Onde está na Bíblia a profecia de Enoque fazendo referência sobre a vinda de Cristo com milhares dos Seus santos?
Não está na Bíblia, embora haja uma referência a ela em Judas versículos 14 e 15: “Quanto a estes foi que também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios, acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele”.
A Bíblia não explica onde Judas encontrou essa profecia e a explicação mais simples e plausível é que o Espírito Santo lhe transmitiu todo o teor da epístola, inclusive esse texto.
Enoque foi um homem notável e muito especial, pois andou com Deus, e ao fim de seus 365 anos (o número de dias em um ano) “já não era, porque Deus o tomou para si” (Gênesis 5:24): justificado pela fé, obteve testemunho de haver agradado a Deus e foi trasladado para não ver a morte (Hebreus 11:5).
Mediante a revelação de Deus, pois andava com Ele, Enoque profetizou a vinda do SENHOR com os seus santos para juízo de todos. Tempos depois da sua trasladação veio o dilúvio que destruiu toda a humanidade menos a família de Noé, mas evidentemente não foi este o juízo previsto por ele. Esta foi a primeira profecia a respeito da vinda do Senhor Jesus Cristo em glória com os Seus santos para julgar o mundo, confirmada mais tarde ainda no Velho Testamento (p.ex. Zacarias 14:5), e anunciada por Cristo e os Seus apóstolos.
Assim como Enoque foi removido deste planeta sem passar pela morte, também os crentes em Cristo, que estiverem vivos por ocasião do arrebatamento, serão trasladados e estarão entre os Seus santos para voltar e julgar o mundo. Isto só foi revelado depois dos tempos do Velho Testamento, no entanto Enoque pode ser visto como um tipo ou representante desses crentes. Eles serão extraídos da terra antes do juízo da grande tribulação, como Enoque o foi antes do dilúvio. Alguns pesquisadores, não satisfeitos com a simples inspiração do Espírito Santo para essa revelação através de Judas, andaram procurando alguma referência em outra literatura não incluída na Bíblia, existente no tempo dos apóstolos.
Em 1773 um deles encontrou um “Livro de Enoque” dentro de uma Bíblia etíope. Um dos escritores do segundo século A.D. havia se referido a esse livro, mas ele se perdera através dos tempos com exceção de uns poucos fragmentos. Essa passagem está dentro do livro, que fora rejeitado pelos homens de Deus em seu tempo e excluído da Bíblia por ser “apócrifo”, ou seja, inventado, sem autenticidade. Não se sabe exatamente quando foi escrito, não há evidência que foi antes de Judas, e é até provável que a profecia encontrada em Judas fora colocada nele para procurar dar-lhe um quê de autenticidade.
A palavra grega Apocrypha (escondido ou secreto) é usada em geral para uma coleção de livros, cujo número vai de onze a dezesseis, que apareceram entre o Velho e o Novo Testamento. Eles têm mais ou menos conexão com os livros canônicos (que se encontram em nossas Bíblias), e a sua história tem sido muito controvertida.
A opinião dos teólogos sobre o valor dos livros sempre tem variado muito. Os teólogos judeus que se dispersaram mais de dois séculos antes de Cristo para o Egito davam muito valor a esses livros, e os incluíram na tradução grega do Velho Testamento, conhecida como “septuaginta”. Os teólogos da Palestina sempre os rejeitaram e nunca os incluíram no seu cânone hebraico que está traduzido em nossas Bíblias.
Os livros apócrifos são denominados Esdras (2), Tobias, Judite, Adições a Ester, A Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, A Carta de Jeremias, O Cântico das Três Crianças Sagradas, Susana, Bel e o Dragão, A Oração de Manassés e Macabeus (1 a 4).
Mesmo os mais eruditos variam na classificação desses livros. A Instituição Católico-Romana, no concílio de Trento do ano 1546 A.D., declarou que onze destes livros são canônicos e estes aparecem nas edições modernas das suas Bíblias.
Embora estes livros contenham material de valor literário e histórico, a sua legitimidade como parte da Palavra de Deus inspirada pelo Espírito Santo é rejeitada pelos teólogos não vinculados a essa instituição, e não aparecem em nossas Bíblias porque:
- Nunca foram mencionados pelo Senhor Jesus, e é muito duvidoso se houve qualquer alusão a eles pelos apóstolos.
- A maioria dos comentaristas dos primeiros séculos da era cristã os consideravam como não-inspirados.
- Eles não apareciam no cânone hebreu antigo.
- A qualidade inferior da maioria dos textos, comparados com os dos livros canônicos, evidenciam que não têm lugar entre os que evidentemente têm a inspiração divina.
O Senhor Jesus declarou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento ao acusar os escribas de serem culpados dos assassinatos de todos os profetas que Deus enviara, desde Abel até Zacarias (Lc.11:51). A morte de Abel é registrada em Gênesis; a morte de Zacarias encontra-se em 2 Crônicas 24:20-21, que é uma porção do último livro da Bíblia hebraica (ao invés de Malaquias, como nas Bíblias em português). Nosso Mestre estava afirmando que a culpa dos judeus estava registrada do começo ao fim das Escrituras hebraicas. Ele excluiu todos os livros apócrifos, os quais já existiam naquela época, e foram escritos depois dos livros canônicos.
Curiosamente, os livros apócrifos não passam no “teste dos sete”, criado pelo Dr. Ivan Panin, um filólogo e matemático judeu, que em 1900 descobriu que ao se substituir cada letra no texto hebraico do Velho Testamento pelo seu equivalente numérico, verifica-se uma repetição surpreendente do número 7, e seus múltiplos, em muitos aspectos.
A probabilidade de apenas 12 das muitas características existentes aparecerem em uma passagem de tamanho moderado é de uma em diversos milhões, por isso a possibilidade de ter acontecido ao acaso é nula.
Ao fazer o mesmo teste no grego antigo do Novo Testamento, as mesmas características foram encontradas. Com isso, o Dr. Panin, que era ateu, converteu-se ao Evangelho e se tornou em um ardoroso evangelista.
Parece certo que a Instituição Católica Romana procura dar legitimidade a esses livros, enxertando-os na sua Bíblia, porque há neles uma rara referência a orações pelos mortos para livrá-los do castigo no inferno. Seria uma justificativa para o purgatório que ela inventou.
A Bíblia, como a temos agora, está completa. Não existe lugar ou justificativa para enxertos. Infelizmente, sob o pretexto de tornar a Bíblia mais fácil de ler e compreender, existem versões modernas de “linguagem facilitada” que enxertam palavras inexistentes, além de versões especialmente preparadas que distorcem o texto bíblico para dissimular as flagrantes heresias que seus editores querem espalhar.
Em nossos estudos, cuidemos bem da tradução que usamos, para podermos interpretar corretamente o ensino que o Espírito Santo nos está dando. Felizmente já dispomos de bons comentários escritos por homens de Deus que são profundos conhecedores dos textos em suas línguas originais e nos são de grande valia no esclarecimento de algumas expressões mais obscuras e raras, de difícil compreensão.