As supostas contradições da Bíblia (2)

Os erros nas cópias e nas traduções

A Bíblia foi inspirada, palavra por palavra, por Deus (2 Timóteo 3:16), portanto ela é a absoluta verdade e não contém erros de qualquer espécie.

No entanto não dispomos dos originais, por causa dos milênios decorridos desde que os seus 66 livros foram escritos, por muitos autores em diferentes e distantes épocas, e seria praticamente impossível manter o seu conteúdo intacto, através das muitas cópias, até hoje. Ademais, as próprias palavras desaparecem ou ganham novos sentidos, de forma que os originais provavelmente seriam incompreensíveis para um leitor em nossos dias, mesmo se pudessem ser preservados em sua forma original.

A esmagadora maioria dos leitores se baseia em traduções feitas para outros idiomas, e nestas traduções nem sempre é possível encontrar um vocábulo que expresse exatamente o mesmo que o original, surgindo então incorreções e até mesmo erros. Na multiplicidade de versões da Bíblia de que dispomos hoje em português, podemos encontrar algumas que são evidentemente tendenciosas, em que seus editores torceram a tradução para apoiar a sua linha doutrinária. Em outras, editadas para reduzir o vocabulário e assim facilitar a sua leitura para os menos instruídos, foi impossível transmitir com exatidão o sentido original de algumas expressões.

O inimigo se aproveita desses argumentos para pôr em dúvida a autenticidade do texto das nossas Bíblias, sugerindo que, se existem imperfeições, fica manifesto que não pode ser de origem divina e deixa de ser confiável.

Na preservação da pureza e da perfeição dos escritos originais através dos séculos, das cópias e das traduções, o fator mais importante tem sido a ação de Deus, na pessoa do Espírito Santo. Ela é manifesta a nós com várias evidências, das quais destacamos:

  • Os vestígios de relatos do dilúvio e de pessoas da antigüidade mencionadas na Bíblia desde os tempos de Noé, que estão sendo encontrados por arqueólogos na Mesopotâmia provam que o livro de Gênesis foi escrito por quem tinha conhecimento dos fatos ali relatados. Seu autor, inspirado pelo Espírito Santo, foi Moisés, como o atestam muitas passagens tanto do Velho como do Novo Testamento. Sem dúvida o seu preparo intelectual no Egito, bem como as bibliotecas que tinha ao seu dispor ao seu tempo, fizeram com que ele fosse um escriba hábil e bem informado.
  • O esmero dos escribas israelitas que com profunda reverência e capricho contavam até os menores sinais ortográficos nas cópias quando as conferiam com o original (ver Mateus 5:18). O Senhor Jesus citava o Velho Testamento, dando-lhe assim plena autenticidade.
  • Esse mesmo cuidado com o Velho Testamento em hebraico e aramaico continuou depois do tempo de Cristo com escribas judeus dedicados à sua conservação e transcrição. Dos livros do Novo Testamento existem mais documentos comprobatórios, da época em que foram escritos, do que qualquer outra literatura da mesma idade. Existem mais de cinco mil manuscritos no grego original, oito mil traduções para o latim, e vários manuscritos em outros idiomas para atestar a sua legitimidade.
  • A harmonia encontrada entre todos os livros da coleção conhecida como Bíblia atesta a realidade de um Autor divino e o Seu cuidado na sua conservação.
  • A reverência para com o Autor divino se manifestou também nas muitas publicações da Bíblia (que se distingue por ser o primeiro livro a ser impresso por Gutenberg, inventor da tipografia moderna) e nas suas traduções feitas pelos Seus servos. Tal é a sua qualidade que as traduções da Bíblia têm sido freqüentemente usadas até para fins didáticos nas escolas por causa da sua perfeição gramatical.

Os mais conceituados filólogos do antigo hebraico, aramaico e grego, idiomas usados nos originais e dos quais se conservam as cópias, são judeus ou cristãos e se empenham em manter as traduções atualizadas e fiéis aos originais, mediante revisões periódicas. As traduções espúrias não podem ser evitadas, mas podem ser combatidas mediante comparação com as que são fidedignas.

Os detratores da Bíblia, em seu esforço para apontar contradições, fazem suposições incorretas que os incautos ou mal-informados são capazes de aceitar. Por exemplo:

  • Quando se deu a fuga de José e Maria para o Egito: Segundo Mateus 2:14 o Senhor Jesus foi levado para o Egito imediatamente após a visita dos magos, no entanto em Lucas 2:21-22 seus pais foram com Ele até Jerusalém, passando pelo menos um mês ali. A suposição seria que os magos chegaram até Ele quando ainda era recém-nascido, ainda na manjedoura. Uma leitura mais cuidadosa evidencia que poderia ter passado até dois anos entre os dois eventos. Não há contradição.
  • O dia da crucificação: Tradicionalmente se considera que foi numa sexta-feira e a maioria dos comentaristas concordam com isto. Mas, se cuidadosamente contarmos os dias, seria numa quarta-feira. Quarta-feira cabe melhor que sexta-feira e cumpre perfeitamente a profecia dos três dias e três noites. Havia dois sábados entre o dia da crucificação e o da ressurreição:
    a) O primeiro dia da festa dos pães asmos,
    b) O sétimo dia da semana.
    A contradição não existe na Bíblia, trata-se de diferença entre uma tradição muito antiga e o que podemos apurar do relato bíblico.

Alegam outras aparentes contradições nas descrições de detalhes encontrados nos relatos dos evangelistas, como:

  • Abiatar e Aimeleque: Abiatar era filho de Aimeleque (1 Samuel 22:20), e Abiatar também tinha um filho chamado Aimeleque (2 Samuel 8:17). O Senhor Jesus disse que Davi e seus companheiros entraram na casa de Deus e comeram os pães da proposição no tempo do sumo sacerdote Abiatar (Marcos 2:26), mas em 1 Samuel 21 o sacerdote mencionado no episódio é Aimeleque. Não há contradição, pois tanto Aimeleque como Abiatar eram sacerdotes e no relato de Samuel não se informa quem era o “sumo” – vale a palavra do Senhor Jesus, sem dúvida.
  • Os endemoninhados gadarenos: Marcos e Lucas falam da cura de um endemoninhado (Marcos 5:2-16, Lucas 8:27-33), e Mateus nos diz que havia dois (Mateus 8:28-32). Obviamente Mateus incluiu outro que também estava envolvido. Não há contradição, pois Marcos e Lucas não dizem que foi apenas um.
  • As circunstâncias da ressurreição de Jesus Cristo: os fatos relatados nos quatro Evangelhos parecem não concordar entre si. Mas não existem contradições ao fazermos um estudo cuidadoso, lado a lado, dos relatos: eles não são coincidentes, mas perfeitamente complementares (veja uma harmonização em http://www.bible-facts.info/comentarios/nt/mateus/asuaressurreicao.htm ).

Ainda existem algumas raras e ligeiras variações entre os milhares de manuscritos antigos da Bíblia. Nenhuma delas é de qualquer importância, consistindo, por exemplo, em diferenças em números, na soletração, numa palavra ou na construção de uma frase. Na maioria dos casos, é fácil dizer pelo contexto qual deve ser o original.

Algumas contradições decorrentes de problemas de tradução também podem ser encontradas. Geralmente é porque o idioma em que uma palavra é traduzida não tem uma palavra para expressar exatamente o sentido da original, e a palavra escolhida pode ter sido usada também para traduzir outra com outro sentido, usada em outro lugar. Por exemplo, a palavra “amor” em português é usada para traduzir três palavras com sentidos diferentes no grego – neste caso existem dicionários acessíveis onde se pode verificar qual é o sentido correto do original.

Essas contradições, se houver, certamente não procederam do Autor, pois Ele não é responsável pelas deficiências dos idiomas em que a Sua Palavra foi traduzida. É notável que os idiomas originais, o hebraico, o aramaico e o grego, são dos mais expressivos, tanto que o hebraico e o grego são ainda usados hoje, adaptados para o nosso tempo.

autor: R David Jones.