Mateus 13:31-35
Estas parábolas vêm em seguida às do Semeador e do Joio e do Trigo. Como aquelas, são simples relatos de fatos corriqueiros bem conhecidos pela multidão daquele tempo. Os discípulos não pediram que o Senhor explicasse estas duas, decerto porque não tiveram dificuldade em compreender a sua aplicação espiritual ao Reino de Deus.
No entanto, por falta de uma explicação dada com autoridade pelo Mestre, existem diferentes interpretações hoje em dia, em parte por não se considerar suficientemente o que estes fatos representam à luz do ensino geral das Escrituras. Existe harmonia geral em todos os livros da Bíblia, e estas duas parábolas não devem faltar a essa harmonia, uma vez que o Autor, o Espírito Santo, é o mesmo.
O grão de mostarda era a menor semente conhecida pelo povo a quem a parábola foi contada. O Reino de Deus, compreendido como sendo o assim chamado Cristianismo, também começou com um pequeno grupo de pessoas, perseguido e amedrontado, de onde surgiram outros grupos, as igrejas primitivas, que se mantinham relativamente puras devido à perseguição que sofriam.
O arbusto em que a semente de mostarda se transformava era comum (ainda existe ali), mas nunca crescia ao ponto de se tornar em uma árvore fenomenal como a da parábola. Evidentemente era um exagero, e isto deve ser levado em conta na interpretação também, pois é parte do ensino.
Realmente o Cristianismo passou a crescer muito, de forma anormal, quando a ele se aderiu o poder secular. Sua influência pelo mundo se tornou enorme, mas sua qualidade foi desvirtuada pelo afastamento da pureza do ensino bíblico com a introdução de heresias, mitos, clericalismo e ritualismo, ao ponto de se proibir a leitura da Palavra de Deus.
As aves da parábola do Semeador, na interpretação dada pelo próprio Senhor Jesus, procediam do Maligno, e vieram arrancar a mensagem do Reino semeada no coração dos que ouviram a pregação. Elas representam, portanto, algo mau.
Nesta parábola, as aves do céu vêm fazer os seus ninhos nos ramos daquela árvore descomunal. Assim também o Cristianismo, inflacionado por seitas apóstatas, passa ainda a abrigar uma multidão de "igrejas" totalmente falsas, de cristã tendo apenas o nome. São instrumentos do Maligno para "sujar" o testemunho cristão, joio no meio do trigo como nos ensina a parábola anterior.
A parábola seguinte, contida toda no versículo 33, a do fermento, pode ser considerada a chave deste capítulo, assim como ele é a chave do livro de Mateus, e o Evangelho de Mateus é o livro chave da Bíblia inteira.
O versículo todo nos fala como é o Reino de Deus. Existem duas substâncias e uma pessoa:
- Três medidas de farinha, ou seja, uma grande quantidade de farinha, pois cada “medida” é estimada ser de entre 7 e 13 litros. A farinha provém do grão de cereal, como a semente da parábola do Semeador, em que o Senhor Jesus explicou que a semente representava a Palavra de Deus.
- Fermento é sempre figura do que é mau, em todas as 98 vezes que aparece na Bíblia. No Velho Testamento todas as ofertas deviam ser feitas sem fermento, e no Novo o Senhor Jesus advertiu Seus discípulos contra o fermento dos fariseus e dos saduceus (hipocrisia e ensino falso - Lucas 12:1 e Mateus 16:6) e o de Herodes (imoralidade - Marcos 8:15). Ao preparar-se para as festas da Páscoa e Pães Asmos, todo o fermento deveria ser retirado das casas (Êxodo 12:15), simbolizando a purificação de toda a forma de mal. Segundo consta, os escritores rabinos usavam o fermento regularmente como símbolo do mal, portanto os judeus que ouviam esta parábola logo entenderiam o seu significado, sem necessidade de mais explicação.
- Uma mulher, que no sentido doutrinário da Bíblia, é sempre uma espécie de agente do erro e do mal (p.ex. Apocalipse 2:20). Proibidas de ensinar na igreja (1 Coríntios 14:34, 1 Timóteo 2:12), algumas têm se destacado por fundar várias seitas hereges, tendo tomado o lugar de autoridades em doutrina para adulterar o alimento do povo de Deus com heresias destruidoras.
Esta parábola, como as demais desta série, é uma figura daquilo que está acontecendo com o Reino de Deus e a Sua Palavra no intervalo desde a rejeição de Cristo até a Sua exaltação, quando vier assumir o Seu reino depois da Grande Tribulação.
Alguns comentaristas sustentam que o Evangelho seria representado pelo fermento, e a farinha seria o mundo, onde o Evangelho seria pregado até enchê-lo. É uma teoria totalmente falha, dado que o fermento, associado ao mal e à podridão, nunca poderia ser usado como símbolo da pureza do Evangelho.
O Evangelho é para ser proclamado, e não escondido, furtivamente, como faz a mulher da parábola. Ademais, a julgar pela experiência dos dois milênios já quase decorridos, o mundo nunca será todo salvo pelo Evangelho. Ao contrário, o Senhor Jesus mesmo disse: "Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?" (Lucas 8:8). A pergunta indica que a resposta será negativa.
O apóstolo Paulo se refere a esta parábola em 1 Coríntios 5:6-8, quando fala do fermento "velho" da hipocrisia e mentira, e da maldade e perversidade, e exorta os crentes a celebrarem a festa da Ceia do Senhor com "pães sem fermento, os pães da sinceridade e da verdade".
Concluímos, portanto, que são as três medidas de farinha que representam o Evangelho. A quantidade (três) provavelmente apenas significa a sua integridade, embora nos lembre também do Deus trino, que nos deu a Sua Palavra.
A mulher pega o fermento, símbolo de hipocrisia, ensino falso e imoralidade, ou pecado em geral, e o coloca dentro da mensagem do Evangelho, furtivamente, para que ninguém perceba o que ela fez.
Sem dúvida é o que vemos sobejamente em nossos dias. A partir das grandes instituições eclesiásticas até a multiplicidade de seitas vinda à tona todos os dias, vemos uma deturpação completa da mensagem do Evangelho por causa das doutrinas falsas nele plantadas.
Todas se consideram parte do "Cristianismo", e citam partes da Bíblia. Mesmo os espíritas e até os que praticam o culto ao diabo usam a Bíblia.
Como substância, o fermento é uma enzima ou organismo vivo que provoca a transformação de outra substância, como massa de pão ou suco de uva, em algo diferente e com outro sabor. O fermento é usado para se obter um novo sabor mais agradável ao paladar, mas é preciso terminar a sua ação em certo ponto para evitar total putrefação.
Falsos mestres de toda a espécie também colocam o seu fermento na Palavra de Deus para torná-la mais atraente a muita gente. Mas a parábola nos ensina que a introdução de doutrina falsa nas igrejas resultará em apostasia. O Senhor Jesus disse que na Sua segunda vinda, Ele não encontrará fé na Terra, mas haverá apostasia geral. Esse é o caminho que a "cristandade" está percorrendo e já vemos a apostasia por toda a parte.
Escrevendo a Timóteo, o apóstolo Paulo declara que "virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; ao contrário, sentindo coceira nos ouvidos, juntarão mestres para si mesmos, segundo os seus próprios desejos" (2 Timóteo 4:3).
Vemos a apostasia final, completa, retratada na igreja de Laodiceia (Apocalipse 3:14-22), que representa o último estado do Cristianismo antes do período da tribulação, que precede a segunda vinda de Cristo para julgar o mundo e reinar na Terra.
Estas primeiras quatro parábolas foram ditas ao povo pelo Senhor Jesus em cumprimento de uma profecia encontrada no Salmo 78:2. O que Ele estava ensinando ao povo, em parábolas, eram verdades nunca antes reveladas - eram enigmas, difíceis de entender.