Intolerância bíblica

Traduzido por R. David Jones
— N.T. Recentemente nossa atenção foi chamada para este artigo, escrito por um dos grandes evangelistas e pastores do século passado, cujo conteúdo ainda tem uma notável relevância e esperamos que ajudará nossos leitores a ter discernimento para se oporem ativamente ao falso ensino que continua ameaçando as igrejas de hoje.

“Gostaria de realçar esta verdade, afirmando que existe um aspecto de intolerância na fé cristã e se não virmos esse aspecto intolerante da fé é provável que nunca a tenhamos realmente visto, pois há muitos textos nas Escrituras que comprovam essa afirmação. Colocar qualquer pessoa ao lado de Jesus Cristo, ou falar de salvação fora dEle, ou sem que Ele esteja no centro, é uma traição e uma negação da verdade. O apóstolo Pedro disse no Sinédrio em Jerusalém: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4.12).

Todo o ensino falso deve ser repudiado e resistido. Somos ensinados no Novo Testamento que esse ensino era combatido pelo Senhor e Seus apóstolos que, além de o resistirem, preveniam o povo contra tal prática. Pergunto, então, o que está sendo feito hoje? Qual é a sua atitude pessoal a respeito disso? Você é daqueles que dizem que não há mais necessidade daquelas rejeições e que deveríamos nos contentar com uma apresentação positiva da verdade? Concordamos com o ensino predominante que tem aversão às advertências e à crítica ao ensino falso? Você concorda com aqueles que dizem que um espírito de amor é incompatível com a denúncia e a crítica do erro retumbante, e que devemos sempre ter atitudes positivas?

A resposta simples para atitudes como essas é a postura do Senhor Jesus Cristo denunciando o mal e os falsos mestres. Ele os denunciou como “lobos devoradores”, “sepulcros caiados” e “condutores cegos”. O apóstolo Paulo disse a respeito de alguns deles: “o deus deles é o ventre, e a glória deles é para confusão deles mesmos”. Essa é a linguagem das Escrituras. Há pouca dúvida de que a Igreja se encontra na situação que está hoje porque não seguimos os ensinos e exortações do Novo Testamento e nos limitamos ao que é positivo e ao que chamamos de “evangelho simples”, e deixamos de salientar os aspectos negativos e as críticas.

O resultado é que as pessoas não reconhecem o erro quando convivem com ele. Aceitam o que parece ser bom e se impressionam com aqueles que vêm à sua porta falando acerca da Palavra de Deus, oferecendo livros sobre a Bíblia, profecias, etc. Em sua imaturidade e ignorância muitas vezes as pessoas ajudam a propagar o ensino falso porque não conseguem ver nada de errado nele. Além disso não se dão conta que o erro é para ser rejeitado e denunciado. Imaginando-se cheias do espírito de amor, são enganadas por satanás, a besta predadora que estava no encalço delas, de repente as alcança e pula sobre elas com sua destreza e sutileza.

Não é agradável ser oposição! Não temos prazer em ter que denunciar e expor o erro, mas qualquer pastor que humildemente sinta um pouco da mesma responsabilidade que o apóstolo Paulo teve, num grau infinitamente maior, pelas almas e bem-estar espiritual do seu povo, se sentirá compelido a expressar estas advertências. Isto não é apreciado face a frouxidão da geração moderna. Com demasiada freqüência a audiência tem controlado o pregador e o ensinador, trazendo grande mal para a igreja. O apóstolo previne Timóteo que “virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina”. Isto acontece freqüentemente agora, e assim tem sido durante o século atual. Portanto, é importante que cada membro saiba claramente o que é a igreja local e, em especial, a responsabilidade daqueles que são os seus ministros.

Há igrejas no mundo, hoje, que de forma superficial aparentam estar frutificando muito. O povo se aglomera dentro delas e elas mostram muito zelo e entusiasmo, mas num exame mais minucioso revelará que a maior parte do tempo é dedicada a vários tipos de música, clubes, sociedades e atividades sociais. O culto se inicia às 11 horas e precisa terminar pontualmente ao meio-dia. Se não, surgirão grandes problemas! Há uma “palavra” curta demais, de uns quinze minutos, no máximo vinte. O ministrante, se não perceber claramente essas coisas, terá medo de contrariar a maioria, seu sustento depende dos membros da igreja e o resultado é que tudo se faz para atender aos desejos da congregação.

Deixem-me acrescentar que o ministro também não se deve impor. É o Senhor quem determina! Ele mesmo, que está à destra de Deus, é quem deu “uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres”. Ele os deu para a edificação da Sua Igreja e a Sua mensagem é que deve ser proclamada sem medo ou favor. Devemos recapturar algo do espírito de John Knox, cuja pregação fez tremer Maria, a rainha dos escoceses.

O trabalho de ministério é edificar o Corpo de Cristo. A função do ministrante é edificar a igreja, não a si mesmo! Lamentavelmente eles têm edificado a si próprios, pois lemos sobre líderes de igrejas que vivem em posições de grande riqueza e pompa. Que tremendo contra-senso com os ensinos do apóstolo Paulo! Notemos que os ministrantes são chamados para edificar, não para agradar e divertir. A maneira que devem fazer isso está resumida, claramente, na mais lírica das passagens de Atos 20. O apóstolo Paulo estava se despedindo dos anciãos da igreja em Éfeso, à beira-mar, quando disse: “Agora, pois, encomendo-vos ao Senhor e à palavra da sua graça, que tem poder para vos edificar e dar herança entre todos os santificados” (v.32). A Palavra da Sua graça é que é poderosa para nos edificar! Não é de se surpreender que a Igreja esteja do jeito que se encontra hoje, pois a ela está sendo dado divertimento e filosofia.

Nessa prática o ministrante poderá atrair e segurar uma multidão por algum tempo, mas não poderá “edificar”. A função do ministrante é “edificar”, não atrair uma multidão. Nada edifica a não ser a genuína Palavra de Deus. Não há autoridade fora disto! Ela não deve ser modificada ou abreviada para se adaptar aos modismos dos “tempos modernos”, ou algum suposto “resultado assegurado pela crítica” que sempre está em mutação. É o “Evangelho Eterno”, é a “Palavra Eterna”, a mesma Palavra que Paulo e os outros apóstolos pregaram, a mesma Palavra que os reformadores protestantes pregaram, os puritanos e os grandes pregadores de duzentos anos atrás, como Spurgeon no século passado, sem qualquer modificação.

Por isto ter sido tão esquecido nos últimos cem anos é que as coisas estão do jeito em que se encontram hoje”.

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autor: R David Jones.