O último livro do Velho Testamento é chamado Malaquias, palavra hebraica que no original se traduz “Meu Mensageiro”, e foi escrito por um profeta uns quinhentos anos antes de Cristo.
Nada mais se sabe sobre o autor, mas existem nada menos que seis referências a esse livro no Novo Testamento, cinco das quais feitas pelo Senhor Jesus, embora o nome não seja mencionado (Mateus 11:10, 17:12; Marcos 1:2, 9:11-12; Lucas 1:17; Romanos 9:13).
Tem a distinção de ser a última oportunidade em que o Senhor apela ao povo de Israel para que se volte para Ele, deixando os seus maus caminhos, purificando-se do pecado e adorando-O em sinceridade de coração. O retrato do povo escolhido de Deus naquele tempo é triste, indicando que havia necessidade de grandes reformas para preparar o caminho para a chegada do Messias.
Não houve mais profetas até João Batista, que surgiu pelo menos quatro séculos depois.
A profecia consiste em uma série de perguntas da parte do povo, e respostas dadas pelo Senhor, aqui chamado o Senhor dos Exércitos. Neste artigo vamos focalizar em uma só:
“Enfadais o Senhor com vossas palavras; e ainda dizeis: Em que o enfadamos?”
E na resposta:
“Nisto, que pensais: Qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada; ou: Onde está o Deus do juízo?” (Malaquias 2:17).
Esta tradução sugere que se tratava de pensamentos que levavam a atitudes, mas é ainda mais do que isto: esses pensamentos também eram expressos em palavras, contaminando outros. O Senhor se enfada com isso, em outras palavras, não era novidade para Ele, pois esses pensamentos sempre existiram e existirão na mente daqueles que não temem a Deus, e Deus Se cansa de explicar a Sua justiça aos homens.
O primeiro pensamento é que “qualquer que faz o mal passa por bom aos olhos do Senhor, e desses é que ele se agrada“. Será que eles realmente acreditavam nisso, ou apenas o diziam sarcasticamente?
Seja como for, estavam difamando o caráter de Deus. No princípio Ele dissera a Caim “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá-lo” (Gênesis 4:7).
Quando Deus preparou o povo de Israel para Si, Ele lhe deu a Sua lei para que o povo pudesse eliminar o mal do seu meio, com sanções aos infratores e sacrifícios pelo pecado. Moisés declarou ao povo de Israel: “Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal; se guardares o mandamento...” (Deuteronômio 30:15). O bem está identificado com vida, assim como o mal com morte, como também lemos em Provérbios 11:19... “Tão certo como a justiça conduz para a vida, assim o que segue o mal, para a sua morte o faz”.
Em seu empenho de encher os bancos dos seus templos, muitos hoje estão pregando um Deus de amor apenas, não levando em conta que Ele também é um Deus de justiça e retidão. João 3:16 nos ensina que “Deus amou ao mundo“, e realmente o Seu amor à Sua criação foi imenso, mas certamente não amou o pecado que a envolvia. A fim de redimi-la Ele “deu o seu Filho unigênito” para morrer “para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.
Quem crê em Jesus Cristo e O recebe como seu Senhor e Salvador tem a vida eterna: gozará da comunhão com Deus por toda a eternidade, que lhe é oferecida gratuitamente e nunca lhe será tirada. Os que O rejeitam “perecerão”, como uma fruta apodrecida perde a sua utilidade e é lançada no lixo: é a morte eterna, pois estarão cônscios da sua existência, longe da presença de Deus, para sempre. Deus certamente não se agrada destes.
O segundo pensamento está expresso na pergunta: “Onde está o Deus do juízo?”
É uma pergunta que vem através dos tempos, muitas vezes mediante a forma de um desafio. Homens maus alcançam prosperidade e parecem não ter tantos problemas ou conflitos como aqueles que procuram servir a Deus.
Quando se põe dúvida na justiça de Deus, os padrões de moralidade rapidamente caem para um nível de “nova moralidade”. “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal” (Eclesiastes 8:11). Parece que o mal paga bem.
A maioria considera que, se não for apanhado, o crime compensa e cada um procura escapar com o mais que puder. Vemos isso nos governos, nas grandes empresas, haja vista os escândalos recentes. É a atitude da sociedade em geral. O homem honesto é pisoteado e ninguém se incomoda com isso.
O salmista Asafe diz no Salmo 73, “eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos. Para eles não há preocupações, o seu corpo é sadio e nédio. Não partilham das canseiras dos mortais, nem são afligidos como os outros homens. Daí, a soberba que os cinge como um colar, e a violência que os envolve como manto… e o seu povo se volta para eles e os tem por fonte de que bebe a largos sorvos. E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?”
Asafe teve a resposta quando entrou no santuário de Deus e atinou com o fim deles. O juízo de Deus é inevitável, mas “Ele é longânimo para convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento” (2 Pedro 3:9). Deus dá oportunidade para o arrependimento, conversão e uma vida nova em comunhão com Ele.
O tempo vai passando e cada um de nós chegará um dia à eternidade – esse é o “fim” de cada um de nós e vai durar para sempre. Os ímpios podem construir hoje uma “nova moralidade” e acumular quanta riqueza puderem, mas todos terão que deixar tudo e enfrentar o Juiz amanhã.
Tomemos cuidado para não nos colocarmos como juízes com respeito à aparente falta de intervenção de Deus em nossa sociedade contemporânea. Qualquer pessoa que conheça a Palavra de Deus sabe que é um pecador e que existe um Deus de justiça. O Seu juízo não vem imediatamente, mas é certo e infalível. Todos passarão por ele a não ser aqueles que tiverem sido justificados pela graça mediante a fé em Cristo Jesus.