O mundo ao nosso redor está cada vez mais instável. As tradições e as culturas firmadas através dos séculos estão sendo atacadas e gradualmente demolidas pelas novas gerações sem que sejam substituídas por algo melhor, claramente expresso e duradouro. Surge então a pergunta: como é que podemos encontrar estabilidade nesta situação?
Entre as perguntas que encontramos na Bíblia, temos a seguinte: “Que mudar leviano é esse dos teus caminhos?” (Jeremias 2:36). A pergunta é feita pelo SENHOR através do Seu profeta, e é dirigida ao Seu povo, Israel e particularmente ao reino de Judá. A palavra “mudar leviano”, tem aqui o sentido de ir e vir sem seriedade, “ziguezagueando pelo caminho” (v. 23). O povo de Israel foi um exemplo de instabilidade.
Tinha sido separado por Deus para ser um povo exclusivamente Seu, dotado com uma lei perfeita e boa, um sacerdócio santo que antecipava e figurava o Salvador que viria a Seu tempo, gozava do amor e proteção do Deus Todo-Poderoso, e fora presenteado com grande território bem localizado, contendo terras férteis onde poderia ter permanecido para sempre. Ele tinha uma abençoada estabilidade pela frente se permanecesse fiel a Deus, mas Israel titubeou e falhou lamentavelmente.
Ao invés de trilhar o caminho que Deus lhe havia indicado, que exigia fidelidade, completa dependência e obediência, ele se aventurou por outros que lhe agradavam mais. Afastou-se de Deus várias vezes e, como faz a humanidade em geral, nessas ocasiões inventava deuses para si segundo o seu próprio critério. Deuses fáceis de agradar, que não requeriam um alto padrão de conduta, pois na realidade eram simples projeções da velha natureza do homem. Para defesa dos seus inimigos, confiou em convênios firmados mediante alto preço com nações gentílicas, mas quando as conseqüências do seu pecado sobrevinham e as suas alianças se rompiam, o povo não recorria aos seus deuses, que para nada valiam, mas desavergonhadamente imploravam o socorro do SENHOR.
Nesta passagem o povo é repreendido por não se arrepender ao ser castigado, por perseverar em sua infidelidade a Deus e pecar com mais habilidade do que as mulheres perdidas, por destruir os pobres e inocentes, e ainda assim protestar inocência. Os desastres lhe vieram como conseqüência. Nunca recuperou a sua estabilidade.
A experiência do cristianismo através dos tempos nos parece ter sido muito semelhante: as igrejas foram deixando a simplicidade e pureza do Evangelho fundamentado em Cristo e nos ensinos dos Seus apóstolos, para pregar um evangelho diferente e fazer para si deuses segundo o seu próprio critério, amparando-se em filosofias e práticas rejeitadas por Deus, e mesmo aliando-se com o mundo para se tornarem mais aceitáveis e aumentarem a sua influência. O mundo, bem como muitos dos que se dizem cristãos, mas que se aliam a ele, vive segundo a filosofia e os ensinamentos dos homens. A maior parte da sabedoria humana é falível e sem valor, logo se desvanecendo.
Hoje vemos igrejas de todos os matizes, todas dizendo-se cristãs, a maior parte delas movidas apenas pelo mercantilismo, com líderes que “dançam qualquer música” sem saber para onde vão ou mesmo de onde vieram, transformando a Palavra de Deus em uma mentira para satisfazer suas ambições ímpias particulares.
Certamente não é o desejo do nosso Pai celeste que os Seus filhos se sintam inseguros e instáveis. Ele próprio é imutável - este é um dos Seus atributos. O Senhor Jesus “é o mesmo ontem, hoje e eternamente”. A Palavra do Senhor vive e permanece para sempre. A Sua palavra é segura e não muda, “passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mateus 24:35). Tudo que nela se encontra será cumprido “porque eu, o SENHOR, falarei, e a palavra que eu falar se cumprirá e não será retardada” (Ezequiel 12:25). Somente em Deus é obtida a estabilidade perene.
Os verdadeiros crentes em Cristo que desejam segurança e estabilidade, devem conduzir as suas vidas de acordo com a Palavra do Senhor, segundo a graça e a misericórdia de Deus. Os seus padrões de comportamento em todos os âmbitos têm que ser observados, ao invés dos do mundo que, diga-se de passagem, estão em vias de desaparecer.
Como cidadãos do reino de Deus, nossa conduta deve ser de uma honorabilidade digna de Cristo, “vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo” (Filipenses 1:27). A palavra grega traduzida “vivei” é politeuesthe, originada de politês, cidadão, e polis, cidade: significa agir como cidadão e mesmo tratar dos assuntos de estado. É uma posição muito honrosa - nos tempos de Paulo o cidadão era exaltado acima dos muitos servos e escravos. Paulo tinha cidadania romana. A nossa palavra “polícia” também tem a sua origem em “polis”. Em outras palavras, nossas vidas devem ser governadas pelas “políticas” (também de “polis”) do céu e “policiadas” pela Palavra de Deus, desta forma assegurando uma maneira de vida estável e segura.
Um dos princípios bíblicos é a unidade familiar segura, centrada no relacionamento amoroso entre o marido e a mulher. Este princípio divino, exposto na aurora da criação, é enfatizado vez após vez na Bíblia. A vida em família é o fundamento de uma sociedade estável. O mundo moderno está procurando desfazê-lo em seguida à “liberação feminina e da infância”, e já teve muito sucesso. O mandamento “honra o teu pai e a tua mãe” está sendo esquecido. Já está se tornando censurável ou mesmo ilegal disciplinar os filhos com a “vara”. E a instabilidade é cada vez maior, vendo-se um avanço sem precedentes na criminalidade infantil.
Como pais e avós queremos que a nova geração viva em um ambiente estável e seguro. O primeiro passo para que isso se realize consiste em dar-lhes um exemplo sadio, mediante o qual possam aprender os princípios do reino de Deus. Quantos pais crentes têm a tristeza de ver os seus filhos se desviando pelos caminhos do mundo. “Não sei por que” dizem, “sempre os levei à escola dominical”. Esquecem que, mais do que ir à escola dominical, é importante ter um exemplo de fidelidade aos ensinos da Bíblia dado pelos próprios pais.
Como participantes da comunhão de uma igreja local, desejamos um ambiente pacífico, estável, em que nós e todos os outros membros possamos crescer no conhecimento de Deus e do nosso Salvador, e propício para trazer os de fora ao conhecimento de Cristo.
Temos abundantes ensinamentos no Novo Testamento sobre a conduta que cada um deve ter dentro da igreja a fim de atingir esse objetivo. Por exemplo: “Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outrem” (Colossenses 3:12-13). “Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida ..." (Filipenses 2:14-16). “Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade” (Colossenses 2:20-23).
Em resumo, mantém-se a estabilidade quando:
- O povo de Deus vive de acordo com a Sua Palavra ao invés da sabedoria humana.
- As crianças aprendem a comportar-se segundo o ensino bíblico e o exemplo de obediência a Deus dado por seus pais, ao invés daquilo que aprendem dos seus colegas de escola e dos seus amigos e companheiros de famílias incrédulas.
- A igreja local procura viver em conformidade com os princípios de Deus, servindo uns aos outros em amor ao invés de contender entre si e impor as suas cargas uns sobre os outros.