O amor da espécie divina não se acha na natureza, mas no Calvário. O amor da espécie humana retribui amor, mas o amor divino toma a iniciativa. Deus demonstrou o Seu amor por nós ao morrer Cristo em nosso favor quando ainda éramos pecadores (Rm.5:8), a fim de nos dar vida mediante a Sua morte, e esta é a prova do Seu amor. Esse é o tipo de amor a ser revelado em nós, se formos Seus filhos.
Os crentes devem amar uns aos outros com a mesma espécie de amor com que Deus nos ama: não é atração física, nem amor sentimental ou social. É sobrenatural, tornado real apenas pelo Espírito de Deus, e só Ele nos habilita a estender esse amor aos outros irmãos. Não é a espécie de amor que temos para com amigos com quem gostamos de conviver. Existem alguns irmãos pouco amáveis do ponto de vista humano, mas apesar disso, o amor de Deus em nós nos impelirá a preocuparmos com o seu bem-estar.
Quanto ao pecador perdido, o amor cristão nos conduz a orar para que ele venha ao pleno conhecimento do Evangelho do Senhor Jesus, e levar ou providenciar para que seja levado o Evangelho até ele.
O amor cristão é a imagem refletida do amor de Deus por nós. A perseverança em amar é a prova de que uma pessoa é nascida de Deus e conhece a Deus. Caso contrário, a simples afirmativa de que se ama a Deus, acompanhada da falta de amor para com um irmão, é uma mentira (1Jo.2:9-11). A razão é que o amor procede de Deus.
Quando encontramos uma pessoa que se diz crente, e percebemos que ele nos ama e ama outros crentes, então podemos concluir que ele é um filho de Deus nascido de novo. Por outro lado, uma pessoa que não mostra amor por nós e por outros crentes nunca veio a conhecer o amor de Deus, porque Deus é amor.
O amor de Deus foi manifestado em nós (1Jo.4:9 - não “entre nós” ou “para conosco” como em algumas traduções): porque Ele mandou Seu unigênito Filho, para que pudéssemos viver por meio dele; Jesus Cristo é a vida (Jo.14:6), e Ele vive em nós (Gl.2:20). Esta vida começa quando nós O recebemos como nosso Senhor e Salvador.
A comunhão no sentido de ter algo em comum, participar de uma sociedade ou de um relacionamento mútuo, é descrita da seguinte forma nas Escrituras:·
- COM DEUS - Consiste no conhecimento da Sua vontade (Jó 22:21-26; Jo.17:3); em estar de acordo com os Seus desígnios (Am.3:3); em permanecer em Cristo (Jo.15:4-7); em estar no Espírito (Rm.8:9); na existência de afeição mútua (Rm.8:38,39); no gozo da Sua presença (Sl.4:6); na conformidade com a Sua imagem (1Jo.1:6; 2:6); e na participação com a Sua alegria e a Sua plenitude (1Jo.1:3,4; Ef.3:14-21).
- DOS SANTOS, UNS COM OS OUTROS - Em deveres (Rm.12:5-8; 1Co.12; 1Ts.5:12-22; Rm.10:24; Hb.13:16); em ordenanças e adoração (Sl.55:14, 119:63; Mt.18:20; At.2:46; Hb.10:25); em graça, amor, alegria, etc. (Ml.3:16; Rm.12:15; 2Co.8:4); em interesses mútuos, espirituais e temporais (Rm.12:13; Hb.13:16); em disposição mental e em parecer (1Co.1:10); em sofrimentos e apoio aos fracos (Rm.12:15, 15:1,2; Gl.6:1,2,10; 1Ts.5:11); e na glória (Ap.4:10,11). Viver em comunhão com Deus, Pai e Filho, significa andar na luz da Palavra de Deus (1Jo.1:7). Não é andar “de acordo” com a luz, o importante é onde andamos, não como andamos. Temos que vir à presença de Deus e permitir que a Sua Palavra brilhe sobre nosso caminho. É possível andar na escuridão do pecado, e ainda pensar que estamos bem porque estamos preenchendo nossas obrigações e mandamentos “religiosos” conforme nós os entendemos.
O pecado interrompe a comunhão do crente com o Pai e o Filho: o crente não perde a salvação, mas a sua comunhão só é restabelecida quando o pecado for lavado. É necessário permitir que a luz da Palavra de Deus revele nosso pecado; o arrependimento e a confissão a Deus restaurarão a comunhão.
Ninguém pode ter comunhão com o povo de Deus se não a tiver primeiro com Deus, em Cristo, e para isso é preciso que esteja andando na luz com Deus. Por outro lado, se andamos na luz, temos comunhão uns com os outros: isto significa que nos reunimos uns com os outros e participamos uns com os outros daquilo que é de Cristo. Falamos juntos sobre o Senhor Jesus Cristo e a Sua Palavra. Este é o tipo de comunhão que surge quando ouvimos e cremos no testemunho da Bíblia, e é uma comunhão impossível de ter com os incrédulos. Nossa alegria se torna completa quando temos comunhão uns com os outros, como conseqüência de termos comunhão com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.
A terceira carta de João contrasta duas atitudes opostas com relação aos “estrangeiros”, ou seja, os crentes que vinham de outra localidade: a hospitalidade e a presunção. A pessoa a quem foi dirigida a carta, Gaio, fielmente praticava o amor para com os irmãos, mesmo quando eram de fora, acolhendo-os e suprindo as suas necessidades, tinha comunhão com eles. Em contraste, um certo Diótrefes exercia a primazia sobre a igreja local, como alguns mesmo hoje, exigia que tudo fosse feito como ele queria e não admitia nada do que não gostasse.
A opinião de Diótrefes era sempre certa no seu pensar, não agüentava oposição, nem conhecia mansidão ou modéstia. Era tão presunçoso que não dava acolhida ao próprio apóstolo João, falando maliciosamente contra ele, recusava acolher os que vinham de fora, impedia os que queriam recebê-los e os expulsava da igreja. João o coloca entre os que jamais viram a Deus, pois praticava o mal ao não estender a comunhão aos crentes de fora.
O amor e a comunhão deveriam ser as características principais das reuniões da igreja, prevalecendo sempre sobre algumas formas de legalismo que são nelas introduzidas e ali permanecem como se fossem mandamentos divinos. Sem dúvida a reunião que se faz mais restrita por causa dessa interferência é aquela em que se celebra a Ceia do Senhor.
Essa reunião deveria estar aberta para a plena direção do Espírito Santo sobre os crentes ali presentes, obedientes às instruções dadas em Sua Palavra apenas (1Co.14:26-40, etc.). Cada participante deve examinar a si mesmo, antes de participar dos elementos (1Co.11:28). Vemos, no entanto, várias restrições sendo impostas pelos que estão na direção da igreja, agindo como pequenos Diótrefes da localidade. Eles darão contas do seu procedimento a Deus.
Embora todos os discípulos de Cristo sejam convidados para participar da sua Ceia, usualmente outras pessoas, que ainda não O confessaram como Senhor e nem foram batizadas em Seu nome, também estão presentes como visitantes. Não é deles ainda o privilégio de participar da adoração ou dos elementos, mas a morte do Senhor é anunciada a eles dessa forma, sendo integrante da mensagem do Evangelho. Embora não tendo comunhão, devemos estender a eles o nosso amor cristão a fim de que cheguem ao pleno conhecimento da Verdade e se convertam.
Por vezes é inevitável que esses que costumeiramente estão presentes à Ceia participem dos cânticos, até mesmo pedindo que seja entoado um determinado hino, apesar de não orarem audivelmente nem participarem dos símbolos. Quando isso ocorre, caberá à liderança local tomar a decisão que convém para que não haja suscetibilidades entre os participantes da Ceia que possam afetar a boa comunhão exigida para essa tão importante reunião, pois isso poderá gerar descortesia por parte de alguns membros para com essas pessoas que, como já dissemos, será uma demonstração de falta de amor cristão. A omissão por parte da liderança será a pior das decisões, tendo em vista que a falta de amor ou a quebra da comunhão na Ceia do Senhor são coisas intoleráveis.