Armagedom

Esta palavra aparece com frequência atualmente na imprensa, televisão e internet, mas poucos entendem a sua origem e o seu significado. Traduzida como “Armagedão”, segundo Houaiss é o “local e cena da derradeira batalha entre as forças do Bem e do Mal”, ou “nome da batalha que ocorre nesse local”, ou “grande guerra final ou confrontação decisiva”. Todas essas definições estão erradas, como veremos a seguir.

Esse não é o sentido da palavra original hebraica Har-megiddon. Esta palavra, traduzida para o português como Armagedom, aparece uma única vez na Bíblia, em Apocalipse 16:16, sendo a combinação de duas palavras: Har (montanha) e megiddon (de Megido, uma cidade).

Do cume desta montanha se vê todo o vale no centro-norte da terra de Israel, chamado “vale de Jezreel”. O vale é aproximadamente triangular com margens medindo uns 24 a 35 km de lado, e aparece várias vezes no Velho Testamento por ser o teatro de batalhas furiosas entre os israelitas e os seus inimigos.

Como esta montanha é a que se destaca no horizonte, sendo vista de todos os pontos do vale, explica-se porque o vale é chamado Armagedom em Apocalipse 16:16. Ali é onde “os reis de todo o mundo” serão congregados para seguir em sua campanha contra os judeus, em Jerusalém e mais adiante. Todavia não haverá uma batalha contra exércitos humanos, mas o próprio Cristo vai destruir os exércitos invasores, porque é o Seu grande dia (Apocalipse 16:14).

A campanha de Armagedom será desenvolvida para eliminar os judeus e os gentios agregados a eles, todos refugiados em Jerusalém. São sobreviventes da grande perseguição feita ao povo de Deus, profetizada como “a grande tribulação” (Mateus 24:21, Apocalipse 7:14). A campanha será marcada por sete acontecimentos importantes:

1. A convocação dos reis (com seus exércitos) em Armagedom, quando o rio Eufrates será secado para facilitar o trânsito destes exércitos invasores (Apocalipse 16:12-16).

2. A destruição da Babilônia: As profecias que citaremos a seguir ainda não foram cumpridas, mas muitas interpretações especulativas têm sido feitas quanto à identidade daquela cidade. Como todas as profecias de Deus em Sua Palavra essas devem ser aceitas literalmente. Para seu cumprimento, elas requerem na ocasião do seu cumprimento a existência de uma cidade chamada Babilônia – possivelmente, mas não necessariamente, a reconstrução da antiga cidade deste nome no Iraque. Ela se tornará a capital do mundo liderado pelo anticristo, será destruída neste segundo acontecimento durante a campanha rebelde do mundo contra Deus.

Em contraste com o primeiro acontecimento, que envolve a congregação de inimigos do povo de Deus, aqui um exército de gentios, convertidos a Deus (meus consagrados) é convocado para destruir “toda aquela terra”, a Babilônia (Isaías 13:1-5). Há cinco capítulos na Bíblia para descrever a destruição daquela cidade no “dia do Senhor”: Isaías 13 e14, Jeremias 50 e 51 e Apocalipse 18. Jeremias explica que o anticristo não vai estar presente na cidade por ocasião desta grande invasão e completa destruição (Jeremias 50:43 e 51:31-32). Possivelmente porque estará se preparando para a campanha contra Israel, no vale de Armagedom.

3. A invasão de Jerusalém: Seria natural esperar que o anticristo fosse então sair de Armagedom para o leste em perseguição do exército destruidor da sua capital. Mas não se afastará do seu propósito principal e prosseguirá para o sul, invadindo Jerusalém. A descrição do fato se encontra em Zacarias 12:2-3 e 14:1-2, onde aprendemos que “ajuntar-se-ão contra ela todas as nações da terra” e “eis que vem um dia do Senhor, em que... ajuntarei todas as nações para a peleja contra Jerusalém”. Muitos dos seus habitantes terão escapado, mas dos que ficarem muitos serão mortos ou escravizados.

4. Os exércitos do anticristo em Bozra: Como resultado do colapso do Estado de Israel no meio da tribulação (Mateus 24:15-22 e Apocalipse 12:6-7), e a ameaça dos exércitos invasores, grande parte dos judeus terão fugido para um refúgio num lugar deserto (Apocalipse 12:6,13,14), nas alturas e nas fortalezas das rochas, fácil de defender (Isaías 33:12-16), nos montes (Mateus 24:16).

Miqueias 2:12 sugere o nome do lugar: “certamente congregarei o restante de Israel; pô-lo-ei todos juntos, como ovelhas no curral...”. A palavra traduzida como “curral” aqui é o hebraico bozra, também o nome da capital de Edom, uma cidade de grande antiguidade mesmo quando esta profecia foi escrita (Gênesis 36:33, 1 Crônicas 1:44), e onde o Senhor virá para destruir os inimigos do Seu povo (Isaías 63:1-6).

Atualmente ela se encontra desabitada (Jeremias 49:13) e conhecida pelo seu nome grego Petra é uma atração turística famosa pelos seus prédios e túmulos escavados nas rochas de uma serra montanhosa no deserto ao sul de Jerusalém. Só é acessível através de uma passagem estreita tortuosa, no fundo de um desfiladeiro de quase dois quilômetros de comprimento, portanto facilmente defensível. Mas depois da invasão de Jerusalém os exércitos inimigos seguirão até Bozra a fim de eliminar esses fugitivos.

5. A regeneração nacional de Israel: Há duas condições determinadas por Deus para Sua volta a Israel: sua confissão e arrependimento nacional (Levítico 26:39-42) e o seu clamor pela volta dEle: “voltarei para o meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles aflitos, ansiosamente me buscarão” (Oseias 5:15). Quando o remanescente de Israel, aflito, reconhecer a sua culpa de afastar-se de Deus e rejeitar o Seu Filho, e como nação clamar sinceramente a Deus por misericórdia e salvação, Ele então (e só então) voltará de acordo com essa profecia. Veja também Zacarias 12:8-10 e Mateus 23:37-39.

6. A segunda vinda de Cristo: Mediante o arrependimento e clamor do remanescente de Israel, o Senhor Jesus voltará, não imediatamente para o Monte das Oliveiras, como muitos pensam, mas para Bozra. É descrita em muitos lugares da Bíblia, por exemplo: Salmo 18:8-16, Ezequiel 39:21-29, Habacuque 3:1-19, Mateus 16:27, 24:30, Atos 1:9-11, Judas 14-15, Apocalipse 19:1-16.

Quatro textos indicam claramente Sua volta para Bozra (atualmente Petra), e o quinto pode se referir a ela: Isaías 34:1-7, 63:1-6, Habacuque 3:3 (os montes Temã e Parã estão juntos a Petra), Miqueias 2:12-13, Juízes 5:4-5. Em Zacarias 12:7 lemos: “o Senhor salvará primeiro as tendas de Judá, para que a glória da casa de Davi e a glória dos habitantes de Jerusalém não se engrandeçam sobre Judá”. A palavra “tendas” infere que não estão em casas, mas acampados, e o fato que Ele salvará primeiro os de Judá indica que não voltará primeiro para Jerusalém, mas Bozra. O Senhor destruirá por Si só os exércitos inimigos que lá se encontrarem (Isaías 2:3-6).

7. A batalha de Bozra até o vale de Josafá: A batalha iniciada em Bozra continuará pelo caminho até o muro oriental de Jerusalém, onde terminará com a destruição do restante dos exércitos inimigos. Ali está o vale de Cedrom, também chamado vale de Josafá (Joel 3:12-13). Em Apocalipse 14:19-20 lemos sobre o mesmo “grande lagar da ira de Deus” ao qual Joel se refere em sua profecia. O sangue dos exércitos inimigos correrá por uma distância de mil e seiscentos estádios, aproximadamente a distância que Jerusalém está de Acaba, no Mar Vermelho. Somente depois de finda esta última batalha (distante de Armagedom) é que o Senhor Jesus subirá o Monte das Oliveiras (Zacarias 14:3-4), o Supremo e Único Vencedor dos exércitos que havia no princípio congregado em Armagedom e saído de lá para invadir Jerusalém e perseguir os judeus até Bozra.

Esta não vai ser a derradeira batalha entre as forças do Maligno e o povo de Deus, haverá ainda outra tentativa de rebelião ao fim do Milênio, quando o diabo, depois de solto “sairá a enganar as nações que estão nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, cujo número é como a areia do mar, a fim de ajuntá-las para a batalha. E subiram sobre a largura da terra, e cercaram o arraial dos santos e a cidade querida; mas desceu fogo do céu, e os devorou” (Apocalipse 20:8-10). Só então se dará o julgamento final dos mortos que não tiverem participado da primeira ressurreição (Apocalipse 20:11-15), “e todo aquele que não for achado inscrito no livro da vida, será lançado no lago de fogo” (v. 15).

autor: R David Jones.