e mestres se tornou uma prioridade. Timóteo que era conhecedor das “sagradas letras” (o Velho Testamento), pois fora ensinado pela sua mãe e sua avó, posteriormente veio a conhecer o Evangelho e foi preparado por Paulo para ensinar o que sabia também a outros, para que eles por sua vez, se tornassem mestres em suas igrejas.
A Bíblia ensina que um dos requisitos para que um crente seja reconhecido na capacidade de supervisor numa igreja local é que ele seja apto a ensinar (1 Timóteo 3:2). No ensino, deve haver integridade, reverência, linguagem sadia e irrepreensível, para que o adversário seja envergonhado, não tendo indignidade nenhuma que dizer a nosso respeito (Tito 2:7).
É preciso saber para poder ensinar. Hoje não dispomos da presença pessoal dos apóstolos, mas eles continuam a nos ensinar mediante os seus escritos que encontramos no Novo Testamento. Paulo escreveu que devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na Palavra e no ensino: entendo que por “afadigar na Palavra” não significa “falar”, mas aprender a Palavra de Deus. Timóteo tinha que aplicar-se à leitura, à exortação, ao ensino: nessa mesma ordem (1 Timóteo 4:13).
As igrejas locais recebem de Deus “uns para evangelistas e outros para pastores e mestres” (Efésios 4:11). São dons específicos para que a igreja possa testemunhar a mensagem do Evangelho de forma clara e correta aos de fora, e para que os membros da igreja possam crescer cada vez mais no conhecimento da fé que nos foi outorgada através dos séculos, principalmente pelo ensino apostólico - a sã doutrina. Isso não exime cada crente da responsabilidade de declarar a sua fé aos de fora e de fazer o que estiver ao seu alcance para levar outros ao conhecimento de Cristo. Mas os que falam para ou pela igreja como uma entidade coletiva, devem ser escolhidos entre os que têm os dons apropriados.
Até aqui tratamos dos que são habilitados a tomar o púlpito dentro do âmbito da igreja local. Vejamos agora o que aprendemos da Bíblia sobre convidar aos de fora para pregar ou ensinar. Mesmo admitindo que nos primórdios da igreja não houvesse ainda uma pluralidade de igrejas num mesmo local, todas se dizendo cristãs mas observando costumes mais ou menos diferentes ao se reunirem, já naquele tempo havia tendência à formação de grupos dentro das igrejas, geralmente por motivos carnais e lemos que já havia por ali falsos ensinamentos e falsos mestres.
Uma profecia que vemos cumprida perfeitamente em nossos dias é a seguinte: “Assim como, no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição.” (2 Pedro 2:1). É um sinal vermelho de alerta! Podemos acrescentar o seguinte: “Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.” (2 Timóteo 4:3,4).
É, portanto, imprescindível saber se a pessoa que vai ocupar o púlpito conhece e obedece ao ensino apostólico. Não só diz mas também pratica. Existem heresias destruidoras dentro de certas igrejas. No meio pentecostal, destaca-se o “dom do batismo do Espírito Santo” e os seus resultados. Cuidemos de não permitir a entrada do fermento, que pode levedar a massa toda.
Quanto ao orar, em público, temos a exortação “Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade” (1 Timóteo 2:8) Isso quer dizer mãos dedicadas ao serviço do Senhor. Não devemos orar em público se nossas mãos não foram ainda dedicadas ao Senhor.
Só devem orar em público aqueles que já confessaram os seus pecados, que não têm amargura em seus corações contra Deus ou contra os seus irmãos, e que se chegam com fé, crendo que Deus vai ouvir e responder. Sem conhecer o coração da pessoa que se levanta para orar, só terei motivo para detê-lo se souber que, por palavra ou por ação, ele demonstra ser incrédulo ou tem amargura contra outros irmãos.
Concluindo, quero ainda alertar os irmãos ao perigo de se cursar os seminários dos que ensinam heresias. Existe ali uma fé hipócrita, e eles se perdem em loquacidade frívola, pretendendo passar por mestres da lei, não compreendendo, todavia, nem o que dizem, nem os assuntos sobre os quais fazem ousadas asseverações (1 Timóteo 1:7). Alguns fornecem Bíblias cheias de comentários para justificar a sua desobediência e as suas tradições, e outros chegam até a modificar a tradução para ajustar o texto sagrado às suas heresias.
Evitemos copiar os modismos dessa gente - nosso fundamento é o autêntico ensino dos apóstolos e dele não temos autoridade ou desculpa para nos desviar. Ele foi escrito para todos os redimidos pertencentes à igreja de Cristo durante os presentes séculos até o nosso arrebatamento.