O relativismo moral que está se impondo no mundo é uma consequência lógica da larga aceitação do evolucionismo ateísta, que não deixa de ser ele próprio uma religião humanista. Com ele se promove também uma ideia de tolerância conhecida como “aceitação política” e a eliminação de padrões gerais de conduta, e de conceitos, preconceitos e tradições morais, sob a alegação que tudo isso é da escolha pessoal de cada um e não pode ser imposto aos outros.
Em decorrência disso, há uma crescente intolerância nos países ocidentais, a começar pela Europa e América do Norte, contra os cristãos mais radicais que abertamente manifestam seu repúdio às práticas que Deus chama de pecado, iniquidade e impiedade, abrangendo não só comportamento, mas também religiões e sexualidade.
Curiosamente, aqueles que rejeitam a noção de Deus ou a credibilidade da Bíblia, não raro tentam usar a palavra de Deus (por exemplo, citando versículos fora do contexto) para desculpar suas ações em confronto com o Evangelho e a consequência que virá aos que o rejeitam. Um versículo muito conhecido e usado nessas circunstâncias é “Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mateus 7:1). Este versículo, como o que segue: “porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós” parecem indicar que o crente não deve em qualquer circunstância fazer um julgamento dos outros.
Vejamos então três aspectos do julgamento cristão:
A Suprema Autoridade:
A Bíblia destaca claramente que Deus é o Supremo Juiz de todos, e deu ao Filho autoridade para fazer todo o julgamento: “O Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento” (João 5:22). Só Ele tem autoridade para julgar os motivos e os comportamentos das pessoas, por exemplo:
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Deus é um juiz justo, um Deus que sente indignação contra os ímpios todos os dias (Salmo 7:11).
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Ele mesmo (o SENHOR) julga o mundo com justiça; julga os povos com equidade (Salmo 9:8).
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O SENHOR é o nosso juiz; o SENHOR é nosso legislador; o SENHOR é o nosso rei; Ele nos salvará (Isaías 33:22).
Nesses versículos a palavra SENHOR é a tradução do hebraico YHWH, a segunda pessoa da Trindade também chamado o Filho no Novo Testamento, e nós O conhecemos como o Senhor Jesus Cristo. Ele declarou a todos, quando esteve aqui: “Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas. E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo. Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia” (João 12:46-48).
Inspirado pelo Espírito Santo, o apóstolo Paulo informou, num discurso aos atenienses: “Deus, não levando em conta os tempos da ignorância, manda agora que todos os homens em todo lugar se arrependam; porquanto determinou um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que para isso ordenou; e disso tem dado certeza a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:30,31).
Como estas passagens e muitas outras demonstram, a Bíblia deixa bem claro que um dia o Senhor Jesus justamente julgará toda a humanidade com base na fé ou rejeição de cada indivíduo quanto à Sua Pessoa. Para um mundo cheio de gente que acredita no relativismo moral aquele é um dia cheio de temor e incerteza.
O Juiz do universo fará um julgamento para salvação ou perdição, a respeito do qual o apóstolo Pedro previne em Atos 4:12... "em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos." Não haverá oportunidade para debate, se o julgamento é certo ou errado, porque o Juiz Supremo já decretou os termos da Sua justiça através do Filho.
O julgamento dos incrédulos pelos crentes
Os incrédulos precisam conhecer o Senhor Jesus Cristo, e se reconciliar com Ele para evitar a perdição eterna. Quando um crente apresenta o Evangelho gratuitamente e com amor aos incrédulos, estes terão que tomar uma decisão em relação à sua posição com Deus. A Bíblia declara claramente que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3:23).Este julgamento não é feito com base na opinião do crente que está apresentando o Evangelho, mas é fundamentado no que a Bíblia claramente ensina.
Muitas vezes ouve-se a alegação de que os cristãos não devem julgar quando se lida com questões como aborto, adultério, o comportamento homossexual e casamento do mesmo sexo. Quando um cristão diz, por exemplo, que o comportamento homossexual é um pecado e que o casamento homossexual é errado, o incrédulo muitas vezes encontra objeções, como “Quem é você para julgar duas pessoas que se amam?", "Quem é você para declarar quem pode e não pode amar a alguém? Você é um pecador, também!". “A vida privada de alguém é da conta dele. Não o julgue". Às vezes até citam Mateus 7:1, assumindo que esse texto apoia o seu argumento.
Devemos nos lembrar de que a palavra “julgar” pode significar "decidir, considerar, formar conceito, sentenciar, emitir parecer ou opinião, supor” e mesmo até “imaginar”, conforme o contexto. Neste mandamento, como nos seguintes até o versículo 7:5, o Senhor Jesus está prevenindo Seus discípulos contra fazer juízos hipócritas ou condenatórios, a exemplo dos fariseus daquele tempo. Mesmo neste último versículo o Senhor acrescenta: “Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão”. O ensino é que devemos nos julgar a nós mesmos antes de julgar os outros, porque “com o juízo com que julgais, sereis julgados” (v. 7:2).
O crente deve purificar a sua vida primeiro antes de julgar as dos outros. O que o Senhor ensina aos discípulos em Mateus 7 é que se eles mesmos não se arrependerem pessoalmente dos seus pecados e os deixarem, não terão condições para acusar os outros. Mas a Bíblia nos manda pregar o Evangelho, e o ato de alertar os pecadores ao seu pecado para que saibam da necessidade de salvação é parte integral da mensagem. O pecado constitui tudo aquilo que foge à pureza de comportamento determinado por Deus em Sua Palavra, e o padrão moral divino é imutável para toda a humanidade, não se admitindo, portanto, um relativismo moral.
O julgamento dos crentes por seus irmãos na fé
Todos os que se salvam pela graça de Deus mediante a sua fé em Cristo precisam crescer em Cristo e viver em harmonia uns com os outros. O mandamento em Mateus 7:1 não significa que os filhos de Deus (a quem é dirigido) são proibidos de julgar os seus irmãos em todos os sentidos.
Existem algumas proibições de fazer julgamento, como:
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Pelos motivos dos seus atos, porque só Deus conhece os pensamentos e intenções do seu coração (Hebreus 4:12). Não sabemos nem compreendemos com certeza o motivo por que um irmão em Cristo age de certa forma.
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Pela sua aparência (João 7:24; Tiago 2:1-4).
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Pelos seus escrúpulos sobre assuntos que não são, em si, certos ou errados (Romanos 14:1-5).
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Pelo trabalho feito a serviço do Senhor (1 Coríntios 4:1-5).
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Nem deve fazer-se de juiz falando mal dos outros (Tiago 4:11-12).
Mas podem descobrir e ver o que seus irmãos fazem, e Deus não os proíbe de formar um conceito sobre os seus atos, se são bons ou maus, se produz frutos bons ou maus, frente à direção que nos dá em Sua Palavra. Deus não os proíbe de condenar suas ações erradas, que se tornam em mau testemunho diante dos incrédulos e prejudicam a mensagem do Evangelho, ou o ensino de doutrina falsa ou discordante das Escrituras.
O crente pode, e deve, usar suas faculdades de discernimento e de crítica construtiva, que são benéficas para os seus irmãos e para a obra de Deus. Encontramos no Novo Testamento várias ilustrações do juízo legítimo que deve ser feito por irmãos com relação ao estado, à conduta, e ao ensino dos outros. Também existem várias áreas em que o cristão tem a obrigação de tomar uma decisão para discriminar entre o bom e o mau e entre o bom e o melhor, como, por exemplo:
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Distinguir os crentes dos incrédulos, para não se prender a estes (2 Coríntios 6:14-17).
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Os conflitos entre crentes devem ser julgados e resolvidos na igreja por irmãos competentes (1 Coríntios 6:5).
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O crente que peca deve ser repreendido pelos irmãos e, em último caso, pela igreja que tomará as medidas necessárias (Mateus 18:17; 1 Coríntios 5:9-13).
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Um mestre deve ser julgado quanto aos seus frutos (Mateus 7:15-20; 1:29; 1 Coríntios14; João 4:1).
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Identificar as pessoas perversas (os “porcos”) para não lhes dar as coisas santas: Quando o crente encontra pessoas que tratam as verdades divinas com um desprezo total e respondem à sua pregação do Evangelho com abuso e violência, ele não é obrigado a continuar a compartilhar o Evangelho com eles (Mateus 7:6). Sem dúvida há que ter percepção espiritual para discernir estas pessoas.
Concluímos que crente não pode ter “aceitação política” dos conceitos individuais de moralidade do mundo, mas deve se submeter aos padrões divinos que encontramos na Bíblia. Esta condena, por exemplo, os devassos, os idólatras, os adúlteros, os efeminados, os sodomitas, os ladrões, os avarentos, os bêbedos, os maldizentes, os roubadores de homens, os mentirosos, os perjuros, e tudo que for contrário à sã doutrina (1 Coríntios 6:9,10; 1 Timóteo 1:10), fartamente encontrados, dos quais alguns não ferem a moralidade individual aceita no mundo e são até aprovados pelas autoridades constituídas que lhes garantem proteção e respeito.
O cristão não tem autoridade para impor os padrões divinos ao mundo perdido, mas deve expor o pecado do incrédulo para convencê-lo do seu estado de perdido e oferecer o Evangelho da salvação. O julgamento dele vem de Deus. Feitas algumas exceções o crente também deve exercer o seu próprio julgamento com discernimento para separar-se do mal e orientar os seus irmãos para uma vida santa e agradável a Deus.