Tradicionalmente nos países de cultura católica romana, e algumas protestantes, costuma-se celebrar o “Domingo de Ramos” no domingo antes da Páscoa. O evento comemorado seria o que conhecemos como a “entrada triunfal” do Senhor Jesus em Jerusalém, relatada em todos os Evangelhos, ou seja, Mateus 21:7-11, Marcos 11:7-11, Lucas 19:35-44, João 12:12-19.
No mundo incrédulo é um fato conhecido, e os céticos cometem o engano de interpretar esse importante evento como o dia em que, segundo eles, Jesus entrou em Jerusalém para oferecer-Se para ser o rei dos judeus e ser reconhecido pelo povo como o Messias das profecias. Isto não é verdade, porque durante os prévios três anos e meio, durante o Seu ministério, o Senhor já havia apresentado as provas da Sua divina identidade como Messias, mas Israel, representada pelos seus líderes, já O tinha rejeitado. Em Mateus 12:22-45 Ele os chama de “geração perversa” (v.45) que será condenada até pelos homens de Nínive por não se ter arrependido e pela rainha do Sul por não Lhe ter dado ouvidos. Havia um propósito diferente para a Sua entrada em Jerusalém naquele dia, que ocorreu cinco dias antes da Sua morte.
De acordo com Êxodo 12:3-6, o cordeiro a ser sacrificado na Páscoa deveria ser separado no décimo dia do primeiro mês (Nisã, fim de março e princípio de abril para nós), para ser morto ao pôr–do-sol no décimo quarto dia, e comido à noite. Tornou-se costume submeter o cordeiro aos sacerdotes para exame durante esses dias para confirmar que estava em condições de ser oferecido como sacrifício.
A “entrada triunfal” marcou a ocasião em que o Cordeiro de Deus foi separado no décimo dia de Nisã, como os cordeiros do sacrifício. Nesse dia Ele deu mais um sinal da Sua identidade e cumpriu uma profecia, montando num jumento que nunca antes fora montado, entrando e mostrando-Se ao povo em Jerusalém (Zacarias 9:9). Foi aclamado pela multidão que assistia, com ramos de palmeiras e exclamações cujo teor se completa com os relatos dos quatro evangelistas, que seria a expectativa do início do Reino do Messias naquele dia. Uma das suas exclamações foi do salmo messiânico 118:26... “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”, e os rabinos ensinavam que o Messias deveria ser recebido com essas palavras quando viesse. Se Ele tivesse querido se oferecer para ser o Rei dos Judeus naquela hora, teria tido pleno sucesso, pois foi reconhecido por uma grande multidão como sendo o Messias das profecias.
Ninguém parecia sequer imaginar que o Messias viera desta vez, não para assumir o Seu reino, mas para dar cumprimento ao sentido verdadeiro da Páscoa, e que Ele era o Cordeiro de Deus como já havia anunciado o grande profeta dos seus dias, João Batista (João 1:29,36). Nos quatro dias de intervalo que se seguiram, Jesus Cristo se apresentou no templo e foi inquirido pelas autoridades religiosas, que O examinaram fazendo as perguntas que achavam ser das mais difíceis de responder. Distinguimos o exame como segue:
1. Pelos principais sacerdotes e os anciãos: Estes fizeram o primeiro teste, em forma de desafio, e relacionava-se com a Sua autoridade (Mateus 21:23-22:14, Marcos 11:27-12:12 e Lucas 20:1-19). Perguntaram: “Com que autoridade fazes tu estas coisas? e quem te deu tal autoridade?” O regulamento farisaico exigia que o ensino fosse autorizado por um rabino. Como Jesus estava ensinando o povo no templo e anunciando o Evangelho, eles queriam saber de onde recebera autoridade para interpretar as Escrituras da forma que fazia. Seguindo um procedimento comum entre os judeus (até hoje), Ele respondeu sua pergunta com outra: “O batismo de João era do céu ou dos homens?” (Lucas 20:3-4). Assim colocou um dilema diante deles: se dissessem que não era do céu, o povo os apedrejaria, pois João Batista era considerado profeta e mártir da fé, mas se dissessem a verdade, que o ministério de João era de Deus, Ele diria que recebera Sua autoridade de João, pois fora batizado por ele, e fora ele que havia declarado que Jesus era “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Recusaram-se então a responder, e consequentemente Jesus também recusou responder à pergunta deles: a negativa deles era resposta suficiente. Contou ao povo então duas parábolas e um texto das Escrituras cuja interpretação em conjunto se resume como segue:
- Os pecadores arrependidos entrarão no Reino e não os escribas e principais sacerdotes rebeldes porque a entrada depende da obediência;
- Os escribas e os principais sacerdotes, que administravam o povo de Deus, desprezaram e agrediram os profetas, e agora iam matar o Filho de Deus (tropeçaram na Pedra), iam perecer miseravelmente e a sua posição ia ser tomada por outros que produzam frutos para a glória de Deus;
- A oferta do reino de Cristo (Daniel 2:4) seria tirada deste povo e estendida a outro povo que dê os seus frutos: alguns pensam que seja a igreja de Cristo, mas é mais cabível que seja o remanescente de Israel, convertido, ao fim da Grande Tribulação: Cristo virá em julgamento e destruirá os Seus inimigos (a Pedra cairá e os despedaçará).
2. Pelos fariseus e herodianos - O ataque deles foi de ordem política, conforme lemos em Mateus 22:15-22, Marcos 12:13-17 e Lucas 20:20-26. Embora diametralmente opostos, pois os herodianos aceitavam o jugo romano através de Herodes e os fariseus se opunham, desta vez se uniram contra o Senhor Jesus por causa da animosidade que tinham à Sua reivindicação de ser o Messias, embora por razões diferentes: os fariseus porque não correspondia ao que eles achavam como o Messias devia ser, e os herodianos porque seria competidor contra César. A pergunta que fizeram está em Marcos 12:14: “É lícito dar tributo a César, ou não? Daremos, ou não daremos?” Se dissesse que sim, seria reconhecer o direito de César para reinar sobre a nação, e o povo que acabava de proclamá-Lo Messias se voltaria contra Ele, mas se dissesse que não, daria oportunidade aos herodianos de acusá-Lo de sedição e rebeldia aos romanos. O Senhor percebeu a malícia, chamou-os de hipócritas e deu-lhes uma resposta magistral: pediu que lhe mostrassem a moeda do tributo. Ao lhe apresentarem um denário, moeda romana com que o tributo era pago aos romanos (o imposto do templo era pago com um siclo, moeda dos judeus), perguntou de quem era a imagem e inscrição, e ao responderem “de César” determinou: “Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. Assim separou o Estado da Religião, indicando que há duas áreas de autoridade: a autoridade divina que vem de Deus, e a autoridade delegada que naquele tempo vinha sobre eles através de César. O pagamento de imposto a César não anula a autoridade de Deus, mas apenas reconhece a autoridade que Deus delegou através do seu governo. Eventualmente Ele próprio, como Messias, substituirá os equivalentes a César. Como o Velho Testamento ensina que os governos humanos têm autoridade delegada por Deus, também governos gentios têm autoridade sobre Israel. Lucas 20:26 relata: “E não puderam apanhá-lo em palavra alguma diante do povo; e admirados da sua resposta, calaram-se”.
3. Pelos saduceus - Estes examinaram o Seu conhecimento de teologia, na questão da ressurreição dos mortos, que os distinguia dos fariseus (Mateus 22:23-33, Marcos 12:18-27 e Lucas 20:27-40). Em suma, os fariseus criam que os mortos ressuscitariam, mas os saduceus negavam qualquer vida depois da morte. Costumavam fazer perguntas ardilosas aos fariseus para fazê-los parecer idiotas, e usaram uma delas para tentar ridicularizar o Senhor. Começaram com elogios hipócritas, depois propuseram a tese da mulher dos sete maridos: a pergunta foi de qual marido seria a mulher depois da ressurreição? Um fariseu não teria podido responder, porque todos os sete irmãos se casaram com a mulher, mas nenhum conseguiu que ela produzisse filhos, que seria o motivo dos casamentos sucessivos segundo a lei de Moisés. Se tivesse produzido, era de presumir que depois da ressurreição ela seria mulher daquele que fora o pai. Novamente, o Senhor veio com uma resposta perfeita e inesperada, pois somente Ele tinha autoridade para fazer aquela declaração: primeiro disse aos saduceus que eles erravam por não conhecer o que as Escrituras diziam a respeito desse assunto, e também por não conhecerem o poder de Deus; em seguida informou três coisas:
- Quanto ao poder de Deus, informou que a ressurreição não consiste simplesmente em voltar ao corpo natural com que morremos, mas que haverá uma transformação e o novo corpo não se reproduzirá, logo não haverá mais o relacionamento de casal e casamento
- Deus prometeu certas coisas pessoalmente a Abraão, Isaque e Jacó que não foram cumpridas durante suas vidas, por exemplo, não foram proprietários de toda a terra da promessa. Para se cumprirem, é evidente que se torna necessária a ressurreição, pois Deus haverá de cumprir a Sua Palavra;
- Deus tem relacionamento vivo com os patriarcas do povo judeu, portanto não pode deixá-los mortos: “Eu SOU o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos” (Mateus 22:32).
Com isso, os saduceus não ousaram fazer-lhe mais perguntas.
4. Pelos fariseus - Os fariseus também entraram na área da teologia, e a pergunta que foi feita por um doutor na lei para experimentar a profundidade dos Seus conhecimentos está em Mateus 22:34-40 e Marcos 12:28-34... “Qual é o grande mandamento na lei?”. A resposta do Senhor foi sucinta e completa: “O primeiro é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças. E o segundo é este: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que esses.” Estas respostas eram também as que os fariseus dariam, logo tiveram que concordar plenamente com Ele.
Em seguida Ele lhes fez uma pergunta sobre Salmo 110:1, e não souberam Lhe dar qualquer resposta, porque dizia respeito ao conceito do Homem-Deus. Quanto à Sua humanidade, Ele é Filho de Davi; mas é o Senhor de Davi em Sua divindade.
Em Seu exame pelos saduceus, fariseus, herodianos, anciãos e sacerdotes, o Cordeiro de Deus teve que responder quatro perguntas, algumas capciosas, e Ele respondeu magnificamente, sem mancha ou defeito (1 Pedro 1:19). Mesmo os fariseus e saduceus foram silenciados. Tendo sido aprovado plenamente, estava agora pronto para ir até a cruz e tornar-Se no sacrifício pascoal final (1 Coríntios 5:7).