O tribunal de Cristo
... Todos compareceremos perante o tribunal de Deus ... cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus... (Romanos 14:10,12, 2 Coríntios 5:10).
Presidido pelo Senhor Jesus Cristo, os réus neste julgamento serão todos os que tiverem sido salvos mediante a sua fé na obra remidora do Senhor Jesus, desde o início da formação Sua igreja (no dia de Pentecostes após a Sua própria ressurreição) até o arrebatamento da igreja, Sua noiva e Seu rebanho: os vivos e os mortos ressuscitados, inclusive os próprios apóstolos. Este julgamento terá como base o bem ou o mal que tiverem feito por meio do corpo (2 Coríntios 5:10). Esta é a chamada “Primeira Ressurreição”, limitada à do Senhor Jesus e Sua igreja.
Não é o pecado do crente que vai ser julgado, pois seu julgamento e seu castigo foram cumpridos de uma só vez por todas na cruz de Cristo: já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Romanos 8:1). O objetivo do julgamento é verificar a recompensa que cabe a cada um em função da sua atuação aqui no mundo, levando em consideração os seguintes aspectos:
- Doutrina: de acordo com o seu conhecimento da vontade de Deus, expressa em sua Palavra (em consonância com o princípio mencionado em Lucas 12:48).
- Conduta social: o que fez ou deixou de fazer ao seu próximo (por exemplo, Lucas 14:13-14, Efésios 6:7-8, Colossenses 3:25).
- Pureza de vida: a medida em que as virtudes do Espírito foram cultivadas (Romanos 14:17-21), e os desejos da carne foram mortificadas (Gálatas 6:8).
Temos a ilustração dada em 1 Coríntios 3:10-15, de uma construção em que cada crente tem uma contribuição a fazer. A pedra fundamental foi colocada por Cristo, os alicerces foram fixados pelos apóstolos, e cada crente constrói sobre eles coisas de valor, maior ou menor, ou sem valor algum. O seu valor é provado pelo fogo, símbolo deste julgamento. O versículo 15 deixa bem claro que, por pior que seja a avaliação do que o crente fez com a sua vida, ele não perderá a sua salvação.
A qualidade é mais importante do que a quantidade: nosso tempo e esforço pouco valem se não forem dedicados àquilo que é precioso para o Senhor, por exemplo, sacrificando nosso corpo para o Seu uso, usando nossos talentos para a glória de Deus, comportando-nos sempre em obediência à Sua Palavra. Aqueles que dedicam todo o seu tempo trabalhando apenas para seu próprio benefício, por exemplo, vão descobrir que todo aquele esforço terá sido inútil e que vão sofrer perda, pois não lhes trará galardão. O Senhor Jesus contou a parábola das dez minas para ilustrar esta verdade (Lucas 19:11-26).
Quanto à natureza da recompensa, corremos uma carreira espiritual a fim de obter uma coroa incorruptível (1 Coríntios 9:24-25): esta é uma tradução da palavra grega stephanos, uma coroa que era dada ao vencedor, àquele que venceu a corrida. Naqueles dias, esta coroa, geralmente feita de galhos e folhas de louros, uma planta, assegurava honra e louvor à pessoa que a usava; mas murchava e secava em pouco tempo. Os que são vitoriosos na vida cristã, controlando seus corpos e suas mentes, andando no Espírito e não na carne, vivendo de acordo com a Palavra de Deus, são candidatos a uma coroa de vencedor semelhante, mas incorruptível, permanente. Na parábola das dez minas, o homem nobre (figura do próprio Senhor Jesus), ao voltar como rei, retribuiu aos seus servos (figura dos crentes) com autoridade sobre o seu reino na medida da sua fidelidade; temos a promessa de que vamos reinar com Ele quando vier assumir o seu reino na terra (2 Timóteo 2:12, Apocalipse 5:10): então receberemos autoridade como prêmio pela nossa fidelidade aqui agora.
Outras coroas são mencionadas na Bíblia: a coroa da justiça para quem guarda a fé e ama a vinda do Senhor (2 Timóteo 4:7-8); a coroa da vida a quem suporta tribulações e sofre martírio (Tiago 1:12, Apocalipse 2:10); a coroa da glória para os líderes fiéis que ministram ao rebanho (1 Pedro 5:2-4); para o apóstolo Paulo, Silvano e Timóteo, a igreja dos tessalonicenses era sua esperança, ou alegria, ou coroa em que exultavam, na presença do Senhor Jesus em Sua segunda vinda (1 Tessalonicenses 2:19).
As bodas do Cordeiro
As bodas do Cordeiro com sua noiva - a igreja arrebatada - estão prenunciadas no Velho Testamento no episódio em que Abraão, desejando uma esposa para seu filho Isaque, envia seu servo a uma terra distante para achar uma noiva que tenha os requisitos desejados; tendo encontrado a pessoa certa, Rebeca, o servo a traz de volta para o casamento com Isaque.
Os Cantares de Salomão consistem num poema ilustrando o desejo da igreja de estar com Cristo, durante a Sua ausência: a igreja está como que cativa neste mundo e está sendo tentada, mediante riquezas e esplendor, a retirar o seu amor de Cristo, seu Pastor e noivo, para conviver com os reis e governos do mundo, como faz sua irmã a igreja meretriz. Mas ela não consegue deixá-lo: às vezes ela se sente muito tentada, mas logo O vê com os olhos da fé, e sonha com Ele como se estivesse presente espiritualmente; ela se encanta com a visão da Sua beleza, e almeja que chegue o dia quando ela será arrebatada da terra para encontrar o seu Noivo no ar.
O Senhor Jesus frequentemente tocou no tema das bodas do Cordeiro. Esse tema se encontra mencionado profeticamente na parábola das dez virgens (Mateus 25:1-13) e na parábola das bodas (Mateus 22:1-14). Notemos que a ênfase é sobre o Noivo, não sua noiva, a igreja: o maravilhoso acontecimento não consistirá tanto na realização das esperanças da noiva, quanto na realização do desígnio de Deus para o seu Filho, planejado para Ele antes da fundação do mundo (Efésios 1:4-6). O casamento satisfará seu gozo como Filho do Homem, pois somente em sua humanidade poderá ele se unir em matrimônio com os seres humanos que compõem a igreja de Deus (ele levou sua natureza humana para o céu - 1 Timóteo 2:5).
Um casamento judeu, na época em que o Novo Testamento foi escrito, começava com as providências feitas pelo pai do noivo, procurando a noiva e pagando o preço pedido por ela. Isto podia ser feito quando o noivo era ainda criança ou depois, a qualquer tempo até a sua maturidade. O noivo e sua noiva talvez nunca se encontrassem até o dia do casamento - como acontece ainda hoje em algumas culturas orientais. Pouco antes do casamento, o noivo ia até à casa da noiva para buscá-la e levá-la para sua própria casa, e logo depois vinha a cerimônia do casamento, à qual alguns parentes e amigos íntimos eram convidados. A seguir vinha a festa das bodas, que chegava a durar uma semana, e da qual participava um número muito maior de pessoas, vizinhos, amigos e conhecidos.
Este procedimento é o modelo para a ordem dos acontecimentos que levam às bodas do Cordeiro: Deus o Pai tomou as providências e pagou o preço da noiva, o sangue do Seu Filho (Efésios 5:25-27). Desde então houve um grande intervalo (em termos humanos) de quase dois mil anos até agora, em que a noiva esteve crescendo até atingir a maturidade (Atos 15:14, Romanos 11:25), debaixo do poder e direção do Espírito Santo através da Sua Palavra. Não demorará muito agora até que o Noivo, o Filho de Deus, venha buscá-la (1 Tessalonicenses 4:13-18) para levá-la ao Seu lar, que é o Céu.
Ali, depois de ter distribuído as recompensas no Tribunal de Cristo como acabamos de ver, a Noiva é vista vestida de linho finíssimo, resplandecente e puro (os atos de justiça dos santos - Apocalipse 19:8), portanto as obras inúteis terão sido "queimadas" e as obras aproveitáveis "purificadas" pelo "fogo" do julgamento.
A cerimônia das Bodas terá lugar antes da segunda vinda de Cristo ao mundo, para julgá-lo. A Noiva, parece-nos claro, consiste apenas dos santos da igreja. Os santos do Velho Testamento e os da Tribulação estarão presentes na festa, chamada ceia das Bodas (Apocalipse 19:9): eles são bem-aventurados porque foram chamados a estar presentes nesta última fase do casamento, tendo participado da primeira ressurreição, que é a dos justos (Apocalipse 20:4,5).
A festa das bodas do Cordeiro terá lugar na terra, no início do reino milenar de Cristo.