Tendo enviado Seus apóstolos para anunciar as boas novas do Reino aos judeus, o Senhor Jesus voltou a ensinar e pregar nas cidades da Galileia. João Batista estava encarcerado, e mandou alguns dos seus discípulos para perguntarem ao Senhor se Ele era de fato Aquele que havia de vir (o Messias), ou se esperavam outro.
À primeira vista, parece que João Batista estaria começando a ficar desanimado, e já duvidava da identidade do Senhor Jesus, apesar da clara identificação feita por ocasião do batismo. Por outro lado, existe a possibilidade que ele quis que eles obtivessem a confirmação direta do Messias para benefício deles próprios. É de se notar a maneira sigilosa em que foi fraseada a pergunta.
A resposta do Senhor também não foi direta, mas ordenou que eles fossem contar a João os sinais que Ele fazia, em cumprimento às profecias que identificavam o Messias que havia de vir (Isaías 35:5,6, 53:4 e 61:1). A ressurreição dos mortos não é citada nessas profecias, e consiste num sinal ainda mais evidente do Seu poder.
Em seguida, enquanto eles saíam, Ele declarou a grandeza da missão desenvolvida por João Batista, que era a de preparar o povo para a Sua vinda (cumprindo a profecia de Malaquias 3:1). Entre os homens nunca houvera alguém maior que João Batista, que era ainda mais do que profeta.
Todavia, o menor no Reino dos céus é ainda maior do que ele! Esta é uma declaração surpreendente. O Senhor Jesus não estava falando do caráter de João Batista, mas da missão que lhe fora dada. Ser um cidadão do Reino dos céus é um privilégio maior do que o de ser quem anuncia a chegada do Messias. João não viveu para apreciar as bênçãos de que gozam os crentes aqui na terra, pois foi morto por Herodes enquanto ainda estava na prisão.
O significado da expressão feita a seguir: "E, desde os dias de João Batista até agora, se faz violência ao Reino dos céus, e pela força se apoderam dele" (v.12) não é bem claro: quem se apoderava do Reino pela força desde João Batista? No original, o verbo "se faz violência" pode estar tanto no presente como no passado, e os sentidos são diferentes. No passado a ideia é que o Reino é tomado violentamente, como uma cidade conquistada. No presente, o significado pode ser "passa por violência" ou "força a sua passagem". De maneira geral entende-se que a pregação de João Batista fez com que surgisse uma pressão violenta e impetuosa ao redor do Senhor Jesus e dos Seus discípulos. Este é o sentido em Lucas 16:16... "e todos tentam forçar sua entrada nele (no Reino de Deus)".
Todo o Velho Testamento, com suas profecias, previa a vinda do Messias. João Batista veio para anunciar o cumprimento dessa previsão. Na profecia de Malaquias, está anunciado que Elias viria como precursor (Malaquias 4:5). Se o povo tivesse aceitado o Senhor Jesus como o Messias, João Batista teria assumido o papel de Elias, e o Messias teria livrado o povo para fazer dele uma poderosa nação, como o povo estava esperando. João não era Elias, como ele próprio disse (João 1:21), mas "foi adiante do Senhor no espírito e poder de Elias" (Lucas 1:17).
Nem todos compreendiam essa realidade, e é por isso que o Senhor diz "Aquele que tem ouvidos, ouça!" Era necessário prestar muita atenção a essa revelação: sendo João Batista o precursor, o Senhor Jesus era de fato o Messias de Deus, e o povo devia aceitá-lo e obedecê-lo. Mas aquele povo não estava disposto a ouvir o testemunho de João Batista, nem se convencia com as provas irrefutáveis dadas pelo Senhor Jesus. Era um povo rebelde, que o Senhor Jesus comparou com crianças que se recusam a ficar alegres com o som da flauta, ou tristes com o canto de um lamento: diziam que João tinha demônio por causa da sua austeridade e solidão, e que o Senhor era devasso porque se alimentava normalmente e era muito sociável.
O Senhor Jesus era a sabedoria personificada (1 Coríntios 1:30). Tudo o que Ele fazia estava em conformidade com Quem Ele era, a despeito das blasfêmias e insinuações maldosas que vinham do povo. Os sinais que Ele fazia, e a transformação no caráter daqueles que O seguiam eram provas incontestáveis da Sua personalidade divina.
As cidades da Galileia foram muito privilegiadas com a presença do Senhor, e o privilégio lhes trouxe responsabilidade pelo tratamento que lhe davam. O Senhor Jesus as acusou de não se terem arrependido, apesar de todos os sinais que havia feito entre elas. Por isso Corazim e Betsaida onde ele fora rejeitado serão tratadas com mais rigor no dia do juízo do que as cidades de Tiro e Sidom, condenadas por Deus por causa da sua idolatria e maldade: estas teriam se arrependido se os milagres realizados nas primeiras tivessem sido realizados nelas. Também haverá menos rigor para Sodoma do que para Cafarnaum: esta pensava que ia para o céu, mas vai descer até o Hades, enquanto Sodoma não teria sido destruída se os sinais feitos em Cafarnaum tivessem sido feitos nela.
Além destas cidades, havia outra cidade de projeção na Galileia: Tiberíades. Depois de todos estes séculos, as cidades de Corazim e Betsaida desapareceram sem deixar vestígios, e a localização exata da cidade de Cafarnaum não é mais conhecida. Mas Tiberíades ainda está em seu lugar, pois o Senhor não disse nada contra ela. Essa é mais uma prova da onisciência de Cristo, e da inspiração da Bíblia. O Senhor Jesus sabia que a rejeição por parte dessas cidades era uma indicação da rejeição que viria da nação inteira, representada pelo seu governo religioso e civil. Mas ser rejeitado pelos "sábios e cultos" não era surpresa para Ele, portanto não ficou desanimado ou enfurecido. Ele sabia que seria recebido através dos tempos por multidões de "pequeninos" humildes e dispostos a tê-Lo como Senhor das suas vidas. Por isto Ele louvou a Deus.
Os que são orgulhosos da sua posição e conhecimento, mas que rejeitam o Evangelho de Cristo, não vão encontrar a verdadeira sabedoria e conhecimento que vem de Deus, pois Deus os esconderá deles. Mas Deus os revela aos pequeninos, os de coração humilde, que desejam aprender com Ele. O relacionamento existente entre o Pai e o Filho está além da nossa compreensão humana, mas o Senhor Jesus aqui diz que "ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho O quiser revelar." Somente o Filho pode nos revelar o Pai.
O Senhor Jesus finalmente faz um convite a "todos os que estão cansados e sobrecarregados". No ambiente em que se encontrava, da subjugação do povo pelos sacerdotes e juristas da lei mosaica, este era um convite à libertação do pesado fardo moral e religioso que carregavam. Em termos mais amplos, o convite é feito a todos os que se acham debaixo do jugo dos inimigos do homem: a carne, o mundo e o diabo. O Senhor Jesus, e só Ele, Se dispõe a dar descanso para as suas almas, e a dar o ensino de que todos precisam. Ele é manso e humilde de coração, ao contrário dos rabinos daquela época, e dos falsos sacerdotes e mestres de religião dos nossos dias. O Seu jugo é suave e o seu fardo é leve. Note-se que existe um jugo e um fardo.
Jugo é um instrumento para juntar dois animais em seu trabalho. É aqui usado como figura da vida em Cristo: Ele se oferece a acompanhar-nos em nossa vida, ajudando-nos a passar por todas as experiências que defrontamos, tornando nossa experiência suave. Existem problemas, tribulações, trabalhos e tristezas na vida cristã, mas com Cristo eles serão vencidos muito mais facilmente.
O fardo consiste nas obrigações a cumprir. Muitos não querem receber a Cristo como seu Senhor e Salvador porque preferem continuar em seus vícios e maus costumes. Mas desejaremos viver uma vida de retidão alegremente quando realmente amarmos ao Senhor e veremos então como seu fardo é mesmo leve.