O tempo do governo humano

O dilúvio marcou o fim de toda a descendência de Adão, com exceção de Noé, seus três filhos e suas esposas.

Noé imediatamente respondeu à graça salvadora de Deus com a construção de um altar dedicado ao Senhor, e nele “ofereceu alguns animais e aves puros como holocausto, queimando-os sobre o altar” (Gênesis 8:20). O Senhor se agradou com isso e declarou que nunca mais amaldiçoaria a terra por causa do homem, “pois o seu coração é inteiramente inclinado para o mal desde a infância”. Isto significava que nunca mais destruiria todos os seres vivos de uma só vez e, enquanto durasse a terra, as suas estações, os dias e as noites, o frio e o calor, o plantio e a colheita continuariam vigorando regularmente, apesar da maldade do ser humano.

Ao abençoar Noé e seus filhos e mandar que fossem férteis, que se multiplicassem e enchessem a terra, o Senhor iniciou uma nova humanidade em que:

  • Teriam autoridade sobre todos os animais da terra, e seriam temidos por eles.
  • Poderiam comer tudo o que vive e se move na terra (antes só podiam comer vegetais).
  • Foram proibidos de comer carne com o sangue, pois a vida está no sangue.
  • Quem for culpado de assassínio deverá ser executado, porque o homem foi criado à imagem de Deus.

A instituição da pena de morte trouxe a necessidade do estabelecimento de uma autoridade humana para governar e executar a justiça. Seria caótico se toda e qualquer pessoa tivesse autoridade para executar um assassino segundo seu próprio critério. O Novo Testamento esclarece: “... não há autoridade que não venha de Deus; e as que existem foram ordenadas por Deus... porquanto ela é ministro de Deus... pois não traz debalde a espada” (Romanos 13:1,4).

Assim iniciou-se o chamado “tempo do governo humano”. As condições acima não foram revogadas até hoje, mas atualmente são poucos os que obedecem às duas últimas. Deus ainda estabeleceu uma aliança com a Sua criação: nunca mais iria usar um dilúvio para extinguir toda a forma de vida na terra. O sinal desta aliança é o arco-íris que aparece nas nuvens sobre a terra.

Algum tempo depois desta revelação de Deus, decerto vários anos, Noé e sua família ainda viviam em tendas. Noé, sendo agricultor, foi o primeiro a plantar uma vinha, que oportunamente cresceu e frutificou. Aproveitou para tirar suco das uvas, que dias depois fermentou, tornando-se em vinho. Noé então bebeu tanto vinho que se embriagou. É interessante que a Bíblia não o condena por isso. Existe uma explicação científica plausível que o justifica: antes do dilúvio, a atmosfera seria composta de uma camada espessa de vapor d’água que regava a terra em lugar de chuva (Gênesis 2:5,6) e impedia a chegada de raios nocivos até a superfície, entre os quais os que permitem a fermentação do suco da uva. Logo, Noé não tinha ainda experiência dos efeitos nocivos do vinho, inclusive a embriaguez.

Seja como for, a consequência foi que Noé se embriagou, despiu e deitou-se nu dentro da sua tenda, onde foi visto pelo seu filho Cam, que foi conta-lo aos seus irmãos. Estes tomaram uma capa, e evitando olhar para ele, o cobriram.

Quando acordou e soube o que acontecera, Noé pronunciou uma maldição sobre Canaã. Pergunta-se: "Por que a maldição caiu sobre Canaã, em vez de Cam?" Uma explicação possível é que alguma tendência maligna existente em Cam foi manifestada abertamente pelo seu filho Canaã naquela ocasião. A maldição teria sido causada por uma conduta não especificada no texto, talvez algum gesto, comentário, ou ação de desprezo ao seu avô. De Canaã, viria uma descendência inferior e servil (os cananeus). Séculos mais tarde, eles foram subjugados pelos israelitas, começando por Josué e, mais tarde, Salomão. Não existem, como povo ou raça, hoje.

No capítulo 10 de Gênesis temos a genealogia “dos filhos de Noé segundo as suas gerações, em suas nações; e delas foram disseminadas as nações na terra depois do dilúvio” (versículo 32). Noé ainda viveu 350 anos depois do dilúvio, morrendo com 950.

No início, ao invés de dispersar-se sobre a terra, como Deus havia comandado, os homens construíram uma cidade e uma torre em Sinar. Isto foi motivado por orgulho e para evitar o enfraquecimento que seria causado pela sua dispersão.  Podemos comparar isto ao esforço incessante do homem caído para conquistar o direito de ir ao céu mediante suas próprias obras, em vez de receber a salvação como um dom gratuito da graça de Deus.

O Senhor castigou o povo confundindo suas línguas enquanto construíam a torre. Por isto o lugar passou a ser chamado Babel, que significa “confusão”, o resultado inevitável de qualquer união que deixa Deus de fora ou não está de acordo com Deus. Aqui se iniciaram as muitas línguas diferentes que temos no mundo hoje. O que aconteceu séculos mais tarde no dia de Pentecostes (Atos 2:1-11) foi o inverso de Babel, no sentido de que cada homem ouviu os irmãos falarem sobre as maravilhosas obras de Deus em sua própria língua. 

A confusão de línguas foi um expediente sábio da parte de Deus: ainda hoje os idiomas diferentes separam famílias, povos e nações, formando grupos que tendem a se rivalizar e lutar uns com os outros por causa da diferença de idiomas. Quando os países colonizadores impõem seu idioma sobre os povos mais fracos, estes quase sempre ainda retêm o idioma “nativo” para voltarem a ele quando libertos. Haja vista os povos que compunham o império romano, o império britânico e a união soviética, por exemplo.

O estudo da linguística tenta encontrar a origem dos idiomas falados através do mundo, às vezes com o propósito de descobrir de onde surgiram os primeiros seres humanos, para desta forma talvez contribuir às teorias da evolução. O resultado até agora, surpreendente para os evolucionistas, é que existem fortes indícios que todos os idiomas atuais podem ser agrupados e provieram do oriente médio (não da África, como querem eles). Os grupos estão separados distintamente entre si através do tempo e não convergem para uma única língua original.

As condições do tempo do governo civil permanecem até hoje para a humanidade em geral.

Sobre elas Deus introduziu outras a partir de Abrão, na linha genealógica de Sem.  A descendência de Sem através de seu neto Eber foi o povo “hebreu”, falando a língua “hebraica”, que tem um relacionamento especial com o Senhor, seu Deus. Toda a revelação divina à humanidade tem sido feita através dos hebreus: Deus o Filho, chamado “o Senhor, o Deus de Israel” chegou até a encarnar-se através de uma mulher desse povo, Maria. Têm sido chamados “judeus” desde que o reino remanescente de Judá foi conquistado pelos caldeus, sendo assim chamados no livro de Ester, no versículo 9:23 da profecia de Zacarias e também no Novo Testamento.

Dos outros filhos de Cam, ou seja, Mizraim e Pute, descenderam os babilônios, os egípcios e demais africanos (capítulo 10:6).

Os árabes, como os israelitas, descendem de Abraão e por isso os muçulmanos árabes querem se considerar como semitas também. Isto é veementemente negado pelos judeus, porque: “Os árabes são descendentes de Hagar, uma egípcia da linha de Mizraim filho de Cam, serva e não esposa legítima de Abraão (Gênesis 10). Ismael também se casou com uma egípcia, e os árabes herdaram a violência de Ismael e Cam”.

Jafé seria engrandecido (Jafé significa alargamento), sua descendência se espalharia pela terra e prosperaria. Por “habite ele nas tendas de Sem”, entendemos que ele ocuparia sua terra, e desfrutaria das bênçãos espirituais que viriam através dos semitas. Abrange todos os demais povos e nações e realmente estes ocuparam a terra de Israel durante séculos e têm sido os que mais se beneficiaram do Evangelho de Cristo até hoje.

autor: R David Jones.