O Evangelho de Mateus, sendo o primeiro livro do Novo Testamento, nos apresenta a pessoa magnífica do Senhor Jesus Cristo, Deus o Filho, criador dos céus e da terra, que Se fez homem nascendo de uma mulher virgem, viveu impecavelmente, demonstrou Sua identidade mediante palavras e ações, entregou Seu corpo em morte sacrificial, ressuscitou no mesmo corpo maravilhosamente transformado, e nele voltou para o céu.
Durante a Sua estada aqui, o Senhor declarou que voltaria ao mundo para estabelecer o Seu reino, assim cumprindo profecias a esse respeito feitas através de profetas do Velho Testamento.
É notável que, embora este sermão tenha sido dado quando uma grande multidão O seguia, o Senhor Jesus primeiro subiu uma montanha onde Se assentou, em seguida os Seus discípulos se aproximaram d’Ele, e Ele falou, não às multidões, mas aos discípulos.
A rigor, Seu reino na terra não se iniciou quando veio daquela vez, mas será estabelecido quando Cristo voltar para reinar em perfeita justiça no mundo. Mas todo aquele que O recebe como seu Senhor agora, deve tomar conhecimento dos princípios encontrados neste sermão, que fazem parte da Sua lei, para começar a obedecê-la com o poder do Espírito Santo, sem o qual ninguém pode alcançar estes altos padrões.
É impossível impor a lei sobre os rebeldes incrédulos, mas convém que seja feita conhecida por eles também, para que se convençam de que estão em pecado. A lei de Moisés também foi dada ao povo de Israel para educá-lo nos padrões da justiça de Deus, e prepará-lo para conduzi-lo ao Filho de Deus que viria trazer o conhecimento da Sua perfeita justiça, pela fé (Gálatas 3:24).
O chamado “Sermão do Monte”, que começa aqui, evidencia que ninguém é justo, e só o Evangelho da graça de Deus pode trazer a justificação necessária para que alguém possa se habilitar a obedecer ao Messias. Em nosso tempo, o pecador precisa de primeiro vir a Cristo e recebê-Lo como seu Senhor e Salvador. Depois, ele vai começar a aprender a lei do reino e obedecê-la.
O Sermão do Monte começa com as bem-aventuranças. "Bem-aventurado" é a tradução de uma palavra grega que significa "feliz" ou "abençoado". As pessoas assim classificadas pelo Senhor Jesus têm um caráter que, do ponto de vista mundano, as fariam infelizes: a felicidade de uma pessoa segundo o critério do mundo é o oposto. Mas é o caráter de quem é súdito do Reino de Jesus Cristo, segundo a escolha do Rei. Vejamos:
- "Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus”. Os pobres de espírito têm uma natureza humilde, submissa ao Rei. Somente aqueles que reconhecem o seu estado de pecador diante de Deus, aceitam o sacrifício feito por Ele quando deu o Seu Filho para morrer na cruz do Calvário em seu lugar, arrependem-se do seu pecado e morrem para si para viver em novidade de vida, obedientes a Deus, é que são pobres de espírito. Como Paulo expressou: "… recomendáveis em tudo: … como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo e possuindo tudo" (2 Coríntios 6:10). "Tudo" são as riquezas espirituais ao alcance de todos os que pertencem a Cristo. O Reino dos céus pertence a essas pessoas apenas.
- "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados". Este verbo, "choram", é a tradução de um verbo mais usado para lamentação pelos mortos, e pelas desventuras e pecados dos outros. Não é tanto a tristeza por causa de más experiências próprias, mas pelo pecado existente em si e no mundo, e pela rejeição do Salvador por parentes, amigos e conhecidos. Eles serão consolados no dia em que "Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras coisas são passadas" (Apocalipse 21:4).
- "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra". Os mansos aceitam a adversidade com placidez, eles se acomodam com sua própria situação, não são contenciosos nem se vingam contra os seus algozes. A Bíblia diz que Moisés foi mais manso do que todos os homens que havia sobre a terra (Números 12:3), e o Senhor Jesus nos disse: "aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração" (Mateus 11:29). Eles herdarão a terra: como Moisés foi escolhido por Deus para governar o Seu povo e livrá-lo da escravidão, os mansos um dia reinarão com Cristo sobre a terra.
- "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos". Estes são os que procuram praticar a justiça e anseiam ver honestidade, integridade e justiça no mundo ao seu redor, e santidade na igreja. Isto lhes será amplamente suprido no reino de Cristo, pois a retidão predominará e os mais altos padrões morais tomarão o lugar da corrupção que existe no mundo atualmente.
- "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia".Essas pessoas são compassivas, têm pena e aliviam os que estão sofrendo, perdoam as dívidas dos que não podem pagar, ajudam os necessitados e fazem o bem ao próximo. A "misericórdia" de que o Senhor Jesus fala aqui nada tem a ver com a salvação do pecador: esta vem pela graça (que é um favor não merecido) de Deus mediante a fé apenas: não é uma recompensa por qualquer bem que alguém tenha feito. A misericórdia que alcançam os misericordiosos é concernente ao galardão que lhes será concedido no tribunal de Cristo (1 Coríntios 3:12-15).
- "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus".Ninguém em sua natureza humana é "limpo de coração" (Jeremias 17:9), mas o Senhor Jesus disse: "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado" (João 15:3). Só o sangue de Cristo nos limpa de todo o pecado (1 João 1:7), e nos mantemos limpos mediante a lavagem constante pela Palavra de Deus.
- "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus". Os pacificadores são aqueles que agem no sentido de promover a paz. Não é somente observar e desejar que haja paz. A maior paz que pode ser promovida consiste em obter a paz com Deus - isto se faz mediante a pregação e ensino da mensagem do Evangelho. Os pacificadores serão chamados “filhos de Deus”, porque demonstram ter a natureza pacificadora que provém de Deus. Eles já terão antes sido feitos filhos de Deus porque creem em Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo (João 1:12).
- "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus". Não se trata dos criminosos que se acham perseguidos, mas das pessoas que, pela sua fé em Cristo, procuram viver de maneira justa, honesta, íntegra e são perseguidas por causa disso. A sua pureza de caráter levanta o ódio do mundo, que vê nisto a sua própria condenação. O Senhor Jesus esclarece este ponto em seguida, dizendo aos discípulos que eles serão bem-aventurados quando forem injuriados, perseguidos e caluniados por causa d’Ele próprio. Isto lhes será motivo de exultação e alegria, pois os profetas antes deles também sofreram da mesma forma. Grande será o seu galardão no tribunal de Cristo. Cristo é a revelação da perfeita justiça de Deus. A história tem confirmado que o mundo odeia a justiça de Deus, e imenso tem sido o número de mártires que sofreram porque foram fiéis a Cristo, não cedendo às pressões do mundo idólatra e da religião apóstata dos seus dias.
O caráter do cidadão do reino de Deus apresentado nestas bem-aventuranças corresponde ao do pecador salvo pela fé em Cristo. Destacam-se a justiça (v. 6), a paz (v. 9) e a exultação (v. 12). Assim ensinou o apóstolo Paulo: "o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (Romanos 14:17).