Em certa ocasião o Senhor Jesus informou que “todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mateus 12:31 a 32).
Este é um versículo que nem sempre é bem entendido, às vezes com graves consequências. Fazem-se conjecturas sobre o seu significado, e não são poucas as pessoas que, julgando-se culpadas deste pecado, têm perdido a esperança do perdão de Deus. O âmago da questão é o que vem a ser “falar contra o Espírito Santo” (ou blasfemar contra Ele, como lemos em Marcos 3:29).
Vejamos seu contexto: Quando o povo viu Jesus curar instantaneamente um homem endemoninhado, cego e mudo, eles ficaram atônitos e perguntaram "É este o Filho de Davi?" Por Filho de Davi eles significavam o descendente do rei Davi que, segundo as promessas feitas a ele, e as profecias, assumiria o reino e traria glória eterna a Israel. Enfim, o Messias.
Ao perceber a grande excitação do povo naquele momento, os líderes religiosos entre o povo concluíram que a disposição manifesta do povo, de crer que Jesus era o Messias, precisava de uma ação extrema da sua parte. Não lhes sendo possível negar a autenticidade daquele prodígio sobrenatural, em seu desespero, eles sugeriram que Jesus expulsava demônios pelo poder de Belzebu, o príncipe dos demônios.
Belzebu é uma palavra de etimologia desconhecida, mas era usada como sendo um nome vergonhoso. Segundo alguns, poderia significar "senhor de uma casa", "senhor das moscas", "senhor do esterco" ou "senhor dos sacrifícios idólatras". Foi uma declaração mal pensada e ilógica da parte desses líderes, como o Senhor Jesus logo demonstrou a todos, e em seguida lhes deu a informação acima.
São palavras solenes, pois declaram que existe um pecado para o qual não existe perdão de Deus, nem no presente nem no futuro, por toda a eternidade. Quando uma passagem não é suficientemente clara em si mesma, a exegética manda que se procure um esclarecimento em paralelo com outras passagens, pois não pode haver contradição.
Não há qualquer pecado cometido por quem quer que seja que o Senhor Jesus não possa perdoar mediante seu arrependimento e conversão, pois Ele morreu na cruz para levar sobre Si todos os pecados: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Isto está em sintonia com toda a Bíblia que nos ensina que Deus é misericordioso, e Sua justiça foi satisfeita no sangue de Cristo, permitindo assim a justificação de todo aquele que O recebe como Senhor e Salvador.
O pecado imperdoável não poderá ser cometido por aqueles que já receberam a vida eterna, mediante a fé no Senhor Jesus, pois esta nunca lhes será tirada: é eterna, e a vida eterna é comunhão com Deus diante de quem não pode haver pecado.
Mas haverá certamente uma condenação eterna, portanto sem possibilidade de perdão de Deus, para aqueles cujo nome não estiver escrito no "livro da vida" (Apocalipse 20:15). Entre estes estarão os que cometem o pecado imperdoável.
Foi a rejeição dos religiosos judeus à clara evidência que Ele expulsava demônios pelo Espírito de Deus que levou o Senhor Jesus a dar a informação do primeiro parágrafo acima. O pecado imperdoável deles foi a atitude que estavam tomando, ou a decisão que haveriam de tomar, de estar contra Cristo ao invés de se colocarem ao lado dEle conforme Seu ensino feito logo antes.
O Espírito Santo testemunha a respeito de Cristo (1 João 5:6). Quem resiste a esse testemunho faz o Espírito Santo de mentiroso, e assim blasfema contra o Espírito. Rejeita a salvação que vem pelo testemunho da Palavra inspirada pelo Espírito Santo, e rejeita a regeneração do Espírito Santo. Não só é uma blasfêmia contra o Espírito Santo, mas é falar contra Ele. Eis o pecado imperdoável neste século e no vindouro. Para este nunca haverá perdão.
A assertiva de Jesus que “todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens” com exceção dos que rejeitam a salvação proclamada pelo Evangelho é ampla, mas surgiram três perguntas que recentemente nos foram feitas e deram motivo para este artigo:
1. Os que nunca ouviram falar de Cristo estão sob condenação e vão para o inferno?
Estes são os que, por ignorância e não por culpa própria, nunca tiveram a opção de recebê-Lo como seu Salvador. Realmente a Bíblia não nos dá uma resposta taxativa a respeito deles, embora geralmente se conclua por inferência que, como a humanidade em geral está em pecado, e Jesus Cristo é o único Caminho para a salvação do castigo (morte eterna) devido aos pecadores, quem nunca chegou a conhecê-Lo está perdido. Muitos sustentam uma doutrina calvinista, segundo a qual Deus escolhe para Si os que vão ser salvos, e a estes apenas se dará a oportunidade de salvar-se. Em outras palavras, os que se perdem por rejeição ou ignorância não foram eleitos por Deus para serem salvos.
No ensino mais amplo de Cristo, aprendemos nas "bem-aventuranças" que a salvação é para o pobre de espírito e para os que têm fome e sede da justiça; nas parábolas do "filho pródigo" e do “publicano” é para o perdido que reconhece o seu pecado e procura o perdão de Deus. As características aqui vistas são o reconhecimento e o arrependimento do pecado - a alma que se salva é aquela que sente o seu pecado e deseja ser perdoada por Deus: para agradar a Deus é essencial que ela creia que Ele existe e que é galardoador dos que O buscam (Hebreus 11:6). Assim como uma criança confia em seu pai, de quem depende, a alma que pode ser salva é aquela que segue a justiça, luta para praticá-la, reconhece sua incapacidade, mas confia em Deus para o que lhe falta.
Deus nosso Salvador quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade (1 Timóteo 2:4). O conhecimento da salvação gratuita que o Senhor Jesus nos propiciou permite que seja aceita imediatamente, para que tenhamos desde agora paz em nossas almas, o usufruto das bênçãos do novo nascimento pelo Espírito Santo, a entrada na igreja de Cristo e a luz do Evangelho. A Bíblia silencia sobre os que nunca ouviram sobre essa salvação. Certamente não serão salvos pelas obras de justiça que tenham feito, mas porventura a misericórdia do nosso Deus não os alcançará se tiverem as características e a fé acima? Um dia saberemos, mas podemos nos tranquilizar sabendo que, além de perfeitamente justo, Deus é também riquíssimo em misericórdia. Ele disse a Moisés "compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia" (Romanos 9:15).
A resposta desta pergunta pode ser deixada em Suas competentes mãos.
2. Durante o período da tribulação ainda haverá oportunidade para aqueles que não ouviram o Evangelho se salvarem?
O período da tribulação, de sete anos (Daniel 9:24-27), ou “tempo de angústia para Jacó” (Jeremias 30:7), será caracterizado pela prévia retirada da igreja e do Espírito Santo da terra (2 Tessalonicenses 2:7). Mas o Evangelho ainda será proclamado até os confins da terra e haverá uma multidão de conversões, de todas as nações, tribos, povos e línguas contribuindo com milhares de mártires (Apocalipse 7:14) por causa da perseguição promovida pela besta.
A resposta aqui é claramente SIM.
3. Haverá também ainda oportunidade no período da tribulação para os que ouviram o Evangelho, mas ficaram indecisos?
O “iníquo” (besta ou anticristo) virá “segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos. E por isso Deus lhes envia a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam julgados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça.” (2 Tessalonicenses 2:7-12). Não significa necessariamente que lhes faltará a oportunidade de ouvir o Evangelho outra vez, mas enganados pela mentira do anticristo vão rejeitar o Evangelho tendo já anteriormente preferido continuar em seu pecado (“injustiça”). A feroz perseguição que a besta promoverá contra os que não se sujeitarem a ela será mais um incentivo a não se arrependerem (Apocalipse 13:5, 20:4, etc.).
A resposta é que, os que previamente recusaram a salvação que lhes foi anunciada, tendo prazer na injustiça (e assim cometendo o pecado imperdoável) não terão outra oportunidade para se converter, mas vão crer na mentira do iníquo, inspirado por Satanás. Mas entendemos que ainda haverá oportunidade para os que nunca haviam antes ouvido ou entendido claramente a mensagem do Evangelho, nem deliberada e definitivamente rejeitado o nosso Salvador. Estes são como os que nunca ouviram o Evangelho, da pergunta precedente.