A Bíblia, e mesmo o Senhor Jesus, falam muito sobre “amor” e “ódio”. Como explicar estas duas atitudes no mundo em que vivemos?
Para responder a esta pergunta, vou pedir que leiam o Evangelho de João, do capítulo 15:12 ao 16:4.
Nesta passagem o Senhor repetiu o Seu “novo” mandamento aos Seus discípulos: que amassem uns aos outros ou melhor, que continuassem sempre amando uns aos outros, assim como Ele os amou (João 13:34). Todo o crente também é um discípulo Seu e devemos nos amar uns aos outros como Ele nos amou! Não é um amor que vem naturalmente, pois se fosse não haveria necessidade de um mandamento: precisa de esforço, perseverança e vontade de obedecer ao nosso Mestre, e somente pode ser conseguido com o poder do Espírito de Deus.
A obediência ao mandado de Cristo é um requisito prévio ao discipulado e ao serviço: Ele era o Rabino (João 1:38; 13:13) e Senhor (João 13:13) dos Seus discípulos. A vida cristã envolve seguir as instruções de Cristo, a fim de produzir fruto. Ele entregou-Se à morte por nós, provando que é o maior amigo que poderíamos ter. Ele não requer que também nós nos entreguemos todos à morte a fim de provar a nossa amizade por Ele, mas a prova é a obediência que Lhe damos como nosso Senhor, mediante o cumprir dos Seus mandamentos. Abraão foi também chamado um amigo de Deus por causa da sua fé e obediência (Tiago 2:21-23). Há uma intimidade progressiva: servos (João 13:13), amigos (João 15:15) e irmãos (João 20:17).
Somos Seus servos, porque recebemos a Ele como nosso Senhor e Mestre, e Lhe devemos obediência incondicional. Por causa da nossa obediência, Ele nos chama de amigos e, como o Senhor foi buscar Abraão para revelar a ele o Seu plano, porque Abraão era Seu amigo, o Senhor Jesus revelou a nós as coisas de Deus, pois é isso que faz um amigo. Ele nos chama de irmãos porque, num sentido humano, Seu Pai é o nosso Pai (por adoção) e somos co-herdeiros do Seu reino.
Nessa mesma noite, pouco antes de dizer essas coisas aos Seus discípulos, estes tinham se mostrado ciumentos e briguentos (Lucas 22:24; João 13:5,15), por isso Ele repetiu o mandamento que amassem uns aos outros pela terceira vez. Esse deve ser o relacionamento entre crentes.
Quanto ao relacionamento com o mundo, como os discípulos, um crente em Jesus Cristo será odiado (ou não será amado) pelo mundo. A popularidade de um crente, ou sua falta, pode ser uma indicação da maneira em que ele está representando Cristo no mundo. Nenhum crente tem o direito de ser mais popular do que foi o Senhor Jesus, por isso devemos simplesmente transmitir a mensagem do Evangelho e vigiar para não tomar uma posição comprometedora para sermos mais benquistos.
O mundo não vai apreciar um seguidor do Senhor Jesus, e isto não quer dizer agir de forma excêntrica ou super piedosa: a própria existência dos crentes é uma censura ao mundo pecaminoso (João 7:7; 17:14; 1João 3:13). Mesmo em igrejas locais existe gente que realmente não nasceu de novo, e não vai apreciar o pregador se ele é fiel à Palavra de Deus. Tomemos cuidado com os que são bem vistos pelo mundo. O mundo não conhece o Pai, nem quer que seus pecados sejam expostos. O Senhor Jesus revela o mal, como uma luz acendida onde havia escuridão, e o mundo detesta aquele que acende a luz.
O mundo não se opõe tanto à idéia da existência de Deus, um Ser pouco conhecido lá fora. Ele odeia a Cristo, e quando alguém O odeia, odeia também a Deus, o Pai. Se apenas dizemos que cremos em Deus, isso não influirá muito na nossa popularidade, mas a prova real virá com o nosso relacionamento e atitude para com Jesus Cristo e o nosso testemunho a respeito dEle. Ou seja, não podemos ser benquistos e ao mesmo tempo crer no Senhor Jesus Cristo, porque Ele é odiado pelo mundo.
O mundo e o clero (Sinédrio) tinham se unido numa atitude de hostilidade contra Cristo e, na realidade, contra Deus, portanto pecavam porque o Senhor Jesus não só havia vindo e falado com eles, mas também fizera entre eles as obras que ninguém mais podia fazer, provando que Ele era o Messias. O Senhor Jesus identificou essa hostilidade com o cumprimento dos Salmos 35:19 e 69:4 quando disse que eles O odiavam sem causa. Eles O odiavam porque tinham criado em suas mentes um deus falso que não era o Deus das Escrituras. Alguém disse “Deus criou o homem à Sua imagem e agora o homem está criando um deus à sua imagem”. Esse é o tipo de deus que o mundo quer hoje e o tipo de deus que ele acha que está controlando o universo.
O Senhor Jesus se referiu outra vez ao Espírito Santo, que procede dEle e do Pai, como o Auxiliador. Ele é o Espírito da Verdade, e a Sua missão é testemunhar de Cristo como também é a nossa. O Senhor disse aos discípulos que eles deveriam ser testemunhas dEle porque tinham estado com Ele desde o início: esse foi o motivo porque foram chamados por Ele para serem Seus apóstolos, no início do Seu ministério (Lucas 6:13). O Evangelho de João é o testemunho dado por esse apóstolo, e ele só poderia ser dado por alguém, como ele, que tivesse estado com o Senhor Jesus desde o início. O Espírito Santo ainda dá testemunho sobre Cristo, e Ele nos torna o Senhor Jesus real para nós. Uma maneira segura de saber se o Espírito de Deus está trabalhando é verificar se Cristo está sendo glorificado.
O Senhor não queria que os apóstolos se perturbassem com o que ia acontecer com eles. Os fundadores de organizações, especialmente de religiões, procuram apresentar um futuro brilhante para os seus empreendimentos. O método do mundo é exagerar os benefícios e abafar as privações, desvantagens e sacrifícios que virão. Com o nosso Senhor é diferente! Um pouco antes (João 14) Ele havia dito aos Seus discípulos que Ele ia preparar um lugar para eles e que os receberia para Si mesmo, mas agora Ele esclareceu bem que eles seriam condenados ao ostracismo pela sua sociedade - expulsão das sinagogas os tornariam marginais na Judéia. A injustiça de que seriam vítimas seria tal que o povo pensaria que matá-los seria prestar um serviço a Deus! Isso iria acontecer porque os líderes religiosos e os que os acompanhavam não tinham conhecido o Pai nem identificado o Senhor Jesus como sendo o Messias.
Da mesma maneira, se formos segui-Lo devemos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz (não a dEle) de inimizade e perseguição. Se sofrermos com Ele agora, reinaremos com Ele quando Ele estabelecer o Seu reino. Ele disse que os Seus seguidores estariam no mundo, mas não eram do mundo, e que o mundo os odiaria. Ele nunca disse que eles passariam bem, ou que converteriam o mundo.
Muitos procuram popularizar a “religião” cristã, usando toda a espécie de expedientes. Eles dizem: “temos que fazer isto para ganhar o mundo”. Quem lhes disse que iam ganhar o mundo? Se nos mantivermos firmes na Palavra de Deus, vamos descobrir que mundo não nos ama, e vamos passar pelo ódio que Cristo passou. O mundo detesta a Palavra de Deus porque, como nos tempos dos apóstolos, ele não conhece a Deus e rejeita ao Senhor Jesus como Seu Filho.
O Senhor Jesus estava deixando os Seus discípulos saber o que estava para vir e os estava treinando para que estivessem preparados. O Senhor sempre nos treina e prepara para o que está para vir. Se quisermos servir bem, estejamos avisados das aflições que estão por vir e preparados para enfrentá-las.