Já há muito tempo que o fato da inerrância da Bíblia tem sido posto em dúvida, não só por descrentes, levados pela sua ignorância e falta de fé no Evangelho, mas também por gente que se diz cristã, no entanto não leva a sério a afirmativa que toda a Bíblia é a palavra infalível de Deus e assim deve ser aceita sem questionamento.
Assim, a inerrância absoluta de todo o teor bíblico está começando a ser posta em dúvida em alguns institutos teológicos, em púlpitos de igrejas, em livros didáticos, em grupos de estudos etc. Ainda usam o termo “inerrância”, mas redefinem o seu significado. Muito disso se deve ao desejo de conformar o relato bíblico com conceitos da ciência humana atual.
Por causa do elemento humano das Escrituras, querem agora definir a inerrância bíblica mais ou menos como: "Deus inspirou os autores bíblicos com os conceitos, mas não se preocupou com detalhes periféricos. Ele apenas queria ter certeza de que os conceitos e o ensino fossem preservados sem erro". O resultado dessa definição é a crença que a autoridade da Bíblia não é encontrada em Suas palavras, mas apenas através da Sua intenção.
No entanto, a chave para entender a natureza das Escrituras é atentar para o que o Senhor Jesus declarava sobre elas. Se adotarmos uma posição diferente da d’Ele, teremos uma posição errada. A ideia de que apenas a intenção ou os conceitos dos autores das Escrituras são inerrantes, e não as palavras das próprias Escrituras, é contrária ao ensino do Senhor e dos apóstolos.
A visão das Escrituras pelo Senhor Jesus e Seus apóstolos.
O Senhor Jesus claramente sabia que as Escrituras eram a Palavra de Deus e, portanto, a verdade. Note o que Ele diz em João 17:17... "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade". Ele não disse: "Sua palavra é verdadeira" (adjetivo); em vez disso, ele falou: "a tua palavra é a verdade” (substantivo). A implicação é que as Escrituras não são apenas verdadeiras; em vez disso, a própria natureza das Escrituras é a verdade, e é o próprio padrão da verdade ao qual todo o resto deve ser testado e comparado. Da mesma forma, em João 10:35 Jesus declarou que "a Escritura não pode ser anulada".
O Senhor Jesus estava dizendo aos líderes judeus que a autoridade das Escrituras não poderia ser negada. Ele até conectou a autoria do Deus da Bíblia com palavras específicas, não apenas com ideias ou conceitos, pelos quais precisamos viver: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mateus 4:4). Para o Senhor, as Escrituras não foram meramente inspiradas em suas ideias gerais ou em suas amplas reivindicações ou em seu significado geral, mas até suas próprias palavras são inspiradas (Mateus 5:18).
O uso das Escrituras pelo Senhor Jesus era autoritário e infalível enquanto falava com a autoridade de Deus, o Pai (João 5:30, 8:28). O Senhor Jesus ensinou que as Escrituras testemunham sobre Ele (João 5:39), e mostrou sua realização na visão do povo de Israel (Lucas 4:17-21). Ele até declarou aos Seus discípulos que será cumprido o que está escrito nos profetas sobre o Filho do Homem (Lucas 18:31). Além disso, Ele colocou a importância da realização das escrituras proféticas acima da fuga de Sua própria morte (Mateus 26:53-56).
Após Sua morte e ressurreição, Ele disse a Seus discípulos que tudo o que foi escrito sobre Ele nos livros de Moisés, dos Profetas e dos Salmos devia ser cumprido (Lucas 24:44-47), e os repreendeu por não acreditarem em tudo o que os profetas falaram sobre Ele (Lucas 24:25-27). A pergunta então é: como poderia o Senhor Jesus cumprir tudo o que o Velho Testamento falou sobre Ele se são apenas os conceitos e não as palavras que são inspiradas?
O entendimento dos apóstolos sobre a inspiração das Escrituras é que a revelação vem de Deus dentro e através das palavras. De acordo com 2 Timóteo 3:16,17... "toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra”. As Escrituras são inspiradas por Deus (“teopastos”). Esta passagem em 2 Timóteo 3:16 não é sobre como a Bíblia veio até nós, mas de onde ela veio.
Como afirma 2 Pedro 1:21... “a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo". O Espírito Santo inspirou os autores humanos das Escrituras de tal forma que foram movidos não por sua própria "vontade", mas pelo Espírito Santo. Isso não significa que os autores humanos das Escrituras eram autômatos; eles eram ativos ao invés de passivos no processo de escrita das Escrituras, como pode ser visto em seu estilo de escrita e no vocabulário que usaram. O papel do Espírito Santo era ensinar os autores das Escrituras (João 14:26, 16:12-15). No Novo Testamento, foram os apóstolos ou profetas do Novo Testamento que o Espírito levou a escrever a verdade e superar sua tendência humana de errar.
Os apóstolos compartilharam a visão do Senhor Jesus sobre as Escrituras, apresentando Sua mensagem como Palavra de Deus (1 Tessalonicenses 2:13) e proclamando que não era "em palavras que a sabedoria do homem ensina, mas a que o Espírito Santo ensina" (1 Coríntios 2:13). A revelação então não surgiu dentro do apóstolo ou profeta, mas tem sua fonte no Deus Triuno.
As pessoas dentro de nossas igrejas precisam saber que há estudiosos evangélicos influentes que estão usando ideologias históricas críticas para redefinir a natureza das Escrituras. A doutrina da inerrância não é uma questão lateral; trata-se da confiabilidade das Escrituras que reflete sobre o caráter de Deus, uma vez que Ele é responsável pelo conteúdo das Escrituras (2 Timóteo 3:16; cf. Números 23:19; Salmo 12:6; Hebreus 1:1-2).